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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Capela de São Sebastião

 

Localizada numa colina tendo de um lado o Cemitério Municipal, do outro as instalações do Instituto Dona Selva e de frente um mirante, onde é possível contemplar parte da área central antiga de Guarará. Possui uma paisagem deslumbrante onde as montanhas recortam um cenário perfeito para reflexão nos fins de tarde ensolarados de verão.

A Capela de São Sebastião começou a ser construída na década de 1880, tendo sido concluída em 1889, conforme inscrição gravada abaixo da sigla SS. A data exata e a documentação do início até o final da construção permanecem desconhecidas.

Uma questão que chama atenção é o fato de parte das obras da Capela de São Sebastião ter sido custeada com recursos públicos do governo provincial de Minas Gerais através da Lei n° 3490 de 04/12/1887. Na ocasião ainda não havia a separação entre Igreja Católica e o Governo Imperial no Brasil, algo que veio a ocorrer somente em 07/01/1890 através do Decreto n° 119-A.

Anteriormente no mesmo local existiu outra capela em proporção muito menor, sob a mesma invocação, na ocasião um pouco recuada para a parte mais alta do cemitério. Na sua frente existiam algumas sepulturas, que foram conservadas com a edificação da nova capela. O número preciso de sepulturas que estão abaixo da atual Capela de São Sebastião é desconhecido visto que, só os túmulos de pessoas mais agraciadas perante a sociedade local daquela época é que foram preservados através da colocação de mármore em suas lápides.  

Um fato curioso é que quando olhamos atentamente a Capela de São Sebastião, ela está com sua face voltada para a área onde se encontra a Matriz do Divino Espírito Santo num vale pouco abaixo. Foi justamente no entorno deste pequeno vale abaixo que teve inicio o povoamento do arraial do Espírito Santo a partir de 1828. Segundo relatos orais, a pequena capela anterior, cujas características são desconhecidas conservava a mesma disposição.

A leitura de um testamento em 25/02/1880 pertencente à Dona Joana Maria da Conceição, proprietária da Fazenda Bom Sucesso, na divisa com a do Desengano, menciona que ela após sua morte desejaria ser sepultada na Capela de São Sebastião. Se tal fato ocorreu ou não, ainda carece de outras pesquisas históricas.

Seu estilo possui traços ecléticos, e o seu interior, apesar do tamanho reduzido, é semelhante ao altar-mor e aos altares laterais presentes na Matriz do Divino Espírito Santo. A grande diferença em relação à Matriz está no arqueamento presente nas laterais que circundam a parte interior. Os arcos são sustentados por uma laje em concreto que é acessada via escada pelo lado direito do altar-mor, proporcionando acesso a todas laterais e a torre onde está o sino.

Atualmente é o templo católico mais bem preservado quanto às feições originais, se comparado com a Matriz e outras Capelas de Guarará, que sofreram fortes alterações estilísticas ao longo de mais de um século de fé e devoção por parte de seu povo. Talvez seu menor desgaste em relação a outros imóveis de uso religioso possa se dar em razão de estar um pouco mais recuada da área central e num ambiente com menor número de residências e pessoas ao redor.

Uma das alterações mais significativas foi à remoção do piso de tábuas por ladrilho hidráulico em 1962. Outra mudança foi à substituição da escada de acesso ao coro em madeira e no momento em concreto armado. Na lateral esquerda próxima a porta há uma inscrição na parede em massa datada de 1934. Ao efetuar uma análise mais detalhada em volta desta marcação não foi possível identificar seu significado.

Em 2004 a Capela passou por uma restauração quanto à pintura interna, externa e dos altares. Os altares receberam ajustes nas partes de madeira. Uma nova rede elétrica foi implantada. Houve grandes retoques no embolso da parte inferior das paredes internas e externas. O forro em madeira foi recuperado e peças do telhado,juntamente com algumas telhas foram substituídas na ocasião.

Pelo seu legado histórico e cultural para a comunidade guararense ao longo de toda sua existência, a Capela de São Sebastião foi inventariada em 2009 como um marco da devoção religiosa de nossa gente valorizando desde os primórdios onde era uma pequena capela de cemitério até chegar ao período recente.

