A história do Bairro
Areal, São Paulo e Cutieira em Guarará, juntamente com o Bairro São Pedro, a
Rua da Caixa e do Bonde, virando para o lado do Bairro Edgard Moreira em Bicas,
é antiga, interessante e raramente conhecida diante dos olhos das comunidades
destas duas cidades, que quase nada conhece sobre os primórdios desta vasta
área povoada na atualidade, que num passado distante era uma só propriedade no
Distrito do Espírito Santo.
Toda a extensão das
localidades mencionadas e um pouco mais adiante pertencia no século XIX à área
da tradicional Fazenda Boa Vista, que fazia divisa com a Fazenda Três Barras e
outras. O local era pertencente ao casal Jeronimo Dias Mendes, falecido em
07/09/1868 e Joaquina Roza do Espírito Santo, falecida em 1892, filha de Ana
Roza do Espírito Santo e José Antônio de Oliveira, falecido em 1871.
Parte de suas terras
confrontava-se com o Patrimônio do Divino Espírito Santo por vários lados e
outros proprietários como Dona Laudelina Leopoldina Tostes, Honório José de
Andrade, João Maria Evangelista, Capitão Antônio Ribeiro de Oliveira e os
espólios de Francisco Gonçalves de Souza, Cap. José Antônio de Oliveira, Dona
Anna Reginalda do Espírito Santo (neta de Domingos Ferreira Marques e mãe do
Cel. Souza), dentre outros. Seu limite por uma face era com os marcos (cruzes
de pedra bruta com extremidades abertas) existentes naqueles tempos nos morros
da Sesmaria da Saracura, que pertenceu a herdeiros imediatos da família
Ferreira Marques por mais de um século.
A propriedade
destacava-se no cultivo do café, assim como os outros imóveis em volta. Tinha
uma área destinada à pastagem para gado de leite e sustento dos animais de
serviço. Assim como a maioria das fazendas da região, era dotada de mão de obra
escrava para as tarefas do campo e do entorno da sede.
Uma curiosidade que
chama atenção quanto às terras da fazenda é a presença da extração de “areia”
desde a década de 1880 em algumas partes mais altas, que era abundante na
superfície local, sem precisar fazer grandes escavações no entorno. Aliás, essa
areia era comercializada na Vila do Guarará e no Distrito de Bicas. O produto
extraído era transportado por carroças e carros de boi até o destino final
conforme vários relatos verificados no arquivo antigo da Prefeitura de Guarará
referente à década de 1890.
A areia era usada na
manutenção de estradas da propriedade, nas vias de ligação entre Guarará e
Bicas, nos canteiros de jardins e em diversas obras particulares e públicas na
região próxima. O local de extração era conhecido como “Areial” nas citações
presentes em documentos antigos. Com o passar de inúmeras décadas a área em
volta continuou a ser conhecida por Areal e o local veio a ser nomeado como
Bairro Areal no século XX pela Prefeitura de Guarará.
Após o falecimento de
Dona Joaquina do Espírito Santo ocorrido em 04/03/1892 à área da Fazenda Boa
Vista começou a ser desmembrada em favor dos herdeiros Jeronymo Dias Mendes,
Joaquim Dias Mendes, Jeronymo de Oliveira Mendes, Marcelino, Dona Messias Maria
Roza, Dona Francisca Rosa do Espírito Santo, Dona Joaquina, Dona Anna Rosa de
Jesus, Dona Maria Antônia, Dona Maria Joana e com isso veio a se fragmentar em
propriedades menores no decorrer da década de 1890 e início do século XX.
Alguns herdeiros com o
passar dos anos venderam suas posses para compradores que não tinham vínculos
com a família. Os novos donos foram fracionando suas terras em lotes menores,
que com o passar do tempo foi abrindo espaço para a expansão da povoação daquela
área próxima, que viria a ser primeiramente a Rua do Bonde por onde passaria os
trilhos da Estrada de Ferro Guararense em 1896 e a Linha de Bondes Ferro Carril
até 1923. Tempos depois com nova fragmentação destas áreas surgiu a Rua da
Caixa e posteriormente o Bairro Edgar Moreira e adjacências.
Um dado curioso e
desconhecido é que boa parte da extensão das terras da Fazenda Boa Vista, entre
o Areal até parte da Rua do Bonde, seria cortada de uma extremidade a outra
pela linha férrea do trem que ligaria a sede da Vila do Espírito Santo do
Guarará ao Distrito de São José de Bicas. As obras nesse sentido iniciaram-se
por volta de 1894. Uma fração dos herdeiros discordava de tal iniciativa
alegando que o trajeto da linha férrea cortando as melhores terras da propriedade
ia desvalorizar o imóvel com o tempo e prejudicar o trânsito de animais e a
colheita do café. O principal oponente foi Jeronymo Dias Mendes, que era o
herdeiro caçula.
No decorrer dos anos
seguintes houve tentativas de acordo entre o s.r. Jeronymo e a Câmara Municipal
em busca de um valor para a indenização. O reclamante julgou ser pequeno o
valor ofertado e nas idas e vindas em questionamentos junto ao legislativo, o
caso acabou indo para a justiça e o solicitante ganhando a causa no valor desejado.
Esgotado os recursos, a Câmara aprovou a indenização a ser paga em 14 apólices através
da Lei n° 01 de 18/01/1898 pelo uso do trecho que passava a linha férrea. Em
1901 o s. r. Jeronymo arremata em hasta pública todo material rodante
(locomotiva, vagão de passageiro e girador) da extinta estrada de ferro
guararense.
A parte mais
questionada pela passagem da linha férrea era o trecho que atualmente
compreende toda extensão do Bairro Areal em Guarará e parte da Rua do Bonde em
Bicas, que por sinal na ocasião ficava o cafezal e as melhores terras da
propriedade. Inclusive era nesse local que era feita a extração de areia e
cascalho, que gerava uma boa renda para a Fazenda Boa Vista.
Desde as últimas
décadas do século XX que o local não tem extração de areia nas clareiras que
ficaram abertas como marcas da atividade humana extrativista de um tempo
passado. Atualmente pode ser observada a presença de duas grandes clareiras em
meio às encostas do entorno. No morro ao fundo do Bairro São Paulo, temos uma
área remanescente da exploração e próximo ao 1º trevo de acesso a cidade de
Bicas encontramos outro local. No século XIX ambos os locais pertenciam a
Fazenda Boa Vista.
Vista a partir do Bairro São Paulo em Guarará. Ao fundo temos umas das clareiras deixadas pela exploração de saibro no passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário