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quarta-feira, 30 de março de 2022

Fundação da Imprensa em Guarará

 

A 15 de maio de 1892, inaugurou-se sob os melhores auspícios, a imprensa neste município. Fundado por Ladislau Rabello de Vasconcellos, José Octaviano Padilha e Theodolindo de Assis, o jornal O Guarará foi o primeiro periódico a ser editado em nossas terras. Foi o impresso que mais tempo circulou em nossa cidade até finalizar suas atividades por motivo desconhecido em 1941.

Tempos depois os fundadores passaram o controle do jornal O Guarará para Joaquim Fróes Vieira Pisco, que manteve as edições semanais do periódico seguindo a mesma linha de divulgação dos gestores anteriores. Com o passar do tempo o jornal foi transferido para a gestão de outras pessoas. Em 1914 o Cel. Afonso Leite juntamente com seu irmão o Tenente Pedro Leite adquire o jornal O Guarará do editor e redator Professor Irineu Cândido de Souza.

No ano de 1916, mais precisamente em 11 de abril, as edições do periódico O Guarará são paralisadas voltando somente a partir de 14/07/1919. A partir desta data não houve novas interrupções e o jornal manteve-se nas mãos do Cel. Afonso Leite até sua desativação. A contribuição de O Guarará para a memória e história de nossa cidade foi imensa em todo seu período de existência. Infelizmente até o momento desconhecemos os motivos que levaram a paralisação das publicações do Jornal O Guarará e qual foi a sua última edição.

Após 1892 outros jornais passaram a ser editados em Guarará. O número exato destes exemplares é desconhecido. È lastimável que grande parte deles não sobreviveu ao tempo para que chegasse ao nosso conhecimento para difusão. Algumas coleções foram perdidas em incêndios residenciais ao longo de décadas passadas para o desespero da História. Outras se deterioram em traças e cupins ao ponto de serem perdidas totalmente conforme relatos obtidos.

Os jornais existentes em Guarará eram publicados em maior parte na Tipografia de O Guarará e na do Jornal A Gazeta de Guarará, pertencente ao jornalista Francisco de Sequeiros Teixeira. Com o passar das décadas outros impressos que foram surgindo eram confeccionados em diversas tipografias que foram se tornando populares na região.

De acordo com informações coletadas em diversos meios tivemos com edição em Guarará ao longo do tempo os seguintes jornais: O Guarará, O Autonomista em 1893, O Diabinho, A Semana, A Gazeta de Guarará, A Bússola, O Amaryllis, O Lírio, O Gavião, A Abelha, O Juvenil e Vozes Infantis do Grupo Escolar Ferreira Marques, O Poste do saudoso Olivan Abrahin e por fim a Voz de Guarará criado em 2010 e que permanece apenas na versão digital atualmente.

Durante mais de meio século os jornais impressos foram à forma mais rápida e eficiente de fazer a informação chegar a diversos locais, em especial nas pequenas cidades em menor intervalo de tempo. Na maioria das ocasiões os jornais eram transportados em malotes no interior dos vagões de carga dos trens que cortavam as serras da região chegando rápido ao seu destino.

Com o passar de décadas e com a presença cada vez mais popular do rádio e da TV nos lares da região, os jornais impressos foram perdendo espaço. Aos poucos os jornais existentes foram sumindo das bancas e a fonte de noticiais foi transferindo para outros meios. Uma época de glamour e belos escritos chegara ao fim. A cultura e a memória de nossa cidade e de municípios da região saindo perdendo de goleada com este duro golpe que ceifou um dos meios mais antigos de comunicação.

É possível e benéfico para nossa História que após a divulgação desta matéria venham a surgir novos nomes e informações de jornais que foram editados em Guarará em tempos remotos. Muitos recortes do passado podem estar no fundo do baú de famílias tradicionais que viveram por várias gerações em Guarará á muitas décadas atrás e que no decorrer do tempo migraram para outras cidades e regiões do país em busca de melhores condições de vida.

Fonte: Criação da Imprensa - Jornal O Guarará de 14/07/1930 (adaptado)


Abaixo citamos alguns exemplos de Jornais publicados em Guarará, Maripá e Bicas:


Jornal O Guarará de 26/10/1892.