 A seguir apresentamos algumas fotos da Capela de São Sebastião:














Registro muito antigo, mas sem data da parte frontal da Capela de São Sebastião.


Capela de São Sebastião no início da década de 1930.

Imagem de 1902 com a Capela de São Sebastião ao fundo. Esta foto é a mais antiga que temos no acervo.

Década de 1940. No alto do morro observamos a Capela de São Sebastião.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Teatro Municipal Parte 02

O prédio do Teatro Municipal é um valioso bem histórico e cultural e por isso está incluído no Patrimônio Histórico de Guarará desde 2003. No entorno próximo é o único exemplar do gênero que sobreviveu ao tempo e a desvalorização das artes cênicas.

O sólido, moderno, confortável e lindo Teatro Municipal que a Prefeitura local acaba de construir nesta cidade, vai ser festivamente inaugurado no dia 23 do andante. | Era o único próprio público de que se ressentia esta| cidade, que agora fica dispondo de tudo necessário ao relativo conforto e bem-estar de sua população. É mais um importante e útil marco que fica assinalando à fecunda administração de que desfruta o nobre povo guararense, construído e já pago pela respectiva verba orçamentária, despendida sem o sacrifício de outros serviços municipais. Sabemos que não foram pequenos os esforços dos empreendedores dessa magnífica obra educativa e recreativa Mas, sabemos também que não lhes faltou o apoio e a boa vontade de nossa gente. Vários foram os donativos recebidos, entre os quais é de se registrar mais uma vez a rica e artística Bandeira Nacional, oferta das damas guararenses, e iniciativa e confecção do ilustrado corpo decente do Grupo local; a superior cortina da boca de cena, oferecida pelo Cel. Bertholdo Garcia Machado; o letreiro luminoso da fachada principal, dádiva do funcionalismo federal, estadual e municipal local, e o fardamento para a corporação musical, presente valioso do Cel. Pedro Leite. O nosso Teatro está lindamente decorado, mobiliado, dispondo de tudo mais necessário ao fim a que se destina. Satisfaz, com vantagens, exigências locais, e oferece aos espectadores conforto e ambiente que devem agradar ao gosto mais exigente. Sua inauguração será ás 19 horas em ponto, com o seguinte programa, sujeito a modificações: Apoteose á República, sendo o Hino Nacional cantado por 21 meninas, representando, cada uma, um Estado da Federação Brasileira; discurso do Prefeito e orador oficial da solenidade; Hino da Bandeira, por um coro de meninas; um ato variado, e a representação da interessante comédia "Não me contes esse pedaço", por um grupo de amadores locais. Só terão ingresso as pessoas previamente convidadas e munidas de um cartão cujo número corresponde ao da cadeira que lhe está designada. Por não ser possível convite geral, o mesmo espetáculo será repetido no dia seguinte, dedicado às pessoas que, somente por falta de espaço, não puderam ser chamadas para o ato inaugural, e as crianças das escolas públicas, sendo os ingressos distribuídos na hora, na bilheteria do Teatro. Por mais esse melhoramento antecipamos nossos parabéns, não ao nosso grande Prefeito, mais ao querido povo de nossa amada terra.

Jornal O Guarará, ANNO XXI, N.º 21 Guarará, 01 de junho de 1940

 

Sua Brilhante Inauguração

 Vinte e três de junho de mil novecentos e quarenta ficou registrado em nossa historia local como uma das grandes datas para o nosso município. É que nesse dia ficou completo o quadro de próprios municipais necessários ao aparelhamento da boa administração e ao merecido conforto da nossa população, e enriquecido o nosso patrimônio público com mais um imponente prédio de valor - o Teatro Municipal — cuja inauguração foi imponente e surpreendente, graças aos esforços, sem par, do nosso relator e a boa vontade do nosso estimado Prefeito, Cel. Bertholdo Garcia Machado. Por iniciativa do digno vigário, Revmo. Pe. Oscar de Oliveira, nossas principais ruas amanheceram engalanadas, e durante o dia o movimento da nossa urbe foi desusado, havendo vários exercícios esportivos.

