Páginas

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Jornal do Poste

 

Um dos últimos jornais impressos e com bom conteúdo a circular pela cidade de Guarará. Sua edição inicial foi escrita em dezembro de 1987 e seu encerramento ocorreu em maio de 2001.

Era um pequeno periódico do tamanho de uma folha A5 editado e escrito apenas de um lado, inicialmente de próprio punho e depois numa máquina de escrever. Após a produção dos primeiros exemplares e conferência pelo autor, era feita a cópia da edição que seria afixada pelos postes da cidade, daí o nome Jornal do Poste. A edição era mensal. Havia uma pessoa responsável pela afixação dos exemplares com cola nos principais postes de cada rua de Guarará.

Trazia uma abordagem simples com assuntos variados e fáceis de serem assimilados pelo leitor. Os poemas e trovas eram bem elaborados e com uma linguagem sútil e romantizada que levava o leitor mais atento para dentro do fato narrado. Como todo pequeno jornal do interior, não deixava de dar puxões de orelha com descrição e estilo em certas circunstâncias.

Nas datas festivas, havia mensagens e reflexões bem produzidas pelo seu redator-chefe para aquele momento. As festividades religiosas do Divino Espírito Santo e Semana Santa recebiam destaque nas publicações. Em todas as edições, buscou valorizar e incentivar o comércio local.

Era um jornal respeitado e admirado em Guarará e região. Exemplares eram enviados para diversas cidades de Minas Gerais e do país. Muitas pessoas ainda têm guardado na gaveta edições do saudoso periódico como lembrança de época.

Seu escritor era o saudoso Dr. Olivan Abrahim (1924-2020), filho de Iássara e Sayd Abrahim, descendentes de libaneses, que chegaram à nossa cidade no início do século XX e aqui se estabeleceram. Seus pais construíram uma numerosa e benquista descendência ao longo dos tempos, estabelecendo fortes raízes em nossa cidade até o momento atual. Foi casado com a Sra. Rosália Abrantes da Cunha Abrahim. O Sr. Olivan deixou um legado expressivo através do Jornal do Poste e de sua vida social e religiosa em Guarará e Bicas.

A cessão das publicações deixou saudade e boas recordações junto aos seus leitores até hoje. O pequeno jornal foi marcante em sua época. É lamentável que os bons jornais tenham perdido valor e espaço desde o início do século XXI para o mundo virtual, que veio com novos valores e prioridades.

Imagem 01: 1º exemplar do Jornal do Poste em 1987. No início era escrito à mão pelo redator.


Imagem 02:  2º exemplar do Jornal do Poste em 1987.


Imagem 03: Exemplar nº 44 de 1990 editado numa máquina de escrever pelo redator.


Imagem 04: Exemplar nº 120. Esse foi o último a ser editado em maio de 2001. 

Observação: Os exemplares 01,02 e 04 pertencem a família do Sr. Olivan Abrahim.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Capitão Gervásio

 

O Capitão Gervásio Antônio da Silva Pinto, um dos nomes de maior destaque na vida do Curato/Distrito do Espírito Santo do Mar de Espanha. A data que aportou em nossas terras é um fato que permanece desconhecido. Logo se destacou, sendo um grande fazendeiro e produtor de café da localidade e entornos. Gozava de imenso prestígio político e social, além de ótima influência, estando presente na solução de situações delicadas do cotidiano.

Acredita-se que tenha chegado por aqui já casado com D. Margarida Eufrásia Monteiro de Castro, que era de uma família de destaque na aristocracia mineira, tendo dois de seus irmãos com o título de barão, Manuel José Monteiro de Castro (1º Barão de Leopoldina) e Lucas Antônio Monteiro de Castro (2º Barão de Congonhas do Campo).

