Conforme
os escassos documentos consultados, ao que tudo indica, ele foi o primeiro Cura
(Padre) residente no Curato do Espírito Santo. Ele aportou nessas terras por
volta de 1840 e permaneceu ministrando o sacerdócio até seu falecimento devido
a uma grave enfermidade em 1862. Mas nada impede que no futuro possam surgir
novos registros acerca de outros sacerdotes que residissem no curato antes do
período em questão. O levantamento de dados permanece complexo e cheio de
lacunas.
O
Cura Manoel Bonifácio de Souza Guerra era natural do Arraial da Glaura,
localizado na cidade de Ouro Preto-MG. Ele foi batizado em 14/05/1809 na
Paróquia de Santo Antônio da Casa Grande. Seus pais eram Manoel Francisco de
Souza Guerra e Maria Leite de Menezes.
Seus irmãos eram Francisca Marciana de Assis e Castro, Manoel de Souza
Guerra Filho, Teodora Graciana Leite de Menezes, Violante Sabina Leite de
Menezes Guerra (morou no entorno do Distrito de Santo Antônio do Aventureiro) e
Joaquim Hilário de Souza Guerra, que foi seu testamenteiro em 1862.
Informação
de sua ordenação e nomeação é desconhecida até o momento. Ao que tudo indica, o
Cura Guerra, como era conhecido em suas assinaturas, vivenciou momentos
importantes na vida social e espiritual do Curato do Espírito Santo. Em 1841,
são encontradas passagens como testemunha no inventário de Domingos Ferreira
Marques, patrono de nossa terra. Foi durante sua permanência que a Igreja
Matriz teve suas obras iniciadas em 1842 e finalizadas, anos depois, em 1852. O
altar-mor, sacristia e capela do santíssimo, concluídas em 1857, foram sobre
sua regência espiritual.
Segundo
as informações acessadas, ele teve uma longa permanência no Curato do Espírito
Santo, o mais longevo na função até hoje. Mas não sabemos se, no período compreendido
entre 1840 e 1862, ele precisou se ausentar por algum tempo, substituído por
outro sacerdote, ou se foi nomeado para outra localidade, tendo retornado
depois, em razão de nenhuma documentação disponível.
Em
1849, foram encontradas no Cartório de Notas do Curato do Espírito Santo
transações envolvendo aquisição de sítios pelo Cura Guerra. A primeira
escritura era a respeito da compra de um sítio na localidade da Extrema. Pouco
depois adquiriu outra propriedade no lugar conhecido como Cachoeira, que hoje
fica um pouco antes da Ponte do Salomão, sentido Forquilha. Mesmo passando
quase dois séculos de grandes transformações no meio rural de Guarará, algumas
documentações de terras próximas aos locais citados ainda mencionam “Fazenda do
Padre Guerra”.
Na
ocasião de seu falecimento, conforme citado no testamento e nos autos do
processo de inventário que ocorreu na Comarca de Mar de Espanha, ele residia
numa propriedade denominada Sítio do Meio, no Curato do Espírito Santo. O sítio
da Cachoeira foi mencionado no seu inventário, mas o da Extrema não foi citado,
o que leva a supor que este imóvel tenha sido vendido anteriormente. Boa parte
de seus bens foi usada para pagar grandes dívidas no decorrer do inventário.
Um
fato curioso é que o Cura Guerra possuía 6 (seis) filhos naturais, vivendo com
ele numa casa de sobrado no Sítio do Meio, até a sua morte em 07/05/1862,
conforme consta no seu inventário. Eram eles: Samuel Paulino de Souza Guerra,
com 22 anos, Benjamim Bonifácio de Souza Guerra, de 20 anos, Gertrudes de
Menezes Guerra, com 18 anos, que posteriormente se casou com Francisco de Paula
Guerra, Violante de Menezes Guerra, com 16 anos. Maria, de 13 anos, e a caçula Anna,
com 8 anos. Um fato que chamou a atenção é que todos os seus filhos e filhas
sabiam escrever com elegância, numa época em que a escrita era restrita a
alguns homens.
O
nome da mãe de seus filhos não está mencionado em momento algum nos documentos.
No decorrer do inventário, foi identificada a presença de familiares seus e da
sua suposