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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Jornal do Poste

 

Um dos últimos jornais impressos e com bom conteúdo a circular pela cidade de Guarará. Sua edição inicial foi escrita em dezembro de 1987 e seu encerramento ocorreu em maio de 2001.

Era um pequeno periódico do tamanho de uma folha A5 editado e escrito apenas de um lado, inicialmente de próprio punho e depois numa máquina de escrever. Após a produção dos primeiros exemplares e conferência pelo autor, era feita a cópia da edição que seria afixada pelos postes da cidade, daí o nome Jornal do Poste. A edição era mensal. Havia uma pessoa responsável pela afixação dos exemplares com cola nos principais postes de cada rua de Guarará.

Trazia uma abordagem simples com assuntos variados e fáceis de serem assimilados pelo leitor. Os poemas e trovas eram bem elaborados e com uma linguagem sútil e romantizada que levava o leitor mais atento para dentro do fato narrado. Como todo pequeno jornal do interior, não deixava de dar puxões de orelha com descrição e estilo em certas circunstâncias.

Nas datas festivas, havia mensagens e reflexões bem produzidas pelo seu redator-chefe para aquele momento. As festividades religiosas do Divino Espírito Santo e Semana Santa recebiam destaque nas publicações. Em todas as edições, buscou valorizar e incentivar o comércio local.

Era um jornal respeitado e admirado em Guarará e região. Exemplares eram enviados para diversas cidades de Minas Gerais e do país. Muitas pessoas ainda têm guardado na gaveta edições do saudoso periódico como lembrança de época.

Seu escritor era o saudoso Dr. Olivan Abrahim (1924-2020), filho de Iássara e Sayd Abrahim, descendentes de libaneses, que chegaram à nossa cidade no início do século XX e aqui se estabeleceram. Seus pais construíram uma numerosa e benquista descendência ao longo dos tempos, estabelecendo fortes raízes em nossa cidade até o momento atual. Foi casado com a Sra. Rosália Abrantes da Cunha Abrahim. O Sr. Olivan deixou um legado expressivo através do Jornal do Poste e de sua vida social e religiosa em Guarará e Bicas.

A cessão das publicações deixou saudade e boas recordações junto aos seus leitores até hoje. O pequeno jornal foi marcante em sua época. É lamentável que os bons jornais tenham perdido valor e espaço desde o início do século XXI para o mundo virtual, que veio com novos valores e prioridades.

Imagem 01: 1º exemplar do Jornal do Poste em 1987. No início era escrito à mão pelo redator.


Imagem 02:  2º exemplar do Jornal do Poste em 1987.


Imagem 03: Exemplar nº 44 de 1990 editado numa máquina de escrever pelo redator.


Imagem 04: Exemplar nº 120. Esse foi o último a ser editado em maio de 2001. 

Observação: Os exemplares 01,02 e 04 pertencem a família do Sr. Olivan Abrahim.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Capitão Gervásio

 

O Capitão Gervásio Antônio da Silva Pinto, um dos nomes de maior destaque na vida do Curato/Distrito do Espírito Santo do Mar de Espanha. A data que aportou em nossas terras é um fato que permanece desconhecido. Logo se destacou, sendo um grande fazendeiro e produtor de café da localidade e entornos. Gozava de imenso prestígio político e social, além de ótima influência, estando presente na solução de situações delicadas do cotidiano.

Acredita-se que tenha chegado por aqui já casado com D. Margarida Eufrásia Monteiro de Castro, que era de uma família de destaque na aristocracia mineira, tendo dois de seus irmãos com o título de barão, Manuel José Monteiro de Castro (1º Barão de Leopoldina) e Lucas Antônio Monteiro de Castro (2º Barão de Congonhas do Campo).

Em 1834 já era casado, conforme informação de um registro de batismo de 21 de maio de 1834, onde Gervásio Antônio da Silva Pinto e D. Margarida Eufrásia Monteiro de Castro batizaram Agostinho (filho do casal Antônio Gonçalves de Moura e D. Gertrudes Joaquina da Silva), na Ermida da Fazenda do Tanque, em Lagoa Dourada/MG (Registro: 93 - Página: 11 - Ano: 1834).

Ele nasceu em 1801 em Lagoa Dourada, Minas Gerais. Seus pais eram o Capitão Elias Antônio da Silva Rezende e Ana de Jesus Góes e Lara. Tinha um irmão gêmeo chamado Protásio Antônio da Silva Pinto, falecido em 07/05/1841. Um de seus irmãos, José Antônio da Silva Pinto, recebeu a honraria de Barão de Bertioga, sendo o fundador da Santa Casa de Juiz de Fora.

Na década de 1850, já residia no Curato do Espírito Santo com sua família. O local exato de sua fazenda não foi identificado, mas sabe-se que possuía uma casa na sede do arraial. Em 20/07/1856, faleceu D. Maria do Carmo Monteiro da Silva, filha do casal, sendo sepultada no cemitério do Curato do Espírito Santo. Essa mesma sepultura, tempos depois, receberia os restos mortais de sua mãe D. Margarida Eufrásia em 30/09/1862.

Pensando no progresso do Distrito e da região, uniu-se a outros fazendeiros produtores de café e autoridades pensando numa forma ágil de escoar a produção cafeeira. Dessa interação surgiu a ideia de financiar uma ferrovia que partisse de Serraria e chegasse a São João Nepomuceno. No caminho haveria várias estações para deixar e receber mercadorias, em especial o café, além de transportar passageiros.

Foi um dos maiores acionistas ao lado dos idealizadores da Estrada de Ferro União Mineira (EFUM). Tinha uma participação com 500 ações no projeto, sendo o maior acionista em contribuição no Distrito do Espírito Santo.

Por imposição do destino, não chegou a ver as obras da EFUM chegar ao distrito, pois faleceu em 03/01/1878, sendo sepultado no cemitério local. Após sua morte, o destino dos filhos Manoel José Monteiro da Silva e Francisca de Paula Monteiro da Silva tornou-se desconhecido. Não temos informações se eles ainda permaneceram ou foram para outros lugares depois. Inclusive, a partilha de seus bens ainda é incógnita.

Como homenagem, uma das principais ruas da área central de Guarará leva o seu nome desde o período distrital até hoje.  Seu túmulo permanece preservado com o de sua esposa e filha, no interior da capela de São Sebastião, ao lado do cemitério municipal. Na época de seu falecimento e dos familiares, essa capela era pequena e limitava-se ao fundo do cemitério. Após sua expansão em 1889, os túmulos existentes onde ela passou a abranger continuaram em seu interior, sendo identificados por uma placa de mármore amarelada pelo tempo.

Imagem 01: Caricatura atribuída ao Cap. Gervásio. Data ignorada.


Imagem 02: Assinatura do Cap. Gervásio em 1862, numa procuração do Cartório do Curato do Espírito Santo.

domingo, 10 de março de 2024

"O Amanhecer da Villa do Guarará"

No início desta semana será lançado na Escola M. Ferreira Marques, em Guarará, o filme intitulado "O Amanhecer da Villa do Guarará".

Um material produzido por Ricardo Rossi. A produção vem contar a História do povoamento da nossa região, com foco na cidade de Guarará e adjacências, que é Cidade Mãe de Bicas e Maripá de Minas. Nossa terra possui uma história rica com muitos acontecimentos e revelações inéditas que serão exibidos para o público, através da sétima arte.

Feito para todas as famílias, esta é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais sobre o surgimento de Guarará e Região.

O projeto é financiado com recursos da Lei Paulo Gustavo e teve a participação atuante do Historiador Rodrigo Machado Alves, do Setor de Patrimônio Cultural de Guarará.

Um projeto histórico único e revelador para ficar na História de Guarará e Região. Foi produzido com base em pesquisas e análises históricas, até então desconhecidas pela grande maioria das pessoas.

O filme começa no final do ciclo do ouro e mostra diversos fatos relevantes que levaram ao surgimento do Curato do Espírito Santo como a necessidade de desbravamento de novas áreas para povoamento e cultivo de culturas, a fundação da primeira igreja na região, o crescimento populacional decorrente da produção de café e açúcar, o transporte do café por tropeiros até a chegada do trem nos arredores, a revolução cultural provocada pelos imigrantes, além dos variados fatores que levaram a Emancipação de Guarará, em 1890.

Em breve, o filme estará disponível nas plataformas digitais para toda a região assistir e compreender um pouco mais sobre os caminhos que levaram à nossa origem.


Obs.Texto adaptado.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Ponte São Joaquim

 

Outra ponte de suma importância na zona rural de Guarará é a de São Joaquim, na comunidade de mesmo nome, a pouco mais de 3 km do centro da cidade. Ela faz a ligação com o entorno da localidade da Volta Grande e é um dos acessos rápidos ao Distrito de Engenho Novo, em Mar de Espanha.

Assim como sua conterrânea, a Ponte do Salomão era construída com sustentação a base de madeira sobre o Ribeirão Espírito Santo desde o tempo distrital. Sofria muito com a correnteza do trecho e as fortes enchentes que passavam pelo vale e danificavam suas cabeceiras na época das fortes chuvas de verão.

No passado, a Comunidade de São Joaquim onde está localizada a ponte era densamente povoada, possuindo Igreja e Cemitério, que foi desativado no final da década de 1920. Para atender à circulação de pessoas e o transporte de mercadorias como café, arroz, feijão e milho, a Prefeitura Municipal, através de seu prefeito, o Cel. Bertholdo Garcia Machado e seu vice, Cel. Affonso Leite implementou importantes melhorias na segurança e conservação da mesma.

A partir de 1933, foi construída, com recursos municipais, nova estrutura para a Ponte São Joaquim. As cabeceiras foram refeitas com base de pedra e concreto para resistir à forte correnteza e foi colocada no meio do rio uma grande pilastra de concreto armado para sustentar as vigas e os pranchões de madeira. Essa medida ajudava a evitar o balanço da ponte em ocasiões de tráfego pesado.

A estrutura inaugurada em 1933 permaneceu a mesma por várias décadas, mas recebendo retoques para garantir o trânsito de animais e veículos maiores com segurança. Em 1987, o então prefeito Antero Dias da Rocha inicia estudos visando substituir a ponte de madeira por uma de concreto, trazendo mais segurança para os moradores da região.

As obras iniciam em 1988, mesmo ano em que ocorre a solenidade de inauguração, com grande acompanhamento popular. A nova ponte entregue à comunidade tinha seu vão em concreto armado. As cabeceiras foram reforçadas com pedra e concreto e a pilastra foi fortalecida para segurar o peso da nova ponte.

Atualmente, permanece com as mesmas características do período em que foi inaugurada em 1988. Algumas melhorias foram realizadas, mas conservam-se os traços originais. A exceção é a paisagem, que modificou um pouco ao longo desses 36 anos de bons serviços prestados aos moradores da redondeza.

A importância de conhecer a história das construções que compõem o meio rural é crucial para entender a evolução da cidade com o passar do tempo. A recordação  histórica está presente em todos os cantos e ao lado da memória, que deve ser constantemente fortalecida através da inserção de novos recortes do passado de nossa cidade e região.


Imagem 01: Ponte São Joaquim construída em 1933.


Imagem 02: Solenidade de inauguração em 1988.


Imagem 03: Uma visão panorâmica da ponte recém-construída e sua inauguração.


Imagem 04: Grande presença popular na inauguração da Ponte São Joaquim.


Imagem 05: Vice-Prefeito Alpheu José Machado e o pedreiro Sebastião Meneguelli inaugurando a obra.


Imagem 06: Muitas pessoas  de nossa cidade estavam presentes naquele dia. Nestas fotos podemos fazer uma volta ao passado.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Ponte do Salomão

 

Uma das vias mais importantes de ligação no meio rural, que possibilita e encurta o acesso à Comunidade da Forquilha e à cidade de Senador Cortes, a tradicional ponte de concreto sobre o Ribeirão Espírito Santo, denominada Ponte do Salomão, permanece com suas ruínas bem conservadas após 95 anos.

Caracteriza-se como uma importante rota de comunicação entre partes da cidade de Guarará e outros lugares em volta desde o período distrital. No passado, a ponte era pequena e construída a base de pranchões e tábuas. Havia esteios fincados nas laterais que recebiam o peso das vigas de madeira. Constantemente sofria os impactos do período chuvoso que danificava e descalçava sua estrutura. Muitas vezes o trânsito de pessoas, e animais com mercadorias ficava interrompido devido às avarias sofridas com as fortes enchentes que passavam pelos seus pilares.

Pensando em melhorias para a localidade e entorno, a gestão do Prefeito Cel. Bertholdo Garcia Machado e Cel. Affonso Leite iniciou estudos para construção de uma ponte de concreto armado em substituição à estrutura de madeira nas imediações da anterior em 1929. Uma ponte de concreto naquela ocasião era uma novidade na cidade e na região, devido às dificuldades e desafios de sua construção, numa época de pouco acesso à tecnologia e mão de obra qualificada.

A construção iniciou no segundo semestre de 1929 e finalizou no início de 1930. Os recursos foram provenientes de convênio com o Governo Estadual. Sua inauguração ocorrida no dia 2 daquele mês foi destaque na edição n° 541 do Jornal O Guarará em 6/4/1930 em matéria estampada na capa da publicação.