Jornal O Diabinho, uma raridade. Esta imagem foi obtida numa casa de leilões em 2018.


Jornal O Guarará de 11/04/1895.


Jornal A Gazeta de Guarará editado em 15/05/1898.


Jornal A Semana em 09/02/1899.


Jornal O Gavião de 17/06/1928.


Jornal A Abelha em 29/11/1931.


Jornal O Maripaense com data de 18/03/1900. Até o momento não encontramos informações sobre este raro jornal.


Jornal A Bússola editado em Bicas - 28/04/1901.


Jornal O Município editado em Bicas - 24/06/1923.


Bicas Jornal em 26/07/1925.


Jornal O Biquense editado em 11/11/1951.


sexta-feira, 18 de março de 2022

Futebol no Passado

 

A presença do futebol em terras guararenses é antiga, mas carece de informações precisas.  O Cruzeiro Futebol Clube foi o primeiro time expressivo a ser fundado em data desconhecida. Em 1930 o Cruzeiro já existia em pleno funcionamento. Posteriormente em 1935 houve a fundação do Guararense Futebol Clube segundo reportagem do jornal O Guarará. Entre as décadas de 1920 a 1940 encontramos atuação frequente dos times do Cruzeiro, do Guararense e de combinados locais em partidas amistosas e oficiais, tanto no município, quanto na região.

Ao longo dos anos surgiram outros pequenos times de várzea que tentaram rivalizar com os já tradicionais clubes do Cruzeiro e Guararense, mas sem obter o merecido prestígio. O time que conseguiu maior destaque entre os pequenos foi o da Congregação Mariana Futebol Clube criado em 1940. O futebol no passado estava ligado a eventos cívicos, festividades políticas, sociais e religiosas em Guarará, conforme apuramos em diversas edições do Jornal O Guarará. Aliás, O Jornal O Guarará, era a principal fonte de informações de divulgação das atividades desportivas em nossa cidade, em especial o futebol.

Naqueles tempos não havia campeonatos municipais nos moldes contemporâneos. As disputas não levavam a competições internas pelo que foi apurado. O sentido das partidas era interativo e social. A Prefeitura Municipal apoiava os clubes nas partidas quando elas eram festivas ou quando levavam os interesses de promoção do município a outros lugares da região.

As partidas envolvendo os times locais e os convidados da região geralmente eram acompanhadas por grande público. A interação entre o futebol e a população era expressiva em todas as camadas sociais da época em questão. O futebol era um instrumento agregador, mesmo com as rivalidades políticas já existentes no campo, onde certo time já era associado a determinado grupo político. Todas as agremiações guararenses eram amadoras.

O local onde aconteciam as partidas urbanas na década de 1930 e 1940 era mencionado como sendo um campo existente nas proximidades da Praça Raul Soares nas reportagens consultadas. Este local hoje em dia é o Estádio Municipal Prefeito Antero Rocha inaugurado em 1988. Na ocasião o recinto pertencia ao Guararense Futebol Clube.

Até o momento não foram encontradas informações acerca do ano que ocorreu às primeiras partidas de futebol realizadas em nossas terras. Os registros quanto à presença do futebol por aqui são escassos, apesar da grande popularidade em todos os cantos da cidade. Sabemos que a prática do futebol era comum entre nossos jovens e adultos em tempos remotos. A falta de registros documentais e fotográficos das partidas nas primeiras décadas do século XX traz uma lacuna na história desta importante prática desportiva em Guarará. Esperamos um dia suprir esta carência com informações e registros que possam surgir após a divulgação deste texto.


Uma partida de futebol em Guarará. Registro sem data.



Imagem extraída do Jornal O Guarará em 1930.


Imagem da Sede do Cruzeiro extraída do Jornal O Guarará em 1930.

Fundação do Guararense F. C. em 1935. Texto extraído do Jornal O Guarará.


Partida do Guararense x Comercial em 1937.