Às 19 horas, repleto o teatro de distintas famílias deste e dos municípios circunvizinhos, especialmente convidados, rompeu a banda, musical "10 de Novembro" o Hino Nacional e no palco se descortinou o empolgante quadro — apoteose à República — estando esta e os Estados da Federação representados por 22 mimosas meninas vestidas a caráter. Findo o hino, cena aberta, aparece no palco à prestimosa figura do Prefeito, Cel. Bertholdo Machado, que num belo discurso declarou inaugurado o teatro, passando a palavra ao orador oficial da solenidade. Revmo Pe. Oscar de Oliveira que, com a cultura e proficiência que lhe são peculiares, produziu empolgante oração delirantemente aplaudida. Seguiu-se o hasteamento da Bandeira Nacional, no palco, com o respectivo hino entoado por 21 meninas. Foi um momento de geral comoção. Esses dois lindíssimos quadros despertaram vivo entusiasmo e aplausos da assistência.

Teve, então, lugar a representação de um ato variado, canto, canções, declamações, _cena cômica e etc, no qual tomaram parte as interessantes crianças - Terezinha e Edson Monteiro, Clidene de Araújo, Paula, Misael e Iraídes Costas, os quais foram de grande felicidade no desempenho da representação que a cada um coube pelo que foram todos entusiasticamente aplaudidos. Aos presentes foram distribuídos bombons e doces variados. Um grupo de amadores organizado pelo nosso redator, e composto das distintíssimas senhoritas, normalista Laura Alvim Tostes, professoras Aparecida Tostes, Nivalda de Souza, Cileia Galil e Regina de Souza, e dos ilustres cidadãos, José Monteiro da Silva, Camilo Abrahão e Arnaud Gribel Filho, levou a cena a hilariante comédia "Não me conte esse pedaço". O desempenho foi perfeito, não se tendo notado a mais ligeira falha. Tão perfeito que a unanimidade dos espectadores tiveram a impressão de estar diante de profissionais da arte dramática. Geralmente, cada qual deu brilhante desempenho ao seu papel, de modo que não se pode fazer destaque individual, eis que o conjunto foi deveras surpreendente. Esse mesmo espetáculo foi repetido no dia seguinte dedicado as exmas famílias que não puderam ser chamadas, para o ato inaugural, por falta de espaço e transcorreu como na primeira representação. Antes dessa última representação, teve lugar a Benção do edifício, ministrada pelo culto e incansável vigário, desta freguesia, Revm. P. Oscar de Oliveira. Benção que foi paraninfada pelas exmas. sras. dona Olívia Machado, Carmosina Leite, Zilda Mattêo, Aida de Assis, Luíza de Carvalho Breyer e Julieta Varanda Rocha.

A orquestra do palco ficou a cargo dos srs. Álvaro Gribel, João Furtado, Sebastião Pires e Moacir Barroso, e a da platéia sob a regência de Otávio de Carvalho, fundador da corporação musical "10 de Novembro". Depois do segundo espetáculo, na Pensão Guararense, o digno Prefeito Cel. Bertholdo Garcia Machado ofereceu ao vitorioso grupo de amadores dramáticos, ótima ceia, da qual comparticiparam pessoas de destaque, entre as quais J. B. de Melo e Pedro Orlando, do alto comércio do Rio de Janeiro. Aí, o nosso redator e diretor cênico das representações, levantou um brinde de agradecimento ao ator que não se viu em cena, mas que muito concorreu para o bom êxito das representações, o mecânico do cenário e palco, o solícito e incansável Ângelo Viggiano. Os nossos parabéns, os nossos aplausos, todo o nosso entusiasmo de hoje, são para as pessoas que tomaram parte nos festejos de tão empolgante quão surpreendente inauguração. Que a nossa gente, principalmente a nossa mocidade se disponha a nos proporcionar momentos agradáveis no nosso Teatro Municipal, são os votos ardentes que a todos dirigimos.

 

Fonte de informações: Arquivo da Prefeitura de Guarará, Jornal O Guarará na ocasião da inauguração do Teatro Municipal e blog o Guararense de Francisco Tânio de Oliveira.