A popular Ponte do Salomão tornou-se uma via de extrema importância na vida social e econômica de Guarará e localidades próximas por várias décadas, promovendo a integração e encurtando caminhos para o povo sofrido do meio rural. A partir da década de 1980, a ponte começou a apresentar problemas estruturais próximos a uma das cabeceiras, o que dificultou o trânsito de veículos pesados.

Com o passar dos anos, mesmo com os concertos emergenciais, a estrutura estava se deteriorando e tornando o trânsito automotivo perigoso. Na ocasião, o Prefeito Antônio Carlos da Rocha iniciou, alguns metros abaixo da antiga estrutura, as obras de uma nova ponte de concreto, em 1990. A nova ponte foi construída com vigas metálicas reforçadas para suportar grandes pesos e paredões laterais capazes de enfrentar as fortes enchentes de verão.

Com a circulação de veículos e pedestres desviada para a nova ponte, que cumpre os mesmos requisitos da sua antecessora, a antiga estrutura ficou em desuso e pode ser avistada até os dias atuais, poucos metros acima da atual ponte sentido Guarará a Forquilha.

Um pouco da nossa história recente permanece preservada nas ruínas da antiga Ponte do Salomão, que por mais de 50 anos desempenhou a integração local e regional bravamente, num período em que o meio rural ainda era muito povoado. O conhecimento do passado exposto no presente ajuda a preservar a memória histórica de nosso povo.

Abaixo apresentamos algumas imagens que ilustram o contexto histórico.

Imagem 01: Capa do Jornal O Guarará de 6/4/1930 retratando a inauguração da Ponte do Salomão. 

Imagem 02: Prefeito Antero Dias da Rocha (1983-1988) inspecionando a estrutura da Ponte São Joaquim. Nesta foto é possível ver uma rampa de madeira construída numa das cabeceiras da ponte.

Imagem 03: Operários e máquinas erguendo as vigas de sustentação da nova Ponte do Salomão em 1990 na gestão do Prefeito Antônio Carlos da Rocha.

Imagem 04: Vigas erguidas e prontas para receber o piso de concreto em 1990.




quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Filme a Emancipação de Bicas

 Com objetivo de incentivar a produção histórica em nossa região que, finalmente, começa a receber boas iniciativas, apresentamos no blog a 2ª parte da produção Bicas 100 Anos, com o Filme intitulado, “A Emancipação de Bicas”. A parte em questão é composta pelo texto e o link contendo o vídeo. A produção foi feita em homenagem aos 100 anos de emancipação da cidade de Bicas, ocorrido em setembro e apresenta uma agradável produção visual, trazendo informações relevantes para o contexto histórico local e regional. O fruto dessa excelente iniciativa começa a dar resultados nas cidades da região. Alguns municípios já estão se mobilizando no intuito de resguardar sua história por meio de produção audiovisual. Esperamos que essas iniciativas motivem outras cidades a seguir o exemplo e que possam elaborar materiais visando divulgar seu legado histórico.

 

LINK DO VÍDEO https://www.youtube.com/watch?v=w4nRPIyz9VM

 

Início do 2º Capítulo:  DÉCADA DE 1880 - INÍCIO POVOAÇÃO

 [A - A Chegada da Ferrovia]

A chegada da ferrovia a Bicas em 1879 trouxe a facilidade de escoamento dos produtos para outras cidades, principalmente, para a corte no Rio de Janeiro. Isso fez com que diversas pessoas da região viessem residir no Arraial das Taboas. Neste período inicial, junto com eles vieram também imigrantes de várias nacionalidades entre eles, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses e na maioria italianos. 

[B - Transações comerciais]

Rapidamente, formou-se o povoamento em torno da Estação Ferroviária. Ali aconteciam todas as transações comerciais. Era o local onde todos se convergiam em busca de deslocamento e negócios.

[C - Construção da Capela de São José em 1882]

Aos poucos, a localidade foi tomando forma e como toda nova povoação que surgia, precisava de uma igreja ou pelo menos de uma capela. Assim, em 1882 ,foi construída a capela de São José no local onde fica a atual igreja Matriz de Bicas. Essa capela deu surgimento as manifestações religiosas da localidade, fato narrado pelo jornal Pharol de Juiz de Fora, de 09 de abril de 1886, demonstrando a fé do povo que aqui se estabeleceu.

 É importante observar, que os jornais da época já se referiam ao local das manifestações, a Bicas e não ao Distrito do Espírito Santo do Mar de Espanha (atualmente Guarará).

  Isso demonstra a força do topônimo da estação na formação da identidade do local.

[D - Estação Ferroviário União Mineira]

Em 1883, a Estação Ferroviária União Mineira, constrói a estação Furtado de Campos, que ligou São João Nepomuceno a Rio Novo e assim foi possível chegar a Juiz de Fora por trem partindo de Bicas para Rio Novo ou por Serraria. É importante lembrar que naquela época não existiam estradas pavimentadas, e para chegar a Juiz de Fora sem o trem, era preciso seguir a cavalo em caminhos difíceis e até perigosos por trechos de terra.

Mas a Estrada de Ferro União Mineira começou a ter problemas de ordem administrativa, custos com manutenção e acidentes, que levaram a dificuldades financeiras. Um desses problemas foi noticiado pelo jornal O Leopoldinense informando que no dia 06 de junho de 1881 por falha de execução, uma locomotiva com cinco vagões descarrilhou na serra em direção a São João Nepomuceno.  A Estrada de Ferro União Mineira tinha no seu quadro societário fazendeiros e com o tempo perceberam a necessidade de passar o controle para outra Estrada de Ferro. Foi então que, em 1884, a Estrada de Ferro Leopoldina compra a Estrada de Ferro União Mineira e passa administrá-la.

[E – Crescimento de Bicas já nos primeiros anos]

Durante os anos seguintes, ocorreu uma forte expansão do comércio e da indústria local, fato noticiado pelo jornal O Mar de Espanha de 29 de abril de 1888, que relata a existência de um comércio e indústria pujante, mas também de poluição sonora provocada por oficinas em trabalho.

 Isso tudo acontece apenas nove anos após a chegada do trem num local que era apenas um arraial.

[F – Italianos nas fazendas de café]

Nos idos de 1880 a 1900, vivia a Zona da Mata o esplendor do ciclo cafeeiro, se impondo no cenário político e econômico. O prenúncio da abolição da escravidão em consequência das sucessivas leis abolicionistas e a possível evasão de escravizados, já recomendava a imigração de trabalhadores europeus para a lavoura de café caindo a preferência sobre os italianos, como já acontecia em São Paulo e no Espírito Santo.

[ H – O 2º Barão de Catas Altas]

 Muitas pessoas foram responsáveis pelo surgimento e progresso de nossa cidade. Tropeiros, fazendeiros, negociantes, além da valiosa influência política do cidadão Antônio José Gomes Bastos agraciado com o título de comendador e depois o título de 2º Barão de Catas Altas em 23/12/1887, título concedido e inicia a construção do palacete na região da Estação Bicas, onde possuía terras.

  [004 – MUDANÇA POLÍTICA]

 [A - Proclamação da República]

Em 13 de maio de 1888, princesa Izabel promulga a lei Áurea e liberta 700 mil pessoas que ainda se encontravam escravizadas. O Império fragilizado pela guerra do Paraguai é tomado por uma onda republicana que provocou a proclamação da república em 15 de novembro de 1889, e fez do Marechal Deodoro da Fonseca o primeiro presidente do Brasil.

[B - Onda Republicana em Bicas]

Esta onda republicana também aconteceu em nossa região influenciando as atividades políticas do lugar. O 2° Barão de Catas Altas com o passar do tempo adotou as ideias republicanas e apoiou mudanças no cenário político local e regional, que trariam mudanças significativas para uma nova formatação do espaço territorial da região. 

[C - Bicas Vira Distrito]

Através do decreto estadual, de número 190, foi promulgada em setembro de 1890, a criação do distrito de São José de Bicas, neste primeiro momento pertencendo a Mar de Espanha.

O palacete do 2° Barão de Catas Altas é concluído em 1890 e ele passa a morar com sua família em Bicas pouco tempo depois. Com a sua mudança e visão de futuro, influencia toda região.  Cada vez mais, pessoas migram para o entorno da estação de Bicas.

O Distrito do Espírito Santo se emancipa de Mar de Espanha em 05/12/1890 e após a sua instalação em 01/02/1891 passa a ser chamado de Vila do Guarará por sugestão do 2º Barão de Catas Altas e incorpora os distritos de São José Bicas e São Sebastião do Maripá.

[D – Conselho de Intendência Municipal]

Entre 1891 e início de 1892 funcionou o Conselho de Intendência na Vila do Guarará. Esse conselho equivaleria a uma câmara municipal. Estava localizado incialmente na casa do 2º Barão de Catas Altas em Guarará, onde hoje é a escola Ferreira Marques, sendo o 2° Barão de Catas Altas o primeiro presidente da Intendência Municipal.

A partir de 1892, a vila de Guarará vota a sua primeira câmara municipal e os distritos tinham que destinar 1 ou 2 vagas para eleição dos vereadores que os representaria na câmara municipal. Outra particularidade que existiu até por volta de 1904 era a existência de conselhos distritais, um em cada distrito. No distrito de São José de Bicas o local da sede do conselho distrital era ao lado da atual câmara Municipal.

[E - Conselho Distrital de São José de Bicas]

Conforme a ata da primeira eleição na Villa do Guarará realizada em 1892, temos a 1ª formação do conselho distrital de São José de Bicas:

Presidente: Francisco Barnabé da Fonseca de Barroso com 39 votos.

Conselheiro: José de Oliveira Gomes com 29 votos.

Conselheiro: Francisco Eugênio de Andrade Goulart com 10 votos

Vereador especial: Francisco José Bastos de Campos com 10 votos.

Juiz de Paz: Torquato Augusto de Carvalho com 30 votos.

O presidente do conselho distrital era o responsável pela execução das obras e serviços, além da solução de pequenas questões administrativas, procedendo à prestação de contas mensalmente via balancetes, que era enviado à câmara da Villa do Guarará.

   A partir de 1890, ocorreu um grande aumento de imigração italiana financiado pelo governo da província de Minas. Vieram também portugueses, espanhóis, alemães, sírio libaneses, dentre outros em menor escala desembarcavam nos nossos portos em busca de um mundo melhor para viver e o sonho de construir uma vida nova. 

   Os colonos cuidavam do café como principal riqueza, mas plantaram também, milho, feijão, batata, e outros legumes. Tendo os imigrantes com força de trabalho, a região viveu o esplendor de um período de fartura, produzindo tudo que era necessário à sobrevivência. Os paióis, tulhas e despensas cheias, supriam as necessidades da economia doméstica, enquanto fruteiras, hortaliças, galináceos e pequenos animais de corte complementavam.

  A agricultura estava no auge, predominava o café. Todos se saíram bem, pois trabalho havia, nas fazendas, nos armazéns e beneficiadoras.

Nos anos de 1892 e 1893 o menino Heitor Villa-Lobos vem morar com a sua família no distrito de São José de Bicas. Influenciado pelas modas caipiras e os tocadores de viola, que formam parte do folclore musical brasileiro e que, mais tarde, tornam-se referência para suas obras. É reconhecido ainda em vida como o maior compositor das Américas. Foi com Villa-Lobos que a música brasileira de concerto se tornou amplamente reconhecida em outros países. 

Em 1893 circula a primeira edição do jornal Correio de Bicas, surge para substituir o jornal O Guarará, porém foram mantidos o redator que era Joaquim Fróes Vieira Pisco e colabores. Conforme noticiado na redação da primeira edição. Este jornal, foi criado para cuidar dos interesses locais do distrito de São José de Bicas, sem esquecer de Guarará.

Nesta época, o jornal era o único meio de comunicação em massa.  Assim, formavam opiniões, divulgavam serviços, comércios e comunicados em geral.

Dentre várias notícias desta primeira edição, foi um comunicado do presidente do recém-formado Conselho Distrital de São José de Bicas, sobre execução de uma lei municipal.

 É importante observar nesta notícia, que o nome do Conselho usado na reportagem é Conselho Distrital de Bicas e não conselho distrital de São José de Bicas, mais uma vez a força do topônimo continua atuando fortemente na identidade da localidade.

Os jornais desempenhavam uma grande importância na época, eram notícias e propagandas que levavam o conhecimento da sociedade sobre o comércio local, regional e nacional. De forma criativa divulgavam os estabelecimentos e serviços disponíveis, eram: Construtoras, consultórios médicos, representantes, depósitos, armarinhos, importadoras, prestadores de serviços, armazéns de atacados, atelier, secos e molhados e remédios.

Na estação de Bicas, funcionava também o correio e o telégrafo usado para controle de tráfego, disponibilizado para sociedade enviar mensagens para outras cidades, uma prestação de serviço feita na Estação de Bicas pela Estrada de Ferro Leopoldina.

Este grandioso crescimento, deveu-se muito a importância da oficina da ferrovia instalada em Bicas, que atendia a demanda da ferrovia Leopoldina por produção de peças, manutenções de vagões e locomotiva. Era considerada uma das mais importantes oficinas ferroviárias do Brasil. Aliado a este fato, o crescimento populacional impulsionado pela posição geográfica, imigração de europeus, cria um cenário de expansão nunca visto antes.  Junto com eles, o distrito inicia uma nova fase cultural atraindo pessoas de outras localidades próximas e distantes.

Querendo agilizar o acesso a Bicas, o agente Executivo de Guarará Dr. Antero Dutra de Moraes idealiza em 1893 a construção da Estrada de Ferro Guararense, que ligaria a Vila do Guarará a Estação Ferroviária de Bicas. O fornecimento do maquinário e outros itens de tráfego, foi feito pela empresa Lidgerwood Manufacturing Co., Limited sediada nos EUA .

Inaugurada em 23/07/1896 funcionou por pouco tempo devido a diversos problemas entre eles, a locomotiva não era apropriada para o tipo de operação/trajeto, a Estrada de Ferro foi acumulando sérios problemas estruturais e prejuízos ao longo de 1896 até culminar na extinção do tráfego em 1897.

O leito da estrada de ferro ficou sem uso até os fins de 1898, quando o Agente Executivo da Vila de Guarará Álvaro Dias, decidiu utilizar um bonde de tração animal, aproveitando o antigo leito da ferrovia. Assim, a partir de 15/01/1899, foi inaugurada a Ferro Carril Guararense, uma empresa pública que pertencia ao município. Este bonde era puxado por uma parelha de burros que eram engatados à frente. Quando chegava ao fim da linha em Bicas, a parelha de burros era engatada do lado oposto para voltar para Guarará. O bonde permanecia na linha na mesma posição, os bancos viravam para os passageiros ficarem olhando para frente.  Em Guarará, o ponto de parada era na Praça do Divino, no centro, e em Bicas era em frente ao Bar Mênphis, onde hoje é o prédio da Prefeitura Municipal. A Ferro Carril Guararense tinha 4 kilômetros  de extensão, funcionou explorada por particular de 1899 até 1923.  A viagem era de 20 minutos.

A Leopoldina também na 1ª metade da década de 1890, passa a ter problemas de ordem administrativa, por conta de constantes epidemias de cólera, varíola, febre amarela, dentre outros problemas que causaram paralisações e muitos acidentes, então foi necessário sua venda. Assim em 1898, Leopoldina é comprada pelos ingleses e seu nome muda para Leopoldina Railway Company Limited. A principal empresa de Bicas inicia o século XX com uma nova mentalidade com a gestão inglesa.

O distrito de São José de Bicas, inicia o século XX com ruas, comércios e indústrias e uma população expressiva que demanda necessidade de  independência da Vila do Guarará.  No anseio de possuir o seu próprio curato, a população se une para adquirir um imóvel para sediar a casa paroquial.  Assim chega no distrito de São José de Bicas o seu primeiro pároco, o Frei Luiz Reink, que tomou posse em 11/01/1902.

Franciscano, nasceu na Alemanha e veio para o Brasil em 1894. A caridade foi sua maneira de agir. Era um jovem humilde e paciente que atendia a todos, não só com sua presença sacerdotal, mas também distribuindo aos necessitados com alimentos e medicamentos. Usava plantas medicinais para curar as pessoas. Capim limão ( cidreira ) era suas indicações prediletas para males do estômago, fígado, rins, insônias, nervosismo. Chá de folha de goiabeira, casca de pitangueira, xarope de agrião por aí iam os remédios de Frei Luiz.

Seu nome ecoa até hoje por todo o país. Em Jacarepaguá no Rio de Janeiro existe o Lar de Frei Luiz, uma grande instituição de caridade onde são realizados diversos trabalhos sociais em seu nome.

Também no ano 1902 foi lançado em Bicas, o Jornal O POVO, mais um veículo de comunicação no distrito que contribuiu para disseminar mais informações para a toda população. 

O crescimento segue em todos os setores da sociedade, era preciso de  escolas. Assim em 09 de julho de 1905 o Prof. Irineu Cândido de Souza muda para Bicas inaugura o colégio São José. Funcionou numa casa grande no início da rua 15 ao lado da Praça Quintino Bocaiúva, onde hoje tem o seu busto. Irineu Cândido, além de mestre competente e estudioso, era bom orador e redator talentoso. Tanto na Gazeta Municipal como depois no “O Município” publicou artigos e crônicas.  Os cursos eram Primário e Secundário, ministravam aulas de Aritmética, Português, Francês, História do Brasil, História Natural, Latim e Inglês. Dentre vários alunos notáveis, um dentre muitos foi Emil Farhat que na década de 30 escreve o romance o Cangerão e recebe a maior premiação da língua portuguesa.

As obras da capela do Sagrado Coração de Jesus foram noticiadas pelo jornal O Pharol em 17 de maio de 1906. 

 Sua construção foi um desejo da Baronesa de Catas Altas, que solicitou ao Barão de Catas Altas que a construísse em cumprindo a uma promessa feita.

O comércio e serviços no distrito de Bicas continuam crescendo e para atender a demanda da população loca, a imprensa de Guarará passa a divulgar as empresas do distrito com mais frequência. Dentre as propagandas da época tinha desde relojoeiros, ourives, importadores, refinarias de açúcar e até fotografo. Isso mesmo, em 1905 bicas já tinha um estúdio de fotografia e o fotógrafo era Isaías Moreira.

Nesse período acontece um marco importante na área rural, que através do decreto estadual de 2.536 de 1909, foi aprovado o estatuto da Sociedade Cooperativa Agrícola de Bicas. A atividade econômica no campo era muito grande nesta período e precisava-se de uma organização maior para atender os interesses da área ruralista.  Momento importante para agricultura local.

Na história de Bicas existiram várias personalidades marcantes, e uma delas foi o Francisco dos Santos Guimarães, o Capitão Guimarães.  Trabalhou na ferrovia em Bicas desde a criação da União Mineira.  Assume a direção da oficina após a chegada da Leopoldina Railway em 1898, e realiza grandiosas obras e prestações de serviços relevantes no distrito durante a sua vida:

Fundou uma Banda de Música em 1915 e o Liceu Operário de Bicas em 1917;

Construiu bueiros de drenagem de águas pluviais, solucionando problemas com velhas casas na Rua dos Operários;  

Criou a Mutualidade Beneficente dos Operários de Bicas em 1924; 

Apoiou a criação da Cooperativa dos Empregados da Leopoldina Railway;

Fundou o The Leopoldina Railway Footbal Club, em 12 de novembro de 1926;

Em 29 de maio de 1910 no distrito de Bicas foi construído (inaugurado) O Grupo Escolar de Bicas, que tempos depois recebeu o nome de Colégio Cel. Souza na rua Dona Ana sobre terreno doado pelo Cel. Souza. Foi o primeiro colégio público do distrito.  Marco importante para educação no distrito.

