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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Filme a Emancipação de Bicas

 Com objetivo de incentivar a produção histórica em nossa região que, finalmente, começa a receber boas iniciativas, apresentamos no blog a 2ª parte da produção Bicas 100 Anos, com o Filme intitulado, “A Emancipação de Bicas”. A parte em questão é composta pelo texto e o link contendo o vídeo. A produção foi feita em homenagem aos 100 anos de emancipação da cidade de Bicas, ocorrido em setembro e apresenta uma agradável produção visual, trazendo informações relevantes para o contexto histórico local e regional. O fruto dessa excelente iniciativa começa a dar resultados nas cidades da região. Alguns municípios já estão se mobilizando no intuito de resguardar sua história por meio de produção audiovisual. Esperamos que essas iniciativas motivem outras cidades a seguir o exemplo e que possam elaborar materiais visando divulgar seu legado histórico.

 

LINK DO VÍDEO https://www.youtube.com/watch?v=w4nRPIyz9VM

 

Início do 2º Capítulo:  DÉCADA DE 1880 - INÍCIO POVOAÇÃO

 [A - A Chegada da Ferrovia]

A chegada da ferrovia a Bicas em 1879 trouxe a facilidade de escoamento dos produtos para outras cidades, principalmente, para a corte no Rio de Janeiro. Isso fez com que diversas pessoas da região viessem residir no Arraial das Taboas. Neste período inicial, junto com eles vieram também imigrantes de várias nacionalidades entre eles, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses e na maioria italianos. 

[B - Transações comerciais]

Rapidamente, formou-se o povoamento em torno da Estação Ferroviária. Ali aconteciam todas as transações comerciais. Era o local onde todos se convergiam em busca de deslocamento e negócios.

[C - Construção da Capela de São José em 1882]

Aos poucos, a localidade foi tomando forma e como toda nova povoação que surgia, precisava de uma igreja ou pelo menos de uma capela. Assim, em 1882 ,foi construída a capela de São José no local onde fica a atual igreja Matriz de Bicas. Essa capela deu surgimento as manifestações religiosas da localidade, fato narrado pelo jornal Pharol de Juiz de Fora, de 09 de abril de 1886, demonstrando a fé do povo que aqui se estabeleceu.

 É importante observar, que os jornais da época já se referiam ao local das manifestações, a Bicas e não ao Distrito do Espírito Santo do Mar de Espanha (atualmente Guarará).

  Isso demonstra a força do topônimo da estação na formação da identidade do local.

[D - Estação Ferroviário União Mineira]

Em 1883, a Estação Ferroviária União Mineira, constrói a estação Furtado de Campos, que ligou São João Nepomuceno a Rio Novo e assim foi possível chegar a Juiz de Fora por trem partindo de Bicas para Rio Novo ou por Serraria. É importante lembrar que naquela época não existiam estradas pavimentadas, e para chegar a Juiz de Fora sem o trem, era preciso seguir a cavalo em caminhos difíceis e até perigosos por trechos de terra.

Mas a Estrada de Ferro União Mineira começou a ter problemas de ordem administrativa, custos com manutenção e acidentes, que levaram a dificuldades financeiras. Um desses problemas foi noticiado pelo jornal O Leopoldinense informando que no dia 06 de junho de 1881 por falha de execução, uma locomotiva com cinco vagões descarrilhou na serra em direção a São João Nepomuceno.  A Estrada de Ferro União Mineira tinha no seu quadro societário fazendeiros e com o tempo perceberam a necessidade de passar o controle para outra Estrada de Ferro. Foi então que, em 1884, a Estrada de Ferro Leopoldina compra a Estrada de Ferro União Mineira e passa administrá-la.

[E – Crescimento de Bicas já nos primeiros anos]

Durante os anos seguintes, ocorreu uma forte expansão do comércio e da indústria local, fato noticiado pelo jornal O Mar de Espanha de 29 de abril de 1888, que relata a existência de um comércio e indústria pujante, mas também de poluição sonora provocada por oficinas em trabalho.

 Isso tudo acontece apenas nove anos após a chegada do trem num local que era apenas um arraial.

[F – Italianos nas fazendas de café]

Nos idos de 1880 a 1900, vivia a Zona da Mata o esplendor do ciclo cafeeiro, se impondo no cenário político e econômico. O prenúncio da abolição da escravidão em consequência das sucessivas leis abolicionistas e a possível evasão de escravizados, já recomendava a imigração de trabalhadores europeus para a lavoura de café caindo a preferência sobre os italianos, como já acontecia em São Paulo e no Espírito Santo.

[ H – O 2º Barão de Catas Altas]

 Muitas pessoas foram responsáveis pelo surgimento e progresso de nossa cidade. Tropeiros, fazendeiros, negociantes, além da valiosa influência política do cidadão Antônio José Gomes Bastos agraciado com o título de comendador e depois o título de 2º Barão de Catas Altas em 23/12/1887, título concedido e inicia a construção do palacete na região da Estação Bicas, onde possuía terras.

  [004 – MUDANÇA POLÍTICA]

 [A - Proclamação da República]

Em 13 de maio de 1888, princesa Izabel promulga a lei Áurea e liberta 700 mil pessoas que ainda se encontravam escravizadas. O Império fragilizado pela guerra do Paraguai é tomado por uma onda republicana que provocou a proclamação da república em 15 de novembro de 1889, e fez do Marechal Deodoro da Fonseca o primeiro presidente do Brasil.

[B - Onda Republicana em Bicas]

Esta onda republicana também aconteceu em nossa região influenciando as atividades políticas do lugar. O 2° Barão de Catas Altas com o passar do tempo adotou as ideias republicanas e apoiou mudanças no cenário político local e regional, que trariam mudanças significativas para uma nova formatação do espaço territorial da região. 

[C - Bicas Vira Distrito]

Através do decreto estadual, de número 190, foi promulgada em setembro de 1890, a criação do distrito de São José de Bicas, neste primeiro momento pertencendo a Mar de Espanha.

O palacete do 2° Barão de Catas Altas é concluído em 1890 e ele passa a morar com sua família em Bicas pouco tempo depois. Com a sua mudança e visão de futuro, influencia toda região.  Cada vez mais, pessoas migram para o entorno da estação de Bicas.

O Distrito do Espírito Santo se emancipa de Mar de Espanha em 05/12/1890 e após a sua instalação em 01/02/1891 passa a ser chamado de Vila do Guarará por sugestão do 2º Barão de Catas Altas e incorpora os distritos de São José Bicas e São Sebastião do Maripá.

