No início de 1922 surgiu à ideia por parte da Câmara Municipal da
Vila do Guarará, da construção de um Monumento ao Centenário de Independência
do Brasil a ser comemorado em 07/09/1922. O local escolhido foi à entrada
próxima a Praça do Divino Espírito Santo, bem em frente ao Grupo Escolar
Ferreira Marques, que ainda funcionava num sobrado antigo. As obras foram
iniciadas no final do 1º semestre, sendo concluídas em período próximo a data
comemorativa do 1º Centenário de independência do Brasil.
Em
2022 o popular “Obelisco” irá comemorar seus 100 anos na Praça do Divino como
um dos mais belos cartões postais da cidade. Ao longo de todo esse tempo o monumento
presenciou diversos acontecimentos marcantes em nosso município e é peça fundamental na
História e Memória de nossa terra.
Nas
linhas seguintes apresentamos o relato da solenidade que levou a inauguração do
Monumento ao 1º Centenário da Independência do Brasil em 07/09/1922. O texto
pertence ao Jornal O Guarará – Ano VI, nº 164, com data de 10/09/1922, editado
na Vila do Guarará. O mesmo foi transcrito pelo Sr Francisco Tânio de Oliveira
que edita o Blog O Guararense.
Iº CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
EM GUARARÁ
A GRANDIOSA DATA DO 1º
SÉCULO DE NOSSA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
Às 5
horas, alvorada pela banda musical “Espiritosantense”, que percorreu a nossa
“urbst”, ao estrugir de fogos, etc.
Às
11 horas, na Matriz, foi celebrada missa solene pelo Revdmo. Cônego Ângelo
Rezende, em homenagem ao grande acontecimento.
Às
13 horas, a Câmara Municipal deu início a sessão comemorativa com o hasteamento
da Bandeira, ouvindo se o Hino Nacional, falando eloquentemente o sr. cap.
Aristides Leite, na qualidade de paraninfo do ato de Juramento á Bandeira, que
fizeram os alunos do grupo escolar “Ferreira Marques”, formados em frente ao
edifício municipal. O juramento proferiu-o, com garbo, a inteligente
quartanista Serafina Rabelo. Os alunos entoaram, após, o Hino à Bandeira, no
que foram auxiliados por diversas senhoritas da nossa sociedade.
Seguiu-se
a sessão especial da nossa edilidade, no salão nobre das reuniões, que foi
hábil e distintamente ornamentado, em cores nacionais pelo inteligente jovem
Newton Gribel.
Repleto
o recinto do que de mais seleto tem a sociedade guararense, assumiu a presidência
da sessão no caráter de presidente da Câmara, em exercício, o coronel Francisco
de Paula Retto Júnior, a quem devemos a iniciativa das festividades a que se
procediam, proferindo s. s. substancioso discurso sobre as solenidades e convidando
para tomarem assento á mesa os senhores vereadores capitães Emídio Braz dos
Santos, Luís Fabris, Cônego Ângelo Resende, cel. Vitor Belfort de Arantes e
cap. José Vieira Camões.
Reunida
assim a Câmara, o sr. Presidente declarou aberta a sessão especial, em comemoração
à nossa Independência e transformou-a após em sessão cívica. Convidou para
tomarem parte na mesa os seguintes senhores: o nosso redator-chefe, cap. Afonso
Leite, na qualidade de chefe político deste município, de real e incontestável prestigio;
cap. Antônio José da Costa Júnior, como juiz municipal, em exercício, do Termo;
Dr. Carlos de Ouro Preto Pereira e professor Luís de Freitas Santos, como
oradores oficiais das festividades: tte. Pedro Leite, como diretor desta folha;
cap. Antero Soares e Afonso Bressane de Araújo, como tabeliães deste Termo:
cap. Laudelino Rabelo de Vasconcelos, como tesoureiro da Câmara: Hermann
Gribel, como secretário da Câmara; dr. Vicente Bianco, como inspetor Escolar
Municipal; cap. Gustavo André Marcelino de Paula, como representante das
industrias: cap. Apolinário Camões, como representante do comercio; cap. José
Alfredo Garcia, Juiz de Paz, em exercício; major José Álvares de Oliveira
Júnior, na qualidade de escrivão de Paz, da Vila; tte. Luís Maroco, como
representante da agricultura; José Domingos Ferreira, como representante do
operariado, cap. Josino Ribeiro da Silva, adjunto do Promotor; cel. Arlindo
Ribeiro, coletor federal, cap. Aristides Leite, como delegado de Polícia: Felix
Neira, como representante da “Gazeta Municipal”, e as exmas sras. d. d. Maria
de Matos Camões, como representante da mulher brasileira, e Gabriela Alves
Prado, como diretora do grupo escolar “Ferreira Marques”.
Organizada
a mesa, o sr. cel. Retto Júnior convidou para dirigir os trabalhos ao
prestigiosíssimo e querido chefe do P. R. M. de Guarará, cap. Afonso Leite,
que, ao assumir a presidência, foi saudado por demoradas vibrantes e acaloradas
palmas da grande assistência, a cuja fidalguia o homenageado agradeceu
sensibilizado concedendo a palavra ao orador oficial, dr. Carlos de Ouro Preto.