Álvaro Fernandes Dias em 25 de janeiro de 1912, assina um contrato em Belo Horizonte para instalação da luz elétrica no distrito de Bicas.  Trazendo a energia elétrica e mais progresso no distrito. Cada vez mais o distrito torna-se auto sustentável e independente de Guarará.

A oficina de Bicas era considera uma das seis mais importantes para Leopoldina no Brasil. Aqui se construíam vagões, peças para reposição, manutenções de locomotivas e vagões. O nível técnico da engenharia e dos operários de Bicas era alto. A Leopoldina Railway utilizava dos seus serviços para homologações de equipamentos e máquinas. Uma dessas homologações aconteceu em 1912 quando é produzido no Inglaterra uma locomotiva articulada gigante com nome kitson-Meyer que foi enviada para Bicas a fim de ser homologada para uso nas linhas da região. O corpo técnico de Bicas reprovou a locomotiva, e a locomotiva realmente não teve muito sucesso.

O jornal o Pharol de Juiz de fora de 6/06/1913 noticia a passagem de um automóvel pela primeira vez em Bicas.

A câmara municipal de Guarará em 14 de junho de 1916 , solicita a Leopoldina Railway autorização para passar fio de telefone sobre a linha do trem, e utiliza os postes do CINEMA BRASIL, o objetivo era instalar um aparelho de telefone no Largo da Estação.  O CINEMA BRASIL funcionava no local onde era a sede do antigo conselho distrital, extinto nos primeiros anos do século XX.

O jornal o Pais do Rio de Janeiro, traz em suas notícias em dezembro de 1914 a inauguração do novo templo da igreja matriz de Bicas no dia 08 de dezembro de 1914. 

 A revista o Malho aborda o mesmo assunto e traz foto do padre Rezende no novo altar da paróquia.

 O Jornal o Pais do Rio de Janeiro traz uma matéria no dia 23 de maio de 1915 sobre Bicas e descreve com detalhes o desenvolvimento econômico do distrito neste período.

[1916 - BODAS DE OURO DO BARÃO DE CATAS ALTAS]

Em fevereiro de 1916, a família Bastos reunida em comemoração a bodas de ouro de Antônio José Gomes Bastos (2º segundo Barão de Catas Altas) e Clara Rosalina Gomes Baião, fazem uma foto familiar histórica. 

Presentes nesta foto estão futuras personalidades públicas de Bicas:

 Eduardo Gomes Baião foi delegado de polícia, participou ativamente da emancipação de Bicas.

 Sebastião Gomes Baião foi o segundo agente executivo (Prefeito) de Bicas.

 Maria Antonieta Gomes Baião foi uma grande educadora. Seu nome é atribuído atualmente a uma escola da cidade.

 Antônio Barroso Gomes foi prefeito de Bicas na década de trinta.

 [1918 - FABRICA ALMIRANTE]

 Em 23 de setembro de 1918 um jovem empresário Francisco Curzio cria uma oficina de consertos e fabricação de sapatos por demanda.

 Situada  na rua Cel.  Souza  ao lado da residência da família Curzio.

 Assim nasceu a fábrica de Calçados Almirante, que nos meados dos anos vinte já estava vendendo seus produtos de alta qualidade para todo região, e se tornaria exportadora de calçados para diversos países, como Canadá, Estados Unidos e Alemanha.

 Nos anos 70, a fábrica de calçados empregava 400 operários em nossa cidade.

[1920 - ESPORTE E LEOPOLDINA X 1926 LEOPOLDINA]

O futebol biquense tem sua origem na década de 1910.

Nesta época existia o “Serrano Foot-ball Club”. O time do Serrano era composto de operários da Leopoldina e demais pessoas da sociedade. 

O seu dirigente o Capitão Guimarães desejava mudar seu nome para  Leopoldina.  Isso causou uma cisão entre os jogadores, os que não eram operários  decidiram montar um novo club,  o “Sport-Club Biquense”.  Este fato virou notícia no “Jornal O Guarará” em 20 de junho de 1920.

Após a cisão, o “Serrano Foot-ball Club” passou a ser chamado de “Operário Foot-ball Club” e em 12/11/1925 foi fundado o “The Leopoldina Foot-ball Club”, sendo seu primeiro presidente Francisco dos Santos Guimarães. Iniciando assim a centenária rivalidade entre Leopoldina e Esporte.

 [1921 – 00 ÁGUA SANTA]

No mês do trigésimo primeiro aniversário do distrito de Bicas, o Jornal Gazeta Municipal divulga a evolução sócio-econômica e religiosa do distrito, surgindo um dos primeiros registros sobre um local chamado Água Santa. 

 Água Santa é um local de peregrinação e fé, com vários relatos de curas alcançadas por peregrinos. A sua história tem origem conhecida na década de 1860.

[1921 – 01 BICAS SE TORNA FREGUESIA]

Até 1921, a paróquia de Bicas ainda não era totalmente independente.

Naquela época, para que houvesse a independência era necessário a criação da freguesia eclesiástica na localidade, isso ocorreu em dezembro de 1921.

 O distrito caminha cada vez mais em direção para sua emancipação.

[1921 – 02 TEATRO E CINEMA]

Os primeiros registros do Teatro em Bicas surgiram em 1903 e este localizava-se no salão do Conselho Distrital.

No início, o espaço foi compartilhado, até que, aconteceu a extinção do Conselho, ficando o espaço dedicado ao Teatro.

Neste mesmo local, em 1917 funcionou o CINEMA Brasil. No início dos anos vinte muda de nome para Cinema Bicas. Antes da emancipação houve uma nova mudança de no para   Cinema Central.

 Em 1924 foi necessário construir um novo prédio para o cinema, pois seu espaço foi cedido para a instalação da recente Câmara Municipal.

O novo cinema foi inaugurado no mês de agosto de 1924 e passou a ser chamado de Cine Teatro Central. 

Em 1927 foi inaugurado um segundo cinema em Bicas, com o nome, CINEMA POPULAR, localizado na Rua  Quinze, em frente a Praça Quintino Bocaiúva.

[1922  - 00  INVESTIDORES ÁRABES]

Bicas vivia uma época de ouro com grandes acontecimentos.

No final do século XIX e início do Século XX imigrantes árabes chegam em Bicas.  São investidores e comerciantes com uma nova mentalidade, com eles, começam um novo ciclo de crescimento econômico. 