[D – Conselho de Intendência Municipal]

Entre 1891 e início de 1892 funcionou o Conselho de Intendência na Vila do Guarará. Esse conselho equivaleria a uma câmara municipal. Estava localizado incialmente na casa do 2º Barão de Catas Altas em Guarará, onde hoje é a escola Ferreira Marques, sendo o 2° Barão de Catas Altas o primeiro presidente da Intendência Municipal.

A partir de 1892, a vila de Guarará vota a sua primeira câmara municipal e os distritos tinham que destinar 1 ou 2 vagas para eleição dos vereadores que os representaria na câmara municipal. Outra particularidade que existiu até por volta de 1904 era a existência de conselhos distritais, um em cada distrito. No distrito de São José de Bicas o local da sede do conselho distrital era ao lado da atual câmara Municipal.

[E - Conselho Distrital de São José de Bicas]

Conforme a ata da primeira eleição na Villa do Guarará realizada em 1892, temos a 1ª formação do conselho distrital de São José de Bicas:

Presidente: Francisco Barnabé da Fonseca de Barroso com 39 votos.

Conselheiro: José de Oliveira Gomes com 29 votos.

Conselheiro: Francisco Eugênio de Andrade Goulart com 10 votos

Vereador especial: Francisco José Bastos de Campos com 10 votos.

Juiz de Paz: Torquato Augusto de Carvalho com 30 votos.

O presidente do conselho distrital era o responsável pela execução das obras e serviços, além da solução de pequenas questões administrativas, procedendo à prestação de contas mensalmente via balancetes, que era enviado à câmara da Villa do Guarará.

   A partir de 1890, ocorreu um grande aumento de imigração italiana financiado pelo governo da província de Minas. Vieram também portugueses, espanhóis, alemães, sírio libaneses, dentre outros em menor escala desembarcavam nos nossos portos em busca de um mundo melhor para viver e o sonho de construir uma vida nova. 

   Os colonos cuidavam do café como principal riqueza, mas plantaram também, milho, feijão, batata, e outros legumes. Tendo os imigrantes com força de trabalho, a região viveu o esplendor de um período de fartura, produzindo tudo que era necessário à sobrevivência. Os paióis, tulhas e despensas cheias, supriam as necessidades da economia doméstica, enquanto fruteiras, hortaliças, galináceos e pequenos animais de corte complementavam.

  A agricultura estava no auge, predominava o café. Todos se saíram bem, pois trabalho havia, nas fazendas, nos armazéns e beneficiadoras.

Nos anos de 1892 e 1893 o menino Heitor Villa-Lobos vem morar com a sua família no distrito de São José de Bicas. Influenciado pelas modas caipiras e os tocadores de viola, que formam parte do folclore musical brasileiro e que, mais tarde, tornam-se referência para suas obras. É reconhecido ainda em vida como o maior compositor das Américas. Foi com Villa-Lobos que a música brasileira de concerto se tornou amplamente reconhecida em outros países. 

Em 1893 circula a primeira edição do jornal Correio de Bicas, surge para substituir o jornal O Guarará, porém foram mantidos o redator que era Joaquim Fróes Vieira Pisco e colabores. Conforme noticiado na redação da primeira edição. Este jornal, foi criado para cuidar dos interesses locais do distrito de São José de Bicas, sem esquecer de Guarará.

Nesta época, o jornal era o único meio de comunicação em massa.  Assim, formavam opiniões, divulgavam serviços, comércios e comunicados em geral.

Dentre várias notícias desta primeira edição, foi um comunicado do presidente do recém-formado Conselho Distrital de São José de Bicas, sobre execução de uma lei municipal.

 É importante observar nesta notícia, que o nome do Conselho usado na reportagem é Conselho Distrital de Bicas e não conselho distrital de São José de Bicas, mais uma vez a força do topônimo continua atuando fortemente na identidade da localidade.

Os jornais desempenhavam uma grande importância na época, eram notícias e propagandas que levavam o conhecimento da sociedade sobre o comércio local, regional e nacional. De forma criativa divulgavam os estabelecimentos e serviços disponíveis, eram: Construtoras, consultórios médicos, representantes, depósitos, armarinhos, importadoras, prestadores de serviços, armazéns de atacados, atelier, secos e molhados e remédios.

Na estação de Bicas, funcionava também o correio e o telégrafo usado para controle de tráfego, disponibilizado para sociedade enviar mensagens para outras cidades, uma prestação de serviço feita na Estação de Bicas pela Estrada de Ferro Leopoldina.

Este grandioso crescimento, deveu-se muito a importância da oficina da ferrovia instalada em Bicas, que atendia a demanda da ferrovia Leopoldina por produção de peças, manutenções de vagões e locomotiva. Era considerada uma das mais importantes oficinas ferroviárias do Brasil. Aliado a este fato, o crescimento populacional impulsionado pela posição geográfica, imigração de europeus, cria um cenário de expansão nunca visto antes.  Junto com eles, o distrito inicia uma nova fase cultural atraindo pessoas de outras localidades próximas e distantes.

Querendo agilizar o acesso a Bicas, o agente Executivo de Guarará Dr. Antero Dutra de Moraes idealiza em 1893 a construção da Estrada de Ferro Guararense, que ligaria a Vila do Guarará a Estação Ferroviária de Bicas. O fornecimento do maquinário e outros itens de tráfego, foi feito pela empresa Lidgerwood Manufacturing Co., Limited sediada nos EUA .

Inaugurada em 23/07/1896 funcionou por pouco tempo devido a diversos problemas entre eles, a locomotiva não era apropriada para o tipo de operação/trajeto, a Estrada de Ferro foi acumulando sérios problemas estruturais e prejuízos ao longo de 1896 até culminar na extinção do tráfego em 1897.

O leito da estrada de ferro ficou sem uso até os fins de 1898, quando o Agente Executivo da Vila de Guarará Álvaro Dias, decidiu utilizar um bonde de tração animal, aproveitando o antigo leito da ferrovia. Assim, a partir de 15/01/1899, foi inaugurada a Ferro Carril Guararense, uma empresa pública que pertencia ao município. Este bonde era puxado por uma parelha de burros que eram engatados à frente. Quando chegava ao fim da linha em Bicas, a parelha de burros era engatada do lado oposto para voltar para Guarará. O bonde permanecia na linha na mesma posição, os bancos viravam para os passageiros ficarem olhando para frente.  Em Guarará, o ponto de parada era na Praça do Divino, no centro, e em Bicas era em frente ao Bar Mênphis, onde hoje é o prédio da Prefeitura Municipal. A Ferro Carril Guararense tinha 4 kilômetros  de extensão, funcionou explorada por particular de 1899 até 1923.  A viagem era de 20 minutos.