Jogo entre o Guararense e  a Congregação Mariana em 1940.


quarta-feira, 9 de março de 2022

ELEIÇÕES DE 01/11/1900

 

As eleições municipais realizadas no passado possuíam características singulares daquela época onde não havia rádio e muito menos máquina de escrever. O acesso ao telefone nesta região permanecia muito limitado. O meio de comunicação mais veloz ainda era o bom e eficiente telegrama. O número de eleitores era pequeno e as mulheres ainda não tinham o direito ao voto.

A organização dos pleitos municipais era burocrática e demorada, já que todo processo era manual. As listagens contendo os nomes dos eleitores precisavam ser revistas com antecedência para corrigir os erros existentes na data de nascimento, nomes trocados ou em duplicidade. As falhas e omissões nos dados dos votantes eram comuns e exigiam bastante atenção dos presidentes de seção e mesários. Muitos erros de ortografia com relação aos nomes de filiação (pais) dos eleitores eram identificados a todo o momento nas listas e nem sempre corrigidos a tempo. Ainda havia os casos relativos a fraudes intencionais promovidas por alguns políticos visando benefício próprio ou de seu grupo no dia da votação.

Outro fator que chamava atenção, mas ainda era pouco comentado oficialmente era a presença do voto de cabresto vinculado aos coronéis da velha política municipal, que acirrava os ânimos antes e no dia da eleição. A força policial era pequena tanto na Sede (Guarará) e nos distritos de Bicas e Maripá e geralmente faziam vista grossa para beneficiar certos grupos políticos. As brigas e tumultos eram previsíveis e em certas ocasiões extrapolavam para fora do viés político daquele dia.

As eleições realizadas em 01/11/1900 foram muito disputadas e conturbadas com denúncias de compra de voto e intimidação em todos os locais de votação do município por parte dos cabos eleitorais vinculados ao Dr. Emílio Luiz Rodrigues Horta vencedor da apuração (455 votos) e ao Barão de Catas Altas (279 votos), que foram os concorrentes ao cargo de Agente Executivo Municipal para o mandato de 1901-1904. Além da escolha do Agente Executivo, houve votação para vereadores gerais e especiais (Distritos), Conselhos Distritais da Sede e Distritos e Juiz de Paz.

O resultado do pleito era confirmado por uma Junta Apuradora alguns dias depois. Após a reunião da junta, emitia-se um documento que após assinado por todos os responsáveis pela execução e acompanhamento do processo eleitoral, este era remetido ao Presidente da Câmara Municipal oficializando o resultado do escrutínio. O processo parecia ser bem organizado para os padrões daquele tempo, apesar de burocrático. O edital contendo o resultado do processo eleitoral era impresso e fixado na porta da Câmara Municipal, órgãos públicos e alguns estabelecimentos comerciais.

Nestas eleições não estavam em evidência somente o cargo político e suas vantagens, mas sim toda uma rede de influência econômica e social presente na vida das pessoas que viviam nos limites do município. Os interesses políticos regionais também despertavam atenção visando estabelecer uma rede de influências na capital Belo Horizonte juntamente com outros grupos políticos de cidades próximas.

Pelo que observamos em diversos documentos municipais de despesas daqueles tempos, a população pobre e humilde não tinha grandes benefícios com as eleições municipais. As vantagens ficam nas mãos de poucas pessoas ou grupos reduzidos ligados ao governante que ocupava o poder. Não havia grandes obras de infraestrutura urbana e rural. As intervenções consistiam em limpeza de prédios públicos, ruas, praças, córregos e consertos de pontes. Aliás, o serviço de conserto e construção de pontes de madeira era o item que mais chamava atenção em todas as gestões do passado. Naquele tempo ainda não havia pontes de concreto no município e as de madeira tinham um desgaste maior devido ao transito de carros de boi e carroças levando a produção agrícola de um canto para outro.

Esta forma de divulgação do processo eleitoral municipal via edital impresso foi a mais usada até fins da década de 1920 na cidade de Guarará pelo que conseguimos apurar. A maioria dos pleitos teve seu resultado exposto seguindo este modelo de documento, que apresentamos na sequência relativo à eleição de 01/11/1900. Infelizmente nem todos os editais sobreviveram ao passar de décadas para contar um pouco da nossa história política e suas particularidades.


Edital com o resultado das eleições de 01/11/1900 em Guarará.