Até início de setembro
perante a documentação histórica conhecida, tínhamos apenas a Linha de Bondes
Ferro Carril Guararense, inaugurada em 1899 e desativada em 1923 como único
meio de transporte do gênero na região.
A realidade até então
conhecida mudou drasticamente em poucos dias. Com base em novos documentos que foram
encontrados nos arquivos antigos da Prefeitura de Guarará, veio à tona a
existência de outra linha de bondes mais antiga ligando a Praça do Divino, em
Guarará, a plataforma da Estação da Leopoldina, no Distrito de Bicas. Os
primeiros registros descobertos eram referentes ao ano de 1891. Tais papéis
eram relativos a guias de arrecadação e licenças para construção de imóveis nas
laterais de onde passava os trilhos dos bondes, na localidade conhecida como
Chácara.
Como no decorrer da história
felizmente nada que foi documentado fica escondido eternamente, bastaram
algumas pesquisas nos ofícios e requerimentos de 1892 para corroborar os
achados de 1891. Novos pedidos de construções nas margens dos leitos da linha
de bondes vieram a comprovar mais uma vez a existência deste meio de transporte
entre as duas localidades antes da instalação da Estrada de Ferro ligando
Guarará e Bicas. Ressaltamos que as primeiras deliberações em prol da Estrada
de Ferro iniciaram-se ainda no primeiro semestre de 1893.
Com mais algumas semanas
revirando papéis e arquivos digitais oriundos do Espaço Cultural Falabella de
Mar de Espanha, que faz um excelente trabalho de preservação da memória local e
regional, conseguimos identificar um contrato de construção da futura linha de
bondes. O acordo foi assinado em 04/05/1889 e está registrado no livro nº 50 de
Notas e Escrituras do Distrito do Espírito Santo.
A empresa chamava-se
Companhia de Bondes Ferro Carril Espírito Santense. Seu presidente era
Francisco Joaquim da Silva Noronha (Comendador Noronha) e os demais membros,
José Pinto Soares e Adolpho Alvares de Oliveira. O responsável pela preparação
do terreno para assentamento dos trilhos foi João Leite Guimarães que seguiria
as orientações do engenheiro responsável pelo projeto. O prazo de conclusão era
previsto ser dois meses. Embora não tenhamos localizado outros papéis relativos
à sua implantação, acredita-se que tenha iniciado a operação ainda em 1889.
É provável que a Companhia
de Bondes Ferro Carril Espírito Santense tenha funcionado até início de 1893.
Informações sobre sua extinção ainda não foram localizadas no acervo pesquisado
e esperamos obter novos achados com o tempo. A Resolução nº 04 de 15/06/1893
assinada pelo Agente Executivo, Dr. Antero Dutra de Moraes, traça as primeiras
iniciativas para a construção da linha férrea ligando a Vila do Guarará ao
Distrito de São José de Bicas. O conteúdo dessa resolução leva a supor que a
Linha de Bondes já estava paralisada na ocasião.
Analisando os primeiros
passos da implantação da Estrada de Ferro Guararense, é aceitável que a mesma possa
ter sido projetada com base em parte da estrutura da extinta Linha de Bondes,
onde se aproveitou a bitola estreita. Essa suposta reciclagem iria comprometer
o desempenho da pequena ferrovia, pois não seria possível usar locomotiva potente
e vagões maiores numa topografia íngreme sentido Bicas. Sendo assim, pouco
tempo depois por força do destino o trecho voltaria a abrigar novamente outra Linha
de Bondes, dessa vez a Ferro Carril Guararense que funcionou até 1923.
Com base nas novas
documentações tivemos 02 Linhas de Bondes operando entre Guarará e Bicas: a Companhia
de Bondes Ferro Carril Espírito Santense e a Ferro Carril
Guararense. Vamos aguardar para ver se surgem novas informações quanto à existência
delas ou quem sabe novos fatos históricos relevante ainda desconhecido.
Abaixo segue o contrato de construção da 1ª Linha de Bondes entre Guarará e Bicas.
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