A Leopoldina também na 1ª metade da década de 1890, passa a ter problemas de ordem administrativa, por conta de constantes epidemias de cólera, varíola, febre amarela, dentre outros problemas que causaram paralisações e muitos acidentes, então foi necessário sua venda. Assim em 1898, Leopoldina é comprada pelos ingleses e seu nome muda para Leopoldina Railway Company Limited. A principal empresa de Bicas inicia o século XX com uma nova mentalidade com a gestão inglesa.

O distrito de São José de Bicas, inicia o século XX com ruas, comércios e indústrias e uma população expressiva que demanda necessidade de  independência da Vila do Guarará.  No anseio de possuir o seu próprio curato, a população se une para adquirir um imóvel para sediar a casa paroquial.  Assim chega no distrito de São José de Bicas o seu primeiro pároco, o Frei Luiz Reink, que tomou posse em 11/01/1902.

Franciscano, nasceu na Alemanha e veio para o Brasil em 1894. A caridade foi sua maneira de agir. Era um jovem humilde e paciente que atendia a todos, não só com sua presença sacerdotal, mas também distribuindo aos necessitados com alimentos e medicamentos. Usava plantas medicinais para curar as pessoas. Capim limão ( cidreira ) era suas indicações prediletas para males do estômago, fígado, rins, insônias, nervosismo. Chá de folha de goiabeira, casca de pitangueira, xarope de agrião por aí iam os remédios de Frei Luiz.

Seu nome ecoa até hoje por todo o país. Em Jacarepaguá no Rio de Janeiro existe o Lar de Frei Luiz, uma grande instituição de caridade onde são realizados diversos trabalhos sociais em seu nome.

Também no ano 1902 foi lançado em Bicas, o Jornal O POVO, mais um veículo de comunicação no distrito que contribuiu para disseminar mais informações para a toda população. 

O crescimento segue em todos os setores da sociedade, era preciso de  escolas. Assim em 09 de julho de 1905 o Prof. Irineu Cândido de Souza muda para Bicas inaugura o colégio São José. Funcionou numa casa grande no início da rua 15 ao lado da Praça Quintino Bocaiúva, onde hoje tem o seu busto. Irineu Cândido, além de mestre competente e estudioso, era bom orador e redator talentoso. Tanto na Gazeta Municipal como depois no “O Município” publicou artigos e crônicas.  Os cursos eram Primário e Secundário, ministravam aulas de Aritmética, Português, Francês, História do Brasil, História Natural, Latim e Inglês. Dentre vários alunos notáveis, um dentre muitos foi Emil Farhat que na década de 30 escreve o romance o Cangerão e recebe a maior premiação da língua portuguesa.

As obras da capela do Sagrado Coração de Jesus foram noticiadas pelo jornal O Pharol em 17 de maio de 1906. 

 Sua construção foi um desejo da Baronesa de Catas Altas, que solicitou ao Barão de Catas Altas que a construísse em cumprindo a uma promessa feita.

O comércio e serviços no distrito de Bicas continuam crescendo e para atender a demanda da população loca, a imprensa de Guarará passa a divulgar as empresas do distrito com mais frequência. Dentre as propagandas da época tinha desde relojoeiros, ourives, importadores, refinarias de açúcar e até fotografo. Isso mesmo, em 1905 bicas já tinha um estúdio de fotografia e o fotógrafo era Isaías Moreira.

Nesse período acontece um marco importante na área rural, que através do decreto estadual de 2.536 de 1909, foi aprovado o estatuto da Sociedade Cooperativa Agrícola de Bicas. A atividade econômica no campo era muito grande nesta período e precisava-se de uma organização maior para atender os interesses da área ruralista.  Momento importante para agricultura local.

Na história de Bicas existiram várias personalidades marcantes, e uma delas foi o Francisco dos Santos Guimarães, o Capitão Guimarães.  Trabalhou na ferrovia em Bicas desde a criação da União Mineira.  Assume a direção da oficina após a chegada da Leopoldina Railway em 1898, e realiza grandiosas obras e prestações de serviços relevantes no distrito durante a sua vida:

Fundou uma Banda de Música em 1915 e o Liceu Operário de Bicas em 1917;

Construiu bueiros de drenagem de águas pluviais, solucionando problemas com velhas casas na Rua dos Operários;  

Criou a Mutualidade Beneficente dos Operários de Bicas em 1924; 

Apoiou a criação da Cooperativa dos Empregados da Leopoldina Railway;

Fundou o The Leopoldina Railway Footbal Club, em 12 de novembro de 1926;

Em 29 de maio de 1910 no distrito de Bicas foi construído (inaugurado) O Grupo Escolar de Bicas, que tempos depois recebeu o nome de Colégio Cel. Souza na rua Dona Ana sobre terreno doado pelo Cel. Souza. Foi o primeiro colégio público do distrito.  Marco importante para educação no distrito.

Álvaro Fernandes Dias em 25 de janeiro de 1912, assina um contrato em Belo Horizonte para instalação da luz elétrica no distrito de Bicas.  Trazendo a energia elétrica e mais progresso no distrito. Cada vez mais o distrito torna-se auto sustentável e independente de Guarará.

A oficina de Bicas era considera uma das seis mais importantes para Leopoldina no Brasil. Aqui se construíam vagões, peças para reposição, manutenções de locomotivas e vagões. O nível técnico da engenharia e dos operários de Bicas era alto. A Leopoldina Railway utilizava dos seus serviços para homologações de equipamentos e máquinas. Uma dessas homologações aconteceu em 1912 quando é produzido no Inglaterra uma locomotiva articulada gigante com nome kitson-Meyer que foi enviada para Bicas a fim de ser homologada para uso nas linhas da região. O corpo técnico de Bicas reprovou a locomotiva, e a locomotiva realmente não teve muito sucesso.

O jornal o Pharol de Juiz de fora de 6/06/1913 noticia a passagem de um automóvel pela primeira vez em Bicas.

A câmara municipal de Guarará em 14 de junho de 1916 , solicita a Leopoldina Railway autorização para passar fio de telefone sobre a linha do trem, e utiliza os postes do CINEMA BRASIL, o objetivo era instalar um aparelho de telefone no Largo da Estação.  O CINEMA BRASIL funcionava no local onde era a sede do antigo conselho distrital, extinto nos primeiros anos do século XX.

O jornal o Pais do Rio de Janeiro, traz em suas notícias em dezembro de 1914 a inauguração do novo templo da igreja matriz de Bicas no dia 08 de dezembro de 1914. 

 A revista o Malho aborda o mesmo assunto e traz foto do padre Rezende no novo altar da paróquia.

 O Jornal o Pais do Rio de Janeiro traz uma matéria no dia 23 de maio de 1915 sobre Bicas e descreve com detalhes o desenvolvimento econômico do distrito neste período.

[1916 - BODAS DE OURO DO BARÃO DE CATAS ALTAS]

Em fevereiro de 1916, a família Bastos reunida em comemoração a bodas de ouro de Antônio José Gomes Bastos (2º segundo Barão de Catas Altas) e Clara Rosalina Gomes Baião, fazem uma foto familiar histórica. 

Presentes nesta foto estão futuras personalidades públicas de Bicas:

 Eduardo Gomes Baião foi delegado de polícia, participou ativamente da emancipação de Bicas.

 Sebastião Gomes Baião foi o segundo agente executivo (Prefeito) de Bicas.

 Maria Antonieta Gomes Baião foi uma grande educadora. Seu nome é atribuído atualmente a uma escola da cidade.

 Antônio Barroso Gomes foi prefeito de Bicas na década de trinta.

 [1918 - FABRICA ALMIRANTE]

 Em 23 de setembro de 1918 um jovem empresário Francisco Curzio cria uma oficina de consertos e fabricação de sapatos por demanda.

 Situada  na rua Cel.  Souza  ao lado da residência da família Curzio.

 Assim nasceu a fábrica de Calçados Almirante, que nos meados dos anos vinte já estava vendendo seus produtos de alta qualidade para todo região, e se tornaria exportadora de calçados para diversos países, como Canadá, Estados Unidos e Alemanha.

 Nos anos 70, a fábrica de calçados empregava 400 operários em nossa cidade.

[1920 - ESPORTE E LEOPOLDINA X 1926 LEOPOLDINA]

O futebol biquense tem sua origem na década de 1910.

Nesta época existia o “Serrano Foot-ball Club”. O time do Serrano era composto de operários da Leopoldina e demais pessoas da sociedade. 

O seu dirigente o Capitão Guimarães desejava mudar seu nome para  Leopoldina.  Isso causou uma cisão entre os jogadores, os que não eram operários  decidiram montar um novo club,  o “Sport-Club Biquense”.  Este fato virou notícia no “Jornal O Guarará” em 20 de junho de 1920.

Após a cisão, o “Serrano Foot-ball Club” passou a ser chamado de “Operário Foot-ball Club” e em 12/11/1925 foi fundado o “The Leopoldina Foot-ball Club”, sendo seu primeiro presidente Francisco dos Santos Guimarães. Iniciando assim a centenária rivalidade entre Leopoldina e Esporte.

 [1921 – 00 ÁGUA SANTA]

No mês do trigésimo primeiro aniversário do distrito de Bicas, o Jornal Gazeta Municipal divulga a evolução sócio-econômica e religiosa do distrito, surgindo um dos primeiros registros sobre um local chamado Água Santa. 

 Água Santa é um local de peregrinação e fé, com vários relatos de curas alcançadas por peregrinos. A sua história tem origem conhecida na década de 1860.

[1921 – 01 BICAS SE TORNA FREGUESIA]

Até 1921, a paróquia de Bicas ainda não era totalmente independente.

Naquela época, para que houvesse a independência era necessário a criação da freguesia eclesiástica na localidade, isso ocorreu em dezembro de 1921.

 O distrito caminha cada vez mais em direção para sua emancipação.

[1921 – 02 TEATRO E CINEMA]

Os primeiros registros do Teatro em Bicas surgiram em 1903 e este localizava-se no salão do Conselho Distrital.

No início, o espaço foi compartilhado, até que, aconteceu a extinção do Conselho, ficando o espaço dedicado ao Teatro.

Neste mesmo local, em 1917 funcionou o CINEMA Brasil. No início dos anos vinte muda de nome para Cinema Bicas. Antes da emancipação houve uma nova mudança de no para   Cinema Central.

 Em 1924 foi necessário construir um novo prédio para o cinema, pois seu espaço foi cedido para a instalação da recente Câmara Municipal.

O novo cinema foi inaugurado no mês de agosto de 1924 e passou a ser chamado de Cine Teatro Central. 

Em 1927 foi inaugurado um segundo cinema em Bicas, com o nome, CINEMA POPULAR, localizado na Rua  Quinze, em frente a Praça Quintino Bocaiúva.

[1922  - 00  INVESTIDORES ÁRABES]

Bicas vivia uma época de ouro com grandes acontecimentos.

No final do século XIX e início do Século XX imigrantes árabes chegam em Bicas.  São investidores e comerciantes com uma nova mentalidade, com eles, começam um novo ciclo de crescimento econômico. 

A economia de Bicas dependia da ferrovia, mas existia um diversificado comércio e indústria.  Bicas com suas indústrias e comércio, se destacava na Zona da Mata, um lugar onde os negócios aconteciam em grande escala, procurado por toda região e sempre comentado nos jornais e revistas do pais.

[1922 – 00 VIÚVAS QUE FIZERAM HISTÓRIA]

Nesta época, as mulheres, não votavam e não exerciam cargos públicos, no entanto, haviam mulheres que  marcaram época.

Uma delas foi Cezaria Maria do Nascimento, conhecida por viúva de Joaquim Martins. Com o falecimento de seu esposo, assume uma grande plantação de café e criação de gado.

Ficou viúva bem jovem com vários filhos pequenos.  Foi a única mulher listada nos indicadores econômicos de Bicas em 1916.  

Avelina Eugénia Sales de Almeida, viúva do segundo casamento de Francisco Sales de Almeida.  Imigraram de Tiradentes para Bicas por volta de 1915. Investiram em várias fazendas na região. 

Viúva Sales teve cinco filhas. Foi uma grande produtora de café.  

O Bairro Viúva Sales originou do seu nome, e a Rua Santa Fé deve-se ao nome da fazenda onde tem a sede do  seu empreendimento. 

Viúva Sales foi oposicionista da política do Dr. Oliveira Souza.

Mariante Popadopoulos, esposa de Salomão David. Imigrantes, ela grega, e ele libanês. 

Ficou viúva em 1927. Investiu em vários setores da economia com seu filho Eduardo e os demais filhos. Eram comércios e indústrias. Fábrica de Sabão, Comércio de Secos e Molhados, Beneficiadora de Arroz, Refinaria de Açúcar, já na década de 20 vendiam combustíveis, eram depositários da STAND OIL COMPANY OF BRAZIL, o  abastecimento dos veículos eram  feitos por uma bomba de combustíveis  instalada em frente ao clube Biquense.

Nas décadas seguintes abrirão postos de gasolina em várias cidades sendo um deles o posto São José.

 As empresas Viúva Salomão & filhos criaram o ciclo econômico do açúcar em Bicas durante os anos 20, 30 e meados de 40. Eram grandes compradores e exportadores.

 Viúva Salomão foi oposicionista da política do Dr. Oliveira Souza.

 [1922 - 01 MISS BICAS]

Aconteciam vários eventos sociais no distrito, um deles foi o concurso de Miss Bicas em 1922, um movimento realizado pelo jornal “O Gazeta Municipal”, com dezenas de candidatas e com votação aberta pela comunidade. 

A Miss Bicas de 1922 foi Geny Dutra de Oliveira com 263 votos.

[1922 - 07 CEL. SOUZA SE RETIRA DA POLÍTICA]

Percebendo a inevitável emancipação de Bicas, Cel. Souza após dirigir o Município de Guarará por três mandatos consecutivos entre 1908 até 1918, publica uma carta em setembro de 1922 anunciando sua saída da política:

 [1922 - 12 - ESTAÇÃO DE BICAS.   TERCEIRA MAIOR EXPORTADORA DE MINAS]

A revista o Malho de dezembro de 1922, traz uma reportagem sobre  a Villa de Guarará e descreve  aspectos sócio econômicos com detalhes sobre os distritos,  relata que  a estação de Bicas estava entre as três maiores em exportação do estado de Minas:

 Bicas já vinha há muito tempo ultrapassando Guarará economicamente e socialmente. Era inevitável a movimentação da social em prol da emancipação.   

[1922 - DR BIANCO VIRA AGENTE DO BANCO HIPOTECÁRIO]

Existia em Bicas um médico e político chamado Dr. Vicente Bianco, reconhecido por muitos como o médico dos pobres. 

Aviava as receitas médicas e doava aos mais necessitados, os remédios da sua própria farmácia, chamada Farmácia Popular. 

Em agosto de 1922, tornou-se correspondente bancário.

 Foi um passo importante para o progresso de Bicas.

Operários e pequenos produtores a partir deste momento puderam  possuir  uma conta de depósitos e pagamentos para qualquer lugar do pais.

Era possível poupar a um juro de 5% ao ano. 

Dr. Vicente Bianco morava na Av. Bianco, sua casa era conhecida como Vaticano.

[1923 – ULTIMA CONCESSÃO DO BONDE]

A última concessão da linha de  bondes  foi assinada em 1922 e deixou de existir em 1923, este fato  deveu a existência dos automóveis , auto-ônibus e caminhões na Villa.

Foi preciso criar uma nova concessão, para os veículos automotores que cada vez mais ganhavam espaço em nossas ruas e estradas.

Em 17/05/1924 a câmara da Villa de Guarará abre uma concessão com  Agilberto Henrique Bastos e Adelino José Ferreira  para exploração deste tipo de transporte, são os primeiros prestadores   de serviço de transporte via auto-ônibus entre Bicas e Guarará.

[1923 – A HISTÓRIA DO JORNALISMO]

O papel da imprensa nessa época era fundamental. No distrito de Bicas circularam diversos jornais antes da emancipação, dentre eles, estão:

O Guarará lançado em 1892,

O Correio de Bicas lançado em 1893,

Gazeta de Guarará lançado em 1897,

O povo lançado em 1897,

A Semana lançado em 1899, 

Em 22/04/1916 foi lançado em Bicas o jornal “Gazeta Municipal” o precursor do secular jornal “O Município”

[1923 - A LANÇAMENTO DO JORNAL O MUNICÍPIO]

Em abril de 1923 o jornal Gazeta Municipal deixa de existir e no seu lugar passa a ser editado o jornal O Município. Era editado na mesma gráfica e o mesmo editor chefe Dr. José Maria de Oliveira Souza.

O jornal O Município inicia suas edições fazendo duras críticas á Câmara da Villa de Guarará.

[1923 - B RECLAMAÇÕES DO POVO SOBRE GUARARÁ]

O distrito arrecadava muito e não recebia os investimentos correspondentes em benfeitorias.  O povo descontente com os serviços começa a se rebelar.

O jornal O Município apoia a causa separatista e infla o movimento com notícias da carência de obras denotando uma omissão da administração da câmara de Guarará para com o distrito de Bicas.

  [1923 - PASSOS INICIAIS DA EMANCIPAÇÃO]

Dr.Vicente Bianco, lidera o movimento separatista com apoio do  2º  Barão de Catas Altas, que delega seu filho Eduardo Gomes Baião para representá-lo por conta da idade. 

Cel. Joaquim de Souza estrategicamente fora da política desde  1922,  delega  o  seu  filho Dr. Oliveira  Souza  para apoiar o movimento,  juntamente com eles Álvaro Dias e Francisco Retto Júnior, dentre outros iniciaram  a marcha triunfante em direção a emancipação de Bicas.

O primeiro problema a ser resolvido foi territorial. O distrito de São José de Bicas para se tornar uma Villa precisava aumentar sua extensão territorial.  Para isso acontecer foi preciso anexar o distrito de Santa Helena que pertencia a Villa de Guarará, o distrito de São Pedro de Pequeri  que pertencia  a Mar de Espanha  e ainda foi necessário que  Péricles Mendonça político de São João Nepomuceno cedesse parte das terras da sua cidade, do morro da Água Santa passando pela fazenda Córrego Amarelo até o pé da Serra das Bicas.

Uma vez atingida as condições necessárias, o congresso estadual criou a Villa de Bicas. As noticias começaram a chegar em agosto de 1923 e o povo entra em delírio.

 No dia 02 de setembro Dr. Bianco e todos os políticos emancipacionistas, lotam uma composição com oito carros, conduzidas entusiasticamente pelo Capitão Guimarães e visitam os distritos anexados  Santa Helena e Pequeri .

 Um júbilo coletivo em nome da nova Villa de Bicas é manifestado pela população dos distritos anexados.

[1924 - 00 INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE BICAS]

O governo do estado convoca eleições em Bicas em 25/11/1923, condição necessária para instalação do município. O resultado foi:

Cel. Álvaro Fernandes Dias                          476 

Dr. Vicente Bianco                                       427

Major Vicente Guedes de Moraes                 401     

Cap. Francisco das Santos Guimarães           386     

Dr. José Maria de Oliveira Souza                  332     

 

A instalação da Villa de Bicas ocorreu no dia 01 de janeiro de 1924. A sede inicial da câmara foi no local onde funcionava o Cinema Central na época. 

A população de Bicas entusiasmada na noite de 31/12/1923 recebeu sobre chuva os ilustres senadores Péricles de Mendonça e Veriato Catão, políticos apoiadores da causa da Villa de Bicas.

Foi um dia marcante na história com duas bandas do Lyceu e a Pequeriense tocando o dia todo na festividade. 

Ás 12:00 horas foi feita a instalação da Câmara e assume a presidência Cel. Álvaro Fernandes Dias o vereador mais votado, e num primeiro ato, realizada a votação do primeiro presidente e vice presidente da Câmara. 

São eleitos respectivamente Dr. Vicente Bianco e José Maria de Oliveira Souza.

Ás 15:00 horas foi lançada a pedra fundamental da construção da nova sede da Câmara Municipal. 

Ás 17:00  horas foi inaugurado o Independência-Hotel de propriedade dos Srs. Araújo & Irmão que abriu pela primeira vez suas portas para  hospedar  os dois senadores que foram  apoiadores da emancipação de Bicas

Dr. Vicente Bianco assinou a primeira ata das sessões dá Câmara Municipal de Bicas com uma caneta de ouro, cravada de brilhantes e esmeraldas, gentilmente oferecida pelas digníssimas filhas do Exmo.  Sr.  2º Barão de Catas Altas.

“O nosso povo permanece o maior  estado de satisfação, alimentando grande esperança no patriotismo da nossa câmara em prol da coletividade, ainda mais quando vemos nos seus representantes homens todos amantes do progresso do município e quê na iniciativa particular já tem prestado relevantes serviços ao lugar.  Nossos parabéns ao povo da Villa de Bicas, com ardentíssimos votos ao Todo Poderoso para que o evoluir do nosso progresso se realize aureolado das bênçãos do céu.”

                                                                                  Dr. Vicente Bianco

A emancipação de Bicas promoveu crescimento em todos os indicadores sociais e econômicos nos anos seguintes.

 São inaugurados novos hotéis.

O hotel Dom Pedro II foi construído em janeiro de 1926 nos fundos do Cine Teatro Central.

 O belíssimo Bicas Hotel foi construído no final da década de vinte, com sua fachada imponente.

Os setores comerciais e de serviços tiveram forte expansão, lojas de diversificados produtos foram inauguradas após a emancipação. Armarinhos, lojas de roupas, tecidos, calçados, papelarias, lojas de móveis e venda de carros Ford e Chevrolet.

 Em 1924 foi fundado o Clube Biquense. Sua imponente  sede foi  inaugurada em  de  julho de 1928. Bicas recebeu no centro da cidade, um  local de grande  beleza arquitetônica para eventos sociais.

Foi iniciada em agosto de 1925 a construção da rodovia Melo Viana ligando Juiz de Fora a Bicas e região, tornando possível as viagens com mais frequência com automóveis, auto-ônibus e caminhões para Juiz de Fora. 

 Em e fevereiro de 1926 chega  em Bicas a primeira agência bancária,  do Banco Comércio Indústria de Minas Gerais, tendo como o  primeiro gerente   Dr. Vicente Bianco. 

É importante lembrar que o Banco Hipotecário de Minas Gerais já estava presente em Bicas desde 1922 através de representantes.  Bicas passou a ter duas instituições bancárias presentes nessa época.

Em março de 1927 foi instalado o distrito de Santa Helena pelo decreto estadual  7541.

A nova Sede da Câmara Municipal foi inaugurada em novembro de 1927. Com a sua arquitetura estilo new-clássica, trouxe mais beleza ao centro da cidade.

Neste mesmo ano na rua Doa Ana,  foi iniciada a construção do centro espírita Francisco de Assis.

 Com a emancipação, a urbanização das ruas e praças chegam a Bicas trazendo mais conforto e beleza para população. 

A arquitetura da cidade se baseava em traços simétricos e retangulares com predominância neo-clássica.  Esse traço arquitetônico aconteceu na maioria das edificações da época, nos prédios públicos e nos privados também.

Predominava uma beleza singular nas ruas.  Comércios, serviços, hotéis e cinemas se completavam harmonicamente sobre a simetria arquitetônica que pairava sobre a cidade. 

Bicas foi construída por pessoas que vieram da região e de outros lugares do mundo em busca de uma vida melhor.  Com muito trabalho e esforço surgiu um povo com sentimento de pertencimento a esta cidade. Um belo lugar para se viver. 

Esta é a história de um Arraial que após 45 anos da chegada do trem se transformou em uma pujante cidade.

Este filme é dedicado a todos aqueles que contribuíram com suas vidas para construir este maravilhoso lugar de se viver, chamado Bicas.

            Parabéns Bicas querida pelo seu centenário!

Palacete do 2º Barão de Catas Altas com a linha férrea passando em frente. Mais acima temos uma lavoura de café ocupando todo morro em frente a Estação de Bicas.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Filme O Alvorecer das Taboas - Bicas

 Como forma de incentivar a produção histórica em nossa região, que por sinal carece de iniciativas, apresentamos no blog a 1ª parte do Filme de Bicas intitulado “O Alvorecer das Taboas & os Trilhos do Progresso”. A parte em questão é composta pelo texto e o link contendo o vídeo. A produção foi feita em homenagem aos 100 anos de emancipação da cidade de Bicas e apresenta uma bela produção visual trazendo informações relevantes para o contexto histórico local e regional. Esperamos que outras cidades sigam o exemplo e possam elaborar materiais visando divulgar seu legado cultural.


 *****LINK DO FILME: https://www.youtube.com/watch?v=uRcWh7vwI8o

 

No período Colonial, a Capitania de Minas Gerais viveu o auge do Ciclo do ouro e das pedras preciosas.

        A região da mineração centralizada em Vila Rica, hoje Ouro Preto, era ligada ao Rio de Janeiro pelo pioneiro caminho chamado de Caminho Velho.  Esse caminho descia por Baependi e Passa Quatro, alcançava o vale do Paraíba em Guaratinguetá, no estado de São Paulo e daí descia a Serra do Mar por onde os tropeiros chegavam a Parati, no litoral fluminense. Dali, o Rio de Janeiro era alcançado por pequenas embarcações marítimas frequentemente assediadas por piratas franceses e corsários ingleses.

Querendo evitar o assédio da pirataria e ao mesmo tempo encurtar a ligação da corte com a região de Minas Gerais, o governador da Capitania do Rio de Janeiro, Artur de Sá, em 1698, iniciou a abertura de uma picada que, em pouco tempo, permitia a passagem de pedestres. Era o início do Caminho Novo que das proximidades de Borda do Campo, hoje Barbacena, descia pelo vale do Paraibuna, passava por Paraíba do Sul , atravessava o Paraíba e a serra do Couto , onde hoje vicejam as cidades de Paty de Alferes e Miguel Pereira, para terminar no porto Estrela, no rio Iguaçu. Dali os tropeiros desciam o rio em pequenas embarcações, alcançavam a Baía de Guanabara e chegavam ao Rio de Janeiro.