Em 1834 já era casado, conforme informação de um registro de batismo de 21 de maio de 1834, onde Gervásio Antônio da Silva Pinto e D. Margarida Eufrásia Monteiro de Castro batizaram Agostinho (filho do casal Antônio Gonçalves de Moura e D. Gertrudes Joaquina da Silva), na Ermida da Fazenda do Tanque, em Lagoa Dourada/MG (Registro: 93 - Página: 11 - Ano: 1834).

Ele nasceu em 1801 em Lagoa Dourada, Minas Gerais. Seus pais eram o Capitão Elias Antônio da Silva Rezende e Ana de Jesus Góes e Lara. Tinha um irmão gêmeo chamado Protásio Antônio da Silva Pinto, falecido em 07/05/1841. Um de seus irmãos, José Antônio da Silva Pinto, recebeu a honraria de Barão de Bertioga, sendo o fundador da Santa Casa de Juiz de Fora.

Na década de 1850, já residia no Curato do Espírito Santo com sua família. O local exato de sua fazenda não foi identificado, mas sabe-se que possuía uma casa na sede do arraial. Em 20/07/1856, faleceu D. Maria do Carmo Monteiro da Silva, filha do casal, sendo sepultada no cemitério do Curato do Espírito Santo. Essa mesma sepultura, tempos depois, receberia os restos mortais de sua mãe D. Margarida Eufrásia em 30/09/1862.

Pensando no progresso do Distrito e da região, uniu-se a outros fazendeiros produtores de café e autoridades pensando numa forma ágil de escoar a produção cafeeira. Dessa interação surgiu a ideia de financiar uma ferrovia que partisse de Serraria e chegasse a São João Nepomuceno. No caminho haveria várias estações para deixar e receber mercadorias, em especial o café, além de transportar passageiros.

Foi um dos maiores acionistas ao lado dos idealizadores da Estrada de Ferro União Mineira (EFUM). Tinha uma participação com 500 ações no projeto, sendo o maior acionista em contribuição no Distrito do Espírito Santo.

Por imposição do destino, não chegou a ver as obras da EFUM chegar ao distrito, pois faleceu em 03/01/1878, sendo sepultado no cemitério local. Após sua morte, o destino dos filhos Manoel José Monteiro da Silva e Francisca de Paula Monteiro da Silva tornou-se desconhecido. Não temos informações se eles ainda permaneceram ou foram para outros lugares depois. Inclusive, a partilha de seus bens ainda é incógnita.

Como homenagem, uma das principais ruas da área central de Guarará leva o seu nome desde o período distrital até hoje.  Seu túmulo permanece preservado com o de sua esposa e filha, no interior da capela de São Sebastião, ao lado do cemitério municipal. Na época de seu falecimento e dos familiares, essa capela era pequena e limitava-se ao fundo do cemitério. Após sua expansão em 1889, os túmulos existentes onde ela passou a abranger continuaram em seu interior, sendo identificados por uma placa de mármore amarelada pelo tempo.

Imagem 01: Caricatura atribuída ao Cap. Gervásio. Data ignorada.


Imagem 02: Assinatura do Cap. Gervásio em 1862, numa procuração do Cartório do Curato do Espírito Santo.

domingo, 10 de março de 2024

"O Amanhecer da Villa do Guarará"

No início desta semana será lançado na Escola M. Ferreira Marques, em Guarará, o filme intitulado "O Amanhecer da Villa do Guarará".

Um material produzido por Ricardo Rossi. A produção vem contar a História do povoamento da nossa região, com foco na cidade de Guarará e adjacências, que é Cidade Mãe de Bicas e Maripá de Minas. Nossa terra possui uma história rica com muitos acontecimentos e revelações inéditas que serão exibidos para o público, através da sétima arte.

Feito para todas as famílias, esta é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais sobre o surgimento de Guarará e Região.

O projeto é financiado com recursos da Lei Paulo Gustavo e teve a participação atuante do Historiador Rodrigo Machado Alves, do Setor de Patrimônio Cultural de Guarará.

