Assim como a Capela de
São Sebastião, o templo dedicado a Nª Sª do Rosário foi construído no final da
década de 1880 no alto de um morro quase inacessível naqueles tempos. No
entorno só havia uma vegetação rasteira e algumas árvores. O local era desprovido
de moradias. As poucas casas existentes estavam localizadas ao pé da colina e
na margem da rua que se estendia a partir da Praça do Divino sentido ao arraial
de São José de Bicas, aonde veio a passar os trilhos da Estrada de Ferro
Guararense e depois a linha de bondes.
Uma semelhança muito
rara que chama atenção é que parte das obras da Capela de Nª Sª do Rosário,
assim como a de São Sebastião, ter sido beneficiada com recursos públicos
vindos do governo provincial de Minas Gerais através da Lei n° 3490 de 04/12/1887.
Na ocasião ainda não havia a separação entre Igreja e Estado no Brasil, algo
que veio a ocorrer a partir de 07/01/1890 através do Decreto n° 119-A.
Num passado remoto
chegou a ser conhecida como Capela de Nª Sª do Rosário dos Pretos. Segundo a tradição
na sua construção atuaram negros libertos, seus descendentes e escravos que
viviam no Distrito do Espírito Santo e arredor. Relatos não confirmados apontam
que eles forram liderados no decorrer da obra pelo Padre Manoel José Corrêa,
que possuía um sítio na área rural do arraial. Na ocasião ele ainda não era o pároco,
função que veio assumir somente em 1892.
A área abaixo onde a
capela foi erguida era constituída por poucas moradias e um comércio bem
simples. O entorno só começou a ser povoado com mais intensidade a partir da
segunda metade da década de 1890. De acordo com o Livro de Posses Concedidas
(1895-1923) pertencente ao Acervo Histórico da Câmara Municipal de Guarará, o
Padre Manoel José Corrêa vigário da Paróquia do Divino Espírito Santo fez o
requerimento para a concessão de uma área de pasto em volta da Capela do
Rosário em 15/01/1897. Ele foi atendido pelo Agente Executivo Cel. José Ribeiro
de Oliveira e Silva através da chancela de seu secretario interino, o sr.
Rodolpho Padilha.
Com o falecimento do
Padre Manoel José Correa ocorrido em 1898, pode ser que este local cedido tenha
ficado para seus herdeiros, e daí com o passar do tempo possa ter começado lentamente
o povoamento do entorno da Capela do Rosário, embora a documentação a respeito
do tema ainda seja escassa.
Inicialmente a Capela
possuía uma imagem em madeira policromada proveniente da fazenda do Padre
Manoel José Corrêa. Segundo seus descendentes a imagem de cedro foi roubada
ainda no inicio do século XX. Pouco depois foi adquirida a atual que veio de
Portugal e foi alocada no templo em 08 de dezembro de 1923.
Em 1895 o periódico
Católico O Apóstolo nº 105 editado na cidade do Rio de Janeiro numa reportagem
intitulada “Terra a Dentro” esteve na Vila do Guarará para cobrir os festejos
em honra a Nª Sª do Rosário ocorrida em 15/09. A seguir transcrevemos o pequeno
texto editado após a visita dos redatores do jornal O Apostolo.
“No alto de uma
elegante colina alveja, solitária e poética, a elegante capelinha de Nossa
Senhora do Rosário, cuja festividade teve lugar ali no último domingo dia 15 de
setembro, com o maior brilho possível. O dia estava esplendido, e tudo
concorreu para abrilhantar aquela festa, um dos muitos atos do culto que nunca
sofre a mínima quebra no religioso espirito dos mineiros. O elemento da humilde
classe dos trabalhadores do campo, os numerosíssimos cidadãos libertos, tomam
nessa festa parte vivíssima, juntando aos festejos externos do templo, aqueles
tradicionais divertimentos mistos de religião e simples poesia dos antigos
costumes do povo de origem. A Congada é uma espécie de melodrama acompanhada de
danças, e instrumentos das danças africanas, das quais ainda se acham esses
vestígios vivos e talvez imorredouros nos trabalhadores de cor, descendentes
daquele gênero da primitiva colonização. Foi assim, em plena república três
majestades genuinamente brasileiras compareceram á festa: o imperador e a
imperatriz do Divino, e um respeitável rei do Congo, com seus ministros,
generais e corte, que deram audiência e receberam embaixadas na frente do
templo, depois de finda a cerimônia religiosa. Ao cair da tarde teve lugar a
procissão, lindo e elegante espetáculo de uma fila de fiéis que seguiam os
andores, ocupando em seu desfilar nada menos de meio quilômetro literalmente
cheio de povo. Ao recolher da procissão teve lugar o Te-Deum, havendo sermões
ao evangelho e a noite”.
No decorrer do século
XX a capela de Nª Sª do Rosário recebeu várias alterações internas. Sua fachada
permaneceu sem grandes mudanças até o momento atual. Entre 2013 sofreu
transformações profundas que a descaracterizaram na parte interior devido ao
fato de suas paredes laterais estarem em vias de desabar, assim como todo o
telhado que estava totalmente condenado a ruir. As novas paredes laterais que
foram erguidas desfiguraram a feição interna do altar do templo religioso.
As obras iniciadas em
2013 mantiveram um ritmo lento e ficaram paralisadas nos anos seguintes devido
à falta de recursos financeiros. No ano de 2017 a reforma foi retomada por um
grupo de voluntários que finalizou a restauração na ocasião da festa de Nª Sª
do Rosário, em outubro daquele ano. Infelizmente no decorrer da primeira
intervenção emergencial alguns cuidados com as partes removidas do altar não
foram tomados e este fator veio a comprometer seriamente a reconstrução dos
detalhes anteriores a 2012.
Imagem da década de 1930.
Imagem de 1933.
Reforma na parte externa em 2013. Foto de Antero Souza Rocha.
Detalhes da fachada no início das obras de 2017.
Obras no interior da Capela em 2017.
Pintura externa em 2017.
Detalhes do interior do Templo em 2017.
Pintura da parte frontal em 2017.
Conclusão da pintura frontal em 2017.
Interior da Capela de Nª Sª do Rosário e São Benedito após a reforma de 2017.
Uma bela imagem da Capela de Nª Sª do Rosário e São Benedito com o Cruzeiro a frente em 2020.