A região a leste do Vale do Paraibuna denominada “das matas” era considerada área proibida ao desbravamento e povoamento. Naqueles sertões só havia a mata, montanhas, índios, poucos rios e nenhuma riqueza mineral. Próxima ao litoral, aqueles sertões de matas quase indevassáveis se tornaram em áreas proibidas por determinação do governador da Capitania, a fim de servirem de defesa contra possíveis aventureiros fluminenses e contra quem pretendesse fugir do fisco e entregar-se ao contrabando de riquezas.

Durante muito tempo, o vale do Paraibuna foi a principal porta onde a história de Minas Gerais se fez. Assim, a região das matas, a leste do Paraibuna ficou preservada ao longo de quase três séculos como “áreas proibidas” de matas densas difíceis de penetração.

A decadência da mineração foi o fator determinante para que a região das Matas Proibidas fosse liberada ao desbravamento e povoação. Muitos mineralistas abandonaram a região central da capitania e se dirigiram para outras áreas situadas ao norte e ao sul das matas proibidas na busca de terras  para agricultura . Aos poucos foram se multiplicando os caminhos, trilhas e picadões dentro das matas, terras para cultivo começaram a se r procuradas. A sobrevivência era importante e a cultura do café foi oportuna. Com isso, acelerou-se a penetração de desbravadores e povoadores nas terras ainda inexploradas.

Como as Capitanias Hereditárias eram áreas muito grandes, era difícil que os donatários sozinhos conseguissem vigiar e explorar o imenso território. Assim, era comum que elas fossem divididas em espaço de terra menores chamados de Sesmaria.

Sesmaria era um lote de terra distribuído a um beneficiário, em nome do rei de Portugal, com objetivo de cultivar terras virgens e se comprometiam a colonizá-lo dentro de um prazo previamente estabelecido..

Sesmeiros foram se fixando em diferentes pontos onde erguiam abrigos, ranchos, cruzeiros que dariam origem a muitos povoados. Onde o homem pousava, a marca do cristianismo era ali instalada, ganhando o local o nome do santo do dia ou da devoção dos elementos mais importantes do grupo. Homens valentes, ambiciosos e determinados que desconheciam qualquer plano de colonização, sem disciplina e sem planejamento, deram origem a muitos povoados que se constituíram em células de várias cidades.

Em 1814, Domingos Ferreira Marques e sua esposa Feliciana Francisca Dias solicitaram ao donatário da Capitania de Minas Gerais parte das terras disponíveis em nossa região. Essas terras, outrora pertencentes á área proibida agora estavam disponíveis e desabitadas.  Em 1816, obtiveram aprovação da doação e em 1818 tomaram posse. Foram mais de uma sesmarias, sendo a principal a Sesmaria Bonsucesso. 

Domingos Ferreira Marques inspirado pela esposa Feliciana Francisca Dias, devota do Divino Espírito Santo, doara em 1828 quarenta alqueires de terras para a criação de um Curato que se chamou Divino Espírito Santo ( atualmente Guarará  ).  O termo curato, usado na época, era a denominação dada às terras entregues à administração de um padre. Inicialmente, criava-se uma capela e com o tempo ao seu redor surgiam, pouco a pouco, pequenas casas que terminavam formando uma irmandade.   A construção da primeira igreja no curato ocorreu em 1930, tempos depois em 1942, iniciou a construção de uma igreja no estilo barroco, permanecendo no mesmo estilo até os dias de hoje. 

A dois quilômetros do curato do Divino Espírito Santo, havia um povoado conhecido como Arraial das Taboas, assim denominado pela presença abundante de uma vegetação conhecida como taboa. Por entre pequenas grotas brotavam nascentes de águas límpidas que desciam por todo vale.

      Em 1855, foi fundada a Irmandade do Divino Espírito Santo com mais de 260 membros. Essa irmandade administrava o pequeno povoado da época e a partir de 1868 foi elevado á categoria de Paróquia.

      Com o decorrer do tempo, fazendas e pequenas propriedades foram surgindo a partir das vendas das terras da Sesmaria Bonsucesso, uma delas era a fazenda Saracura produtora de café. Naquela época, o café era o produto mais lucrativo e o principal produto de exportação. Sua produção e comércio geravam riquezas contribuindo para o crescimento das cidades e regiões em que eram plantados.                                           

    O braço escravo era a única mão de obra disponível até o dia em que foram libertados pela histórica Lei Áurea assinada pela princesa Isabel. Trabalhando de sol a sol, sem descanso, sem remuneração, sofrendo maus-tratos, vivendo de forma desumana, homens e mulheres foram por muito tempo a força que movimentava a economia. O trabalho servil era utilizado em todas as atividades braçais, inclusive na construção de instalações rurais, na abertura de caminhos, no transporte de cargas e nos afazeres domésticos e urbanos.

    Para comercializar os produtos eram necessários centenas de muares, conduzidos por tropeiros. O trabalho que realizavam os tornaram imprescindíveis para o comércio da época. Levavam café com outros produtos para Corte Imperial, na cidade do Rio de Janeiro e no retorno traziam produtos refinados e importados de outros países além do sal vindo do Rio Grande do Norte por meio de navios.

       Seu trabalho exigia um homem disposto, forte e honesto. Era árduo; exigia-se seriedade e confiança, porque sob suas responsabilidades estava a guarda do dinheiro dos agricultores e comerciantes. Isso acontecia em jornadas cansativas duravam meses. Eles cavalgavam durante o dia e, à noite, paravam para pernoitar em determinados pontos e descansar os animais.  Um dos locais de parada era o Rancho das Bicas situado na serra das Bicas, dali partiam em sentido a fazenda Saracura no Arraial das Taboas. Os tropeiros foram os iniciadores da atividade econômica, sendo eles, no início, os únicos elos de ligação entre os moradores dos pequenos povoados existentes. 

    De fazenda em fazenda, os primitivos caminhos permitiam aos tropeiros e viajantes chegar a um lugar qualquer, principalmente nas barrancas dos rios fronteiriços já sabendo que na outra margem não encontraria melhor situação.  Mas era por eles que a produção de café tinha de chegar ao porto de Piedade, no fundo da baía de Guanabara, ou no porto da vila de Cava, no rio Iguaçu.

     Entre eles podemos citar Antônio José Gomes Bastos que tempos depois receberia o título de “Barão de Catas Altas” que levou a vida de tropeiro durante alguns anos, até casar-se. Quando deixou esse serviço investiu suas economias em terras, dedicou-se ao cultivo do café e da cana.

     Impulsionada pela produção de café, a região do curato do Divino Espírito Santo de Mar de Espanha que atualmente, compreenderia as terras de Guarará, Bicas e Maripá, crescia de forma expressiva na década de 1870. O censo realizado em 1872 registrou 6197 habitantes no curato, que na época era apenas um povoado. Para melhor compreendermos o tamanho desse crescimento populacional, vamos comparar com a população de Mar de Espanha, uma das maiores produtoras de café da região, que segundo esse mesmo censo registrava uma população de 12864 habitantes. Dos 6197 habitantes, eram livres 2177 homens e 1898 mulheres. Eram escravos 1255 homens e 867 mulheres.

      Em 1º de dezembro de 1873, o curato passa a categoria de freguesia de Mar de Espanha, equivalente a um distrito. A partir daí, o povoado passa a ser administrado pela Câmara de Mar de Espanha.

      A produção de café cresce cada vez mais. Toda a região da cidade de Mar de Espanha, Sarandi e o Espírito Santo de Mar de Espanha que atualmente corresponde toda a região de Guarará, Bicas e Maripá, produziam 250.000 arroubas de café, ou seja, 3. 750.000 kg . Todo esse café era transportado no lombo de burros.

     A dificuldade do transporte de café fez com que fazendeiros da região se reunissem na estação de Serraria, por onde já passava a ferrovia de D. Pedro II. Ali discutiram em assembleia a criação de uma ferrovia que ligaria Serraria a Mar de Espanha. Fundaram, então, a Companhia da Estrada de Ferro União Mineira. Essa proposta fora feita pelo fazendeiro e desembargador Pedro Alcântara de Cerqueira Leite, pelo engenheiro Pedro Betim Paes Leme e pelo comendador Francisco Ferreira Assis Fonseca.

          Para isso ser possível, era necessária uma lei que concedesse o direito de exploração da ferrovia. Utilizando de muita influência política, os cafeicultores conseguiram a promulgação da lei de nº 2224 em 13 de junho de 1876, publicada no Livro da Lei Mineira, que dava concessão da construção da estrada de ferro a Francisco Ferreira Assis Fonseca e Pedro Betim Paes Leme que ligaria Serraria a Mar de Espanha e a São João Nepomuceno.

          A construção do primeiro trecho durou, precisamente três anos mesmo vencendo duas difíceis serras numa época em que não existiam tratores e outros equipamentos além de enxadões, picaretas, enxadas, pás, esteiras de couro de boi e dinamite para explodir pedreiras.

       Acresce-se à importância dessa obra, o fato de não ser permitido o braço escravo  conforme a recomendação do Imperador D. Pedro II. A mão de obra era composta na maioria de ex - escravos e imigrantes europeus recrutados no cais do Rio de Janeiro, a fim de executarem atividades específicas, já que o país não dispunha de mão de obra qualificada.

     Pedro Betim Paes Leme, engenheiro responsável pela construção da ferrovia era descendente do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, o caçador de esmeraldas, e de seu filho Garcia Rodrigues Paes responsável pela abertura do Caminho Novo em 1704, entre a região do garimpo de Minas Gerais e a cidade do Rio de Janeiro.

         As grandes dificuldades na construção da Estrada de Ferro União Mineira fez com que o engenheiro topógrafo Pedro Betim mudasse o trajeto traçado. Inicialmente, conforme fora previsto, passaria por Silveira Lobo e Sossego, inauguradas em 13/05/1879, mas não foi possível passar por Mar de Espanha pela dificuldade topográfica. O trajeto passou por Pequeri, localidade próxima a Sarandi de um lado, a apenas 8 km e Mar de Espanha do outro a apenas 14km, assegurando a construção da estação inaugurada em 07/07/1879  que daria origem ao povoado de Pequeri.  Em seguida, veio a inauguração de estação de Santa Helena também em 07/07/1879  e de Bicas (ainda Arraial das Taboas) em 09/09/1879.

           É interessante observar que o relatório de Pedro Betim não havia nenhuma referência a Bicas, o que fortalece a tese de que a nossa cidade não existia até aquela época.

 “(...) Já se acham designados os lugares das estações, trata-se agora de organizar os respectivos projetos para se por em hasta pública as sua construções. Tudo será feito a tempo de maneira a não haver atraso na obra. A estação terminal desta primeira seção, cujas obras já se acham adjudicadas, não pode ser colocada mesmo no arraial do Espírito Santo, como era de nossa intenção e mais ardente desejo. As dificuldades deste primeiro traçado por um lado e as condições de um fácil prolongamento para São João, a que tínhamos de atender, por outro demoveram-nos do primeiro intento, obrigando a designar para esta estação o lugar denominado Taboas a cerca de dois quilômetros do Arraial do Espírito Santo.

            Primeiro documento histórico da origem de Bicas!

     O topônimo de Bicas foi sugerido pelo engenheiro Pedro Betim Paes Leme ao dar o nome de Bicas, a estação ferroviária aqui construída por se achar localizada no alto da serra conhecida por ”Serra das Bicas”. Nesta serra, naquela época, havia um rancho de tropeiros de propriedade de Joaquim José Teixeira. Os tropeiros quando queriam se referir a este rancho referiam sempre ao rancho das bicas pela sua localização. Esse rancho, posteriormente, mudou de proprietário para Antônio Gonçalves de Souza Junior e, com a morte deste, para sua viúva D. Ana. Os dois eram conhecidos como “Antônio das bicas” e “Ana” das bicas”. E assim foi dado o nome à estação e a povoação que se formava em torno da estação de Bicas, que pertencia ao Distrito do Espirito Santo até a sua emancipação que só ocorreu em 1923.    

     A oficina de Bicas nasceu com a estrada de ferro para atender a manutenção dos trens. Pequena no início, contava com operários europeus, notadamente belgas, franceses e italianos. O Brasil era carente de recursos humanos qualificados.

    Em 1881, D. Pedro II viaja pela Ferrovia União Mineira e desce em Bicas, fato narrado em seu diário. Documento de valor histórico e cultural da Estação Ferroviária e da própria ferrovia para Bicas é o trecho do Diário de Dom Pedro II, vl. 25, de 28 de abril de 1881.

“Segui depois do almoço às 11h 50’. Antes do Assis parei na estação de Bicas, que é quase um arraial formado há 2 anos. As oficinas em ponto pequeno agradaram-me. Também visitei um engenho de preparar café da vizinhança, na razão de 800 arrobas por dia feito por fulano Melo. Enfim a digressão da estrada de ferro União Mineira 82 km e não 84 agradou-me muitíssimo. Querem levar a estrada até o rio Pomba.”


Arte ilustrando tropeiros se deslocando próximo a Serras das Bicas.


Extra! extra! extra! O jornal Atualidade de Ouro Preto noticiou em 20/09/1879 a inauguração da estação de BICAS!