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sexta-feira, 3 de março de 2023

História de Logradouros entre Guarará e Bicas

 

A história do Bairro Areal, São Paulo e Cutieira em Guarará, juntamente com o Bairro São Pedro, a Rua da Caixa e do Bonde, virando para o lado do Bairro Edgard Moreira em Bicas, é antiga, interessante e raramente conhecida diante dos olhos das comunidades destas duas cidades, que quase nada conhece sobre os primórdios desta vasta área povoada na atualidade, que num passado distante era uma só propriedade no Distrito do Espírito Santo.

Toda a extensão das localidades mencionadas e um pouco mais adiante pertencia no século XIX à área da tradicional Fazenda Boa Vista, que fazia divisa com a Fazenda Três Barras e outras. O local era pertencente ao casal Jeronimo Dias Mendes, falecido em 07/09/1868 e Joaquina Roza do Espírito Santo, falecida em 1892, filha de Ana Roza do Espírito Santo e José Antônio de Oliveira, falecido em 1871.

Parte de suas terras confrontava-se com o Patrimônio do Divino Espírito Santo por vários lados e outros proprietários como Dona Laudelina Leopoldina Tostes, Honório José de Andrade, João Maria Evangelista, Capitão Antônio Ribeiro de Oliveira e os espólios de Francisco Gonçalves de Souza, Cap. José Antônio de Oliveira, Dona Anna Reginalda do Espírito Santo (neta de Domingos Ferreira Marques e mãe do Cel. Souza), dentre outros. Seu limite por uma face era com os marcos (cruzes de pedra bruta com extremidades abertas) existentes naqueles tempos nos morros da Sesmaria da Saracura, que pertenceu a herdeiros imediatos da família Ferreira Marques por mais de um século.

A propriedade destacava-se no cultivo do café, assim como os outros imóveis em volta. Tinha uma área destinada à pastagem para gado de leite e sustento dos animais de serviço. Assim como a maioria das fazendas da região, era dotada de mão de obra escrava para as tarefas do campo e do entorno da sede.

Uma curiosidade que chama atenção quanto às terras da fazenda é a presença da extração de “areia” desde a década de 1880 em algumas partes mais altas, que era abundante na superfície local, sem precisar fazer grandes escavações no entorno. Aliás, essa areia era comercializada na Vila do Guarará e no Distrito de Bicas. O produto extraído era transportado por carroças e carros de boi até o destino final conforme vários relatos verificados no arquivo antigo da Prefeitura de Guarará referente à década de 1890.

A areia era usada na manutenção de estradas da propriedade, nas vias de ligação entre Guarará e Bicas, nos canteiros de jardins e em diversas obras particulares e públicas na região próxima. O local de extração era conhecido como “Areial” nas citações presentes em documentos antigos. Com o passar de inúmeras décadas a área em volta continuou a ser conhecida por Areal e o local veio a ser nomeado como Bairro Areal no século XX pela Prefeitura de Guarará.

Após o falecimento de Dona Joaquina do Espírito Santo ocorrido em 04/03/1892 à área da Fazenda Boa Vista começou a ser desmembrada em favor dos herdeiros Jeronymo Dias Mendes, Joaquim Dias Mendes, Jeronymo de Oliveira Mendes, Marcelino, Dona Messias Maria Roza, Dona Francisca Rosa do Espírito Santo, Dona Joaquina, Dona Anna Rosa de Jesus, Dona Maria Antônia, Dona Maria Joana e com isso veio a se fragmentar em propriedades menores no decorrer da década de 1890 e início do século XX.

Alguns herdeiros com o passar dos anos venderam suas posses para compradores que não tinham vínculos com a família. Os novos donos foram fracionando suas terras em lotes menores, que com o passar do tempo foi abrindo espaço para a expansão da povoação daquela área próxima, que viria a ser primeiramente a Rua do Bonde por onde passaria os trilhos da Estrada de Ferro Guararense em 1896 e a Linha de Bondes Ferro Carril até 1923. Tempos depois com nova fragmentação destas áreas surgiu a Rua da Caixa e posteriormente o Bairro Edgar Moreira e adjacências.

Um dado curioso e desconhecido é que boa parte da extensão das terras da Fazenda Boa Vista, entre o Areal até parte da Rua do Bonde, seria cortada de uma extremidade a outra pela linha férrea do trem que ligaria a sede da Vila do Espírito Santo do Guarará ao Distrito de São José de Bicas. As obras nesse sentido iniciaram-se por volta de 1894. Uma fração dos herdeiros discordava de tal iniciativa alegando que o trajeto da linha férrea cortando as melhores terras da propriedade ia desvalorizar o imóvel com o tempo e prejudicar o trânsito de animais e a colheita do café. O principal oponente foi Jeronymo Dias Mendes, que era o herdeiro caçula.

No decorrer dos anos seguintes houve tentativas de acordo entre o s.r. Jeronymo e a Câmara Municipal em busca de um valor para a indenização. O reclamante julgou ser pequeno o valor ofertado e nas idas e vindas em questionamentos junto ao legislativo, o caso acabou indo para a justiça e o solicitante ganhando a causa no valor desejado. Esgotado os recursos, a Câmara aprovou a indenização a ser paga em 14 apólices através da Lei n° 01 de 18/01/1898 pelo uso do trecho que passava a linha férrea. Em 1901 o s. r. Jeronymo arremata em hasta pública todo material rodante (locomotiva, vagão de passageiro e girador) da extinta estrada de ferro guararense.

A parte mais questionada pela passagem da linha férrea era o trecho que atualmente compreende toda extensão do Bairro Areal em Guarará e parte da Rua do Bonde em Bicas, que por sinal na ocasião ficava o cafezal e as melhores terras da propriedade. Inclusive era nesse local que era feita a extração de areia e cascalho, que gerava uma boa renda para a Fazenda Boa Vista.

Desde as últimas décadas do século XX que o local não tem extração de areia nas clareiras que ficaram abertas como marcas da atividade humana extrativista de um tempo passado. Atualmente pode ser observada a presença de duas grandes clareiras em meio às encostas do entorno. No morro ao fundo do Bairro São Paulo, temos uma área remanescente da exploração e próximo ao 1º trevo de acesso a cidade de Bicas encontramos outro local. No século XIX ambos os locais pertenciam a Fazenda Boa Vista.



Imagens atuais do Bairro São Paulo a direita em Guarará e São Pedro a esquerda em Bicas.
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Imagens atuais das paisagens do Bairro São Paulo a direita em Guarará e São Pedro a esquerda em Bicas.

Vista a partir do Bairro São Paulo em Guarará. Ao fundo temos umas das clareiras deixadas pela exploração de saibro no passado.

Parecer da Câmara de Guarará autorizando o pagamento da indenização  a Jeronymo Mendes.

Lei n° 01 de 18/01/1898 sancionando o pagamento da indenização. O Agente executivo na ocasião era Álvaro Fernandes Dias.

Lei n° 01 de 18/01/1898 sancionando o pagamento da indenização. O Agente executivo na ocasião era Álvaro Fernandes Dias.


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