A economia de Bicas dependia da ferrovia, mas existia um diversificado comércio e indústria.  Bicas com suas indústrias e comércio, se destacava na Zona da Mata, um lugar onde os negócios aconteciam em grande escala, procurado por toda região e sempre comentado nos jornais e revistas do pais.

[1922 – 00 VIÚVAS QUE FIZERAM HISTÓRIA]

Nesta época, as mulheres, não votavam e não exerciam cargos públicos, no entanto, haviam mulheres que  marcaram época.

Uma delas foi Cezaria Maria do Nascimento, conhecida por viúva de Joaquim Martins. Com o falecimento de seu esposo, assume uma grande plantação de café e criação de gado.

Ficou viúva bem jovem com vários filhos pequenos.  Foi a única mulher listada nos indicadores econômicos de Bicas em 1916.  

Avelina Eugénia Sales de Almeida, viúva do segundo casamento de Francisco Sales de Almeida.  Imigraram de Tiradentes para Bicas por volta de 1915. Investiram em várias fazendas na região. 

Viúva Sales teve cinco filhas. Foi uma grande produtora de café.  

O Bairro Viúva Sales originou do seu nome, e a Rua Santa Fé deve-se ao nome da fazenda onde tem a sede do  seu empreendimento. 

Viúva Sales foi oposicionista da política do Dr. Oliveira Souza.

Mariante Popadopoulos, esposa de Salomão David. Imigrantes, ela grega, e ele libanês. 

Ficou viúva em 1927. Investiu em vários setores da economia com seu filho Eduardo e os demais filhos. Eram comércios e indústrias. Fábrica de Sabão, Comércio de Secos e Molhados, Beneficiadora de Arroz, Refinaria de Açúcar, já na década de 20 vendiam combustíveis, eram depositários da STAND OIL COMPANY OF BRAZIL, o  abastecimento dos veículos eram  feitos por uma bomba de combustíveis  instalada em frente ao clube Biquense.

Nas décadas seguintes abrirão postos de gasolina em várias cidades sendo um deles o posto São José.

 As empresas Viúva Salomão & filhos criaram o ciclo econômico do açúcar em Bicas durante os anos 20, 30 e meados de 40. Eram grandes compradores e exportadores.

 Viúva Salomão foi oposicionista da política do Dr. Oliveira Souza.

 [1922 - 01 MISS BICAS]

Aconteciam vários eventos sociais no distrito, um deles foi o concurso de Miss Bicas em 1922, um movimento realizado pelo jornal “O Gazeta Municipal”, com dezenas de candidatas e com votação aberta pela comunidade. 

A Miss Bicas de 1922 foi Geny Dutra de Oliveira com 263 votos.

[1922 - 07 CEL. SOUZA SE RETIRA DA POLÍTICA]

Percebendo a inevitável emancipação de Bicas, Cel. Souza após dirigir o Município de Guarará por três mandatos consecutivos entre 1908 até 1918, publica uma carta em setembro de 1922 anunciando sua saída da política:

 [1922 - 12 - ESTAÇÃO DE BICAS.   TERCEIRA MAIOR EXPORTADORA DE MINAS]

A revista o Malho de dezembro de 1922, traz uma reportagem sobre  a Villa de Guarará e descreve  aspectos sócio econômicos com detalhes sobre os distritos,  relata que  a estação de Bicas estava entre as três maiores em exportação do estado de Minas:

 Bicas já vinha há muito tempo ultrapassando Guarará economicamente e socialmente. Era inevitável a movimentação da social em prol da emancipação.   

[1922 - DR BIANCO VIRA AGENTE DO BANCO HIPOTECÁRIO]

Existia em Bicas um médico e político chamado Dr. Vicente Bianco, reconhecido por muitos como o médico dos pobres. 

Aviava as receitas médicas e doava aos mais necessitados, os remédios da sua própria farmácia, chamada Farmácia Popular. 

Em agosto de 1922, tornou-se correspondente bancário.

 Foi um passo importante para o progresso de Bicas.

Operários e pequenos produtores a partir deste momento puderam  possuir  uma conta de depósitos e pagamentos para qualquer lugar do pais.

Era possível poupar a um juro de 5% ao ano. 

Dr. Vicente Bianco morava na Av. Bianco, sua casa era conhecida como Vaticano.

[1923 – ULTIMA CONCESSÃO DO BONDE]

A última concessão da linha de  bondes  foi assinada em 1922 e deixou de existir em 1923, este fato  deveu a existência dos automóveis , auto-ônibus e caminhões na Villa.

Foi preciso criar uma nova concessão, para os veículos automotores que cada vez mais ganhavam espaço em nossas ruas e estradas.

Em 17/05/1924 a câmara da Villa de Guarará abre uma concessão com  Agilberto Henrique Bastos e Adelino José Ferreira  para exploração deste tipo de transporte, são os primeiros prestadores   de serviço de transporte via auto-ônibus entre Bicas e Guarará.

[1923 – A HISTÓRIA DO JORNALISMO]

O papel da imprensa nessa época era fundamental. No distrito de Bicas circularam diversos jornais antes da emancipação, dentre eles, estão:

O Guarará lançado em 1892,

O Correio de Bicas lançado em 1893,

Gazeta de Guarará lançado em 1897,

O povo lançado em 1897,

A Semana lançado em 1899, 

Em 22/04/1916 foi lançado em Bicas o jornal “Gazeta Municipal” o precursor do secular jornal “O Município”

[1923 - A LANÇAMENTO DO JORNAL O MUNICÍPIO]

Em abril de 1923 o jornal Gazeta Municipal deixa de existir e no seu lugar passa a ser editado o jornal O Município. Era editado na mesma gráfica e o mesmo editor chefe Dr. José Maria de Oliveira Souza.

O jornal O Município inicia suas edições fazendo duras críticas á Câmara da Villa de Guarará.

[1923 - B RECLAMAÇÕES DO POVO SOBRE GUARARÁ]

O distrito arrecadava muito e não recebia os investimentos correspondentes em benfeitorias.  O povo descontente com os serviços começa a se rebelar.

O jornal O Município apoia a causa separatista e infla o movimento com notícias da carência de obras denotando uma omissão da administração da câmara de Guarará para com o distrito de Bicas.

  [1923 - PASSOS INICIAIS DA EMANCIPAÇÃO]

Dr.Vicente Bianco, lidera o movimento separatista com apoio do  2º  Barão de Catas Altas, que delega seu filho Eduardo Gomes Baião para representá-lo por conta da idade. 

Cel. Joaquim de Souza estrategicamente fora da política desde  1922,  delega  o  seu  filho Dr. Oliveira  Souza  para apoiar o movimento,  juntamente com eles Álvaro Dias e Francisco Retto Júnior, dentre outros iniciaram  a marcha triunfante em direção a emancipação de Bicas.

O primeiro problema a ser resolvido foi territorial. O distrito de São José de Bicas para se tornar uma Villa precisava aumentar sua extensão territorial.  Para isso acontecer foi preciso anexar o distrito de Santa Helena que pertencia a Villa de Guarará, o distrito de São Pedro de Pequeri  que pertencia  a Mar de Espanha  e ainda foi necessário que  Péricles Mendonça político de São João Nepomuceno cedesse parte das terras da sua cidade, do morro da Água Santa passando pela fazenda Córrego Amarelo até o pé da Serra das Bicas.

Uma vez atingida as condições necessárias, o congresso estadual criou a Villa de Bicas. As noticias começaram a chegar em agosto de 1923 e o povo entra em delírio.

 No dia 02 de setembro Dr. Bianco e todos os políticos emancipacionistas, lotam uma composição com oito carros, conduzidas entusiasticamente pelo Capitão Guimarães e visitam os distritos anexados  Santa Helena e Pequeri .

 Um júbilo coletivo em nome da nova Villa de Bicas é manifestado pela população dos distritos anexados.

[1924 - 00 INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE BICAS]

O governo do estado convoca eleições em Bicas em 25/11/1923, condição necessária para instalação do município. O resultado foi:

Cel. Álvaro Fernandes Dias                          476 

Dr. Vicente Bianco                                       427

Major Vicente Guedes de Moraes                 401     

Cap. Francisco das Santos Guimarães           386     

Dr. José Maria de Oliveira Souza                  332     

 

A instalação da Villa de Bicas ocorreu no dia 01 de janeiro de 1924. A sede inicial da câmara foi no local onde funcionava o Cinema Central na época. 

A população de Bicas entusiasmada na noite de 31/12/1923 recebeu sobre chuva os ilustres senadores Péricles de Mendonça e Veriato Catão, políticos apoiadores da causa da Villa de Bicas.

Foi um dia marcante na história com duas bandas do Lyceu e a Pequeriense tocando o dia todo na festividade. 

Ás 12:00 horas foi feita a instalação da Câmara e assume a presidência Cel. Álvaro Fernandes Dias o vereador mais votado, e num primeiro ato, realizada a votação do primeiro presidente e vice presidente da Câmara. 

São eleitos respectivamente Dr. Vicente Bianco e José Maria de Oliveira Souza.

Ás 15:00 horas foi lançada a pedra fundamental da construção da nova sede da Câmara Municipal. 

Ás 17:00  horas foi inaugurado o Independência-Hotel de propriedade dos Srs. Araújo & Irmão que abriu pela primeira vez suas portas para  hospedar  os dois senadores que foram  apoiadores da emancipação de Bicas

Dr. Vicente Bianco assinou a primeira ata das sessões dá Câmara Municipal de Bicas com uma caneta de ouro, cravada de brilhantes e esmeraldas, gentilmente oferecida pelas digníssimas filhas do Exmo.  Sr.  2º Barão de Catas Altas.

“O nosso povo permanece o maior  estado de satisfação, alimentando grande esperança no patriotismo da nossa câmara em prol da coletividade, ainda mais quando vemos nos seus representantes homens todos amantes do progresso do município e quê na iniciativa particular já tem prestado relevantes serviços ao lugar.  Nossos parabéns ao povo da Villa de Bicas, com ardentíssimos votos ao Todo Poderoso para que o evoluir do nosso progresso se realize aureolado das bênçãos do céu.”

                                                                                  Dr. Vicente Bianco

A emancipação de Bicas promoveu crescimento em todos os indicadores sociais e econômicos nos anos seguintes.

 São inaugurados novos hotéis.

O hotel Dom Pedro II foi construído em janeiro de 1926 nos fundos do Cine Teatro Central.

 O belíssimo Bicas Hotel foi construído no final da década de vinte, com sua fachada imponente.

Os setores comerciais e de serviços tiveram forte expansão, lojas de diversificados produtos foram inauguradas após a emancipação. Armarinhos, lojas de roupas, tecidos, calçados, papelarias, lojas de móveis e venda de carros Ford e Chevrolet.

 Em 1924 foi fundado o Clube Biquense. Sua imponente  sede foi  inaugurada em  de  julho de 1928. Bicas recebeu no centro da cidade, um  local de grande  beleza arquitetônica para eventos sociais.

Foi iniciada em agosto de 1925 a construção da rodovia Melo Viana ligando Juiz de Fora a Bicas e região, tornando possível as viagens com mais frequência com automóveis, auto-ônibus e caminhões para Juiz de Fora. 

 Em e fevereiro de 1926 chega  em Bicas a primeira agência bancária,  do Banco Comércio Indústria de Minas Gerais, tendo como o  primeiro gerente   Dr. Vicente Bianco. 

É importante lembrar que o Banco Hipotecário de Minas Gerais já estava presente em Bicas desde 1922 através de representantes.  Bicas passou a ter duas instituições bancárias presentes nessa época.

Em março de 1927 foi instalado o distrito de Santa Helena pelo decreto estadual  7541.

A nova Sede da Câmara Municipal foi inaugurada em novembro de 1927. Com a sua arquitetura estilo new-clássica, trouxe mais beleza ao centro da cidade.

Neste mesmo ano na rua Doa Ana,  foi iniciada a construção do centro espírita Francisco de Assis.

 Com a emancipação, a urbanização das ruas e praças chegam a Bicas trazendo mais conforto e beleza para população. 

A arquitetura da cidade se baseava em traços simétricos e retangulares com predominância neo-clássica.  Esse traço arquitetônico aconteceu na maioria das edificações da época, nos prédios públicos e nos privados também.

Predominava uma beleza singular nas ruas.  Comércios, serviços, hotéis e cinemas se completavam harmonicamente sobre a simetria arquitetônica que pairava sobre a cidade. 

Bicas foi construída por pessoas que vieram da região e de outros lugares do mundo em busca de uma vida melhor.  Com muito trabalho e esforço surgiu um povo com sentimento de pertencimento a esta cidade. Um belo lugar para se viver. 

Esta é a história de um Arraial que após 45 anos da chegada do trem se transformou em uma pujante cidade.

Este filme é dedicado a todos aqueles que contribuíram com suas vidas para construir este maravilhoso lugar de se viver, chamado Bicas.

            Parabéns Bicas querida pelo seu centenário!

Palacete do 2º Barão de Catas Altas com a linha férrea passando em frente. Mais acima temos uma lavoura de café ocupando todo morro em frente a Estação de Bicas.