O discurso deste brilhante intelectual, que é incontestavelmente um dos mais
belos talentos da atual geração de professores mineiros, foi uma página
eloquente, onde, através de um estilo elevado, ao alcance de bem poucos, se
(...) um histórico completo de todos os acontecimentos políticos do Brasil
desde o seu descobrimento até aos nossos dias. Carlos de Ouro Preto, com uma fecundidade
inexcedível de imaginação e vocabulário, de idéias e civismo, soube manter-se
numa altura, digna da admiração e do apreço de que goza no meio intelectual de
Minas o seu nome de escritor emérito e orador vibrante.
Depois
de 50 minutos, entrou o orador na peroração, erguendo um hino de fé e amor á
grandeza do Brasil.
Uma
demorada salva de palmas o aplaudiu entusiasticamente.
Em
seguida, pediu a palavra o sr. presidente da Câmara em exercício cel. Retto
Júnior, que pediu fosse consignado em ata um voto de louvor e agradecimento à
comissão dos festejos, composta dos srs. caps. Afonso Leite, José Vieira Camões
e Pedro Leite, pelo modo galhardo com que deu desempenho à sua missão. Falou,
depois, o nosso talentoso diretor, cap. Pedro Leite, que solicitou fosse também
consignado um voto de agradecimentos ao jovem Newton Gribel, que muito auxiliou
à comissão.
Fala,
novamente, o sr. cel. Retto Júnior, que pediu escusas pela omissão involuntária
que cometera corrigindo esse lapso com grande satisfação. E continuando com a
palavra propôs se estendesse também um voto de aplausos a um grupo de
cavalheiros de Bicas que promoviam naquele distrito, tocantes festividades em comemoração
à data. O sr. presidente da sessão, cap. Afonso Leite, submeteu á apreciação da
assembléia esse pedido, que foi aprovado com uma salva de palmas. Falou, após,
o sr. dr. Vicente Bianco que, alegando-se membro da comissão promotora dos
festejos cívicos de Bicas, convidava os membros da mesa e as pessoas presentes
para assistirem às solenidades, e pedia à Câmara, ali reunida, desse, na
ocasião oportuna, á praça, onde ia ser erguido o obelisco, o nome de praça do “Centenário,
ou 7 de Setembro”, ou da “Independência”.
O
sr. presidente, da mesa agradeceu a gentileza do convite do dr. Bianco.
Falaram,
a seguir, o Revmo. Cônego Resende e a menina Eunice de Oliveira, que
pronunciaram mimosas palavras em saudação à nossa independência, sendo muito
aplaudidos.
Ninguém
mais usando da palavra, Afonso Leite encerrou aquela sessão solene com formoso
discurso alusivo ao grande acontecimento do dia. A sua palavra, que é ouvida
sempre com emoção e aplausos, arrebatou a assistência, empolgando-a mesmo por
sua eloquência, entusiasmo, gesticulação sóbria e perfeita, dicção clara e correta.
Não constituiu nenhuma surpresa o seu discurso incisivo, mas brilhante, porque
Afonso já é conhecido em nossa roda intelectual como orador vibrante e
jornalista emérito, possuidor de um estilo corrente e breve, duma linguagem
fluente, emotiva e ao alcance de todas as inteligências, Terminou o orador a
sua alocução, fazendo o elogio da educação popular, nesta hora em que o século
de nação livre, e que se torna necessária a campanha pela cultura do povo.
Terminou
propondo um voto de louvor ao exmo. sr. cel. Retto Júnior, a quem se devia a
iniciativa das festividades, e convidando a todos para assistirem, no jardim
publico, á inauguração oficial do “Obelisco do Centenário”, que iria ali se
levantar, graças ao ilustrado presidente da Câmara em exercício. As suas
palavras foram delirante e longamente festejadas com palmas estrepitosas.
Tocou
no salão a banda musical “Espiritosantense, que deu um cunho de extraordinário
esplendor ás solenidades.
Terminada
esta parte do programa oficial, seguiu-se á inauguração do OBELISCO.
Reunido
o povo no jardim, o sr. presidente da Câmara, ladeado dos srs. vereadores e autoridades
do município, procedeu á solenidade da inauguração, entre palmas da
assistência. A seguir foram depositadas, pelas pessoas presentes, objetos e
preciosidades na urna do obelisco. Para falar sobre o ato, o cap. Afonso Leite,
presidente da sessão, concedeu a palavra ao orador oficial, nosso companheiro
professor Luiz de Freitas Santos, que discorreu cerca de 45 minutos sobre
aquela homenagem histórica e secular. O orador foi muito felicitado, cantando,
após, um grupo: de senhoritas da nossa sociedade o “Hino da Independência”.
Pelos
alunos do grupo escolar foram plantadas duas “Arvores da Independência”: no
jardim e no pátio do grupo escolar sendo, por essa ocasião, entoado “Hino da
Árvore”.
E, assim
foi condignamente comemorado nesta Vila o primeiro centenário da Independência
do Brasil. Também em Bicas e Maripá houve imponentes festejos, que
oportunamente noticiaremos”.
Abaixo apresentamos algumas imagens referentes ao Monumento da Independência, o popular Obelisco:
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