Um projeto histórico único e revelador para ficar na História de Guarará e Região. Foi produzido com base em pesquisas e análises históricas, até então desconhecidas pela grande maioria das pessoas.

O filme começa no final do ciclo do ouro e mostra diversos fatos relevantes que levaram ao surgimento do Curato do Espírito Santo como a necessidade de desbravamento de novas áreas para povoamento e cultivo de culturas, a fundação da primeira igreja na região, o crescimento populacional decorrente da produção de café e açúcar, o transporte do café por tropeiros até a chegada do trem nos arredores, a revolução cultural provocada pelos imigrantes, além dos variados fatores que levaram a Emancipação de Guarará, em 1890.

Em breve, o filme estará disponível nas plataformas digitais para toda a região assistir e compreender um pouco mais sobre os caminhos que levaram à nossa origem.


Obs.Texto adaptado.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Ponte São Joaquim

 

Outra ponte de suma importância na zona rural de Guarará é a de São Joaquim, na comunidade de mesmo nome, a pouco mais de 3 km do centro da cidade. Ela faz a ligação com o entorno da localidade da Volta Grande e é um dos acessos rápidos ao Distrito de Engenho Novo, em Mar de Espanha.

Assim como sua conterrânea, a Ponte do Salomão era construída com sustentação a base de madeira sobre o Ribeirão Espírito Santo desde o tempo distrital. Sofria muito com a correnteza do trecho e as fortes enchentes que passavam pelo vale e danificavam suas cabeceiras na época das fortes chuvas de verão.

No passado, a Comunidade de São Joaquim onde está localizada a ponte era densamente povoada, possuindo Igreja e Cemitério, que foi desativado no final da década de 1920. Para atender à circulação de pessoas e o transporte de mercadorias como café, arroz, feijão e milho, a Prefeitura Municipal, através de seu prefeito, o Cel. Bertholdo Garcia Machado e seu vice, Cel. Affonso Leite implementou importantes melhorias na segurança e conservação da mesma.

A partir de 1933, foi construída, com recursos municipais, nova estrutura para a Ponte São Joaquim. As cabeceiras foram refeitas com base de pedra e concreto para resistir à forte correnteza e foi colocada no meio do rio uma grande pilastra de concreto armado para sustentar as vigas e os pranchões de madeira. Essa medida ajudava a evitar o balanço da ponte em ocasiões de tráfego pesado.

A estrutura inaugurada em 1933 permaneceu a mesma por várias décadas, mas recebendo retoques para garantir o trânsito de animais e veículos maiores com segurança. Em 1987, o então prefeito Antero Dias da Rocha inicia estudos visando substituir a ponte de madeira por uma de concreto, trazendo mais segurança para os moradores da região.

As obras iniciam em 1988, mesmo ano em que ocorre a solenidade de inauguração, com grande acompanhamento popular. A nova ponte entregue à comunidade tinha seu vão em concreto armado. As cabeceiras foram reforçadas com pedra e concreto e a pilastra foi fortalecida para segurar o peso da nova ponte.

Atualmente, permanece com as mesmas características do período em que foi inaugurada em 1988. Algumas melhorias foram realizadas, mas conservam-se os traços originais. A exceção é a paisagem, que modificou um pouco ao longo desses 36 anos de bons serviços prestados aos moradores da redondeza.

A importância de conhecer a história das construções que compõem o meio rural é crucial para entender a evolução da cidade com o passar do tempo. A recordação  histórica está presente em todos os cantos e ao lado da memória, que deve ser constantemente fortalecida através da inserção de novos recortes do passado de nossa cidade e região.


Imagem 01: Ponte São Joaquim construída em 1933.


Imagem 02: Solenidade de inauguração em 1988.


Imagem 03: Uma visão panorâmica da ponte recém-construída e sua inauguração.


Imagem 04: Grande presença popular na inauguração da Ponte São Joaquim.


Imagem 05: Vice-Prefeito Alpheu José Machado e o pedreiro Sebastião Meneguelli inaugurando a obra.


Imagem 06: Muitas pessoas  de nossa cidade estavam presentes naquele dia. Nestas fotos podemos fazer uma volta ao passado.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Ponte do Salomão

 

Uma das vias mais importantes de ligação no meio rural, que possibilita e encurta o acesso à Comunidade da Forquilha e à cidade de Senador Cortes, a tradicional ponte de concreto sobre o Ribeirão Espírito Santo, denominada Ponte do Salomão, permanece com suas ruínas bem conservadas após 95 anos.

Caracteriza-se como uma importante rota de comunicação entre partes da cidade de Guarará e outros lugares em volta desde o período distrital. No passado, a ponte era pequena e construída a base de pranchões e tábuas. Havia esteios fincados nas laterais que recebiam o peso das vigas de madeira. Constantemente sofria os impactos do período chuvoso que danificava e descalçava sua estrutura. Muitas vezes o trânsito de pessoas, e animais com mercadorias ficava interrompido devido às avarias sofridas com as fortes enchentes que passavam pelos seus pilares.

Pensando em melhorias para a localidade e entorno, a gestão do Prefeito Cel. Bertholdo Garcia Machado e Cel. Affonso Leite iniciou estudos para construção de uma ponte de concreto armado em substituição à estrutura de madeira nas imediações da anterior em 1929. Uma ponte de concreto naquela ocasião era uma novidade na cidade e na região, devido às dificuldades e desafios de sua construção, numa época de pouco acesso à tecnologia e mão de obra qualificada.

A construção iniciou no segundo semestre de 1929 e finalizou no início de 1930. Os recursos foram provenientes de convênio com o Governo Estadual. Sua inauguração ocorrida no dia 2 daquele mês foi destaque na edição n° 541 do Jornal O Guarará em 6/4/1930 em matéria estampada na capa da publicação.

A popular Ponte do Salomão tornou-se uma via de extrema importância na vida social e econômica de Guarará e localidades próximas por várias décadas, promovendo a integração e encurtando caminhos para o povo sofrido do meio rural. A partir da década de 1980, a ponte começou a apresentar problemas estruturais próximos a uma das cabeceiras, o que dificultou o trânsito de veículos pesados.

Com o passar dos anos, mesmo com os concertos emergenciais, a estrutura estava se deteriorando e tornando o trânsito automotivo perigoso. Na ocasião, o Prefeito Antônio Carlos da Rocha iniciou, alguns metros abaixo da antiga estrutura, as obras de uma nova ponte de concreto, em 1990. A nova ponte foi construída com vigas metálicas reforçadas para suportar grandes pesos e paredões laterais capazes de enfrentar as fortes enchentes de verão.

Com a circulação de veículos e pedestres desviada para a nova ponte, que cumpre os mesmos requisitos da sua antecessora, a antiga estrutura ficou em desuso e pode ser avistada até os dias atuais, poucos metros acima da atual ponte sentido Guarará a Forquilha.

Um pouco da nossa história recente permanece preservada nas ruínas da antiga Ponte do Salomão, que por mais de 50 anos desempenhou a integração local e regional bravamente, num período em que o meio rural ainda era muito povoado. O conhecimento do passado exposto no presente ajuda a preservar a memória histórica de nosso povo.

Abaixo apresentamos algumas imagens que ilustram o contexto histórico.

Imagem 01: Capa do Jornal O Guarará de 6/4/1930 retratando a inauguração da Ponte do Salomão. 

Imagem 02: Prefeito Antero Dias da Rocha (1983-1988) inspecionando a estrutura da Ponte São Joaquim. Nesta foto é possível ver uma rampa de madeira construída numa das cabeceiras da ponte.

Imagem 03: Operários e máquinas erguendo as vigas de sustentação da nova Ponte do Salomão em 1990 na gestão do Prefeito Antônio Carlos da Rocha.

Imagem 04: Vigas erguidas e prontas para receber o piso de concreto em 1990.