Ao voltarmos os olhos numa análise minuciosa em jornais O Guarará e livros de registros da Prefeitura de Guarará entre as décadas de 1930 a 1940, vamos encontrar muitos fatos curiosos a luz da vida contemporânea que ocorriam em nossa cidade. Com o passar de décadas os serviços e cobranças de tributos e impostos, tanto pela municipalidade como pelo estado governo federal, foram evoluindo em relação ao que existia de forma similar no passado e assim ganhando novos contornos, mas sempre com os pés lá atrás.
Diversas cobranças que existiram se forem observadas em pleno século XXI levaria a maioria das pessoas terem crise de risos e reações de espanto. Na época analisada, por exemplo, era comum que os estabelecimentos comerciais pagassem um imposto anual a coletoria para poderem vender aguardente no balcão. Quem desrespeitasse pagaria multas elevadas e corria o risco de ter o ponto comercial fechado e ser processado por supressão de rendas ao estado.
Outra situação bastante curiosa era a obrigatoriedade de emplacamento de carroças e carros de boi, em especial na década de 1920 e 1930. Esta era uma determinação estadual e havia livros específicos para realizar o controle dos pagamentos e das placas. As bicicletas não escapavam e precisavam ser emplacadas e recolherem impostos aos cofres públicos para ter o direito de transitar pelas ruas e estradas da cidade sem serem incomodas pela Polícia.
Uma determinação federal chamava bastante atenção na década de 1930 e no decorrer da 2ª Guerra Mundial que era o registro de aparelhos de rádio que deveria ser feito nas agências do correio do local de residência do possuidor do rádio. Quem não fizesse este procedimento e fosse descoberto teria o aparelho lacrado pelas autoridades policiais até solucionar a pendência.
Nos anos iniciais da 2ª Guerra Mundial, o governo federal baixou um decreto que confiscava os aparelhos de rádio mesmo que regularizados de pessoas de descendência japonesa, alemã e italiana. Em Guarará foram registrados alguns casos de apreensão de rádios de imigrantes italianos segundo informações de seus descendentes. Pouco tempo depois os aparelhos foram devolvidos após a verificação que seus proprietários residiam no país em endereço conhecido com documentação regular desde antes do início da guerra.
Outro ato curioso era a cobrança por pena d’água. No passado não havia rede de distribuição residencial como conhecemos atualmente. As águas vinham de minas existentes nos fundos das casas e de nascentes distantes que eram canalizadas para certos locais particulares e públicos. Naquele tempo quem tinha mina em casa pagava a taxa da pena d’água. Em Guarará esta cobrança incidiria com maior freqüência na Praça do Divino, Rua Tiradentes, Comendador Noronha, Capitão Gervásio, José Pinto Soares, Barão de Catas Altas e Bias Fortes.
Havia ainda a necessidade do registro de cidadãos estrangeiros que vivessem em terras brasileiras. Estes deveriam comparecer a Delegacia de Polícia da cidade onde residiam levando seus documentos a fim de que o registro fosse atualizado anualmente, sob pena de serem deportados de volta ao país de origem.
Estes são alguns exemplos de como era o cotidiano das pessoas num período não tão distante em nossa cidade e confins do Brasil ainda rural. Com o tempo as mudanças foram ocorrendo nos modos de vida e nas ações de cobrança dos governos gerando novos procedimentos ao deixar outros para a História se encarregar de contar no futuro. Um ponto interessante a observar nestes recortes antigos é a forma de escrita da língua portuguesa, que era muito diferente da ortografia atual.
Abaixo apresentamos alguns exemplos de cobranças e fatos comuns no passado, mas estranhos ao olhar moderno:
Imposto sobre pena d'água para o ano de 1933.
Imposto sobre engenhos de cana para o ano de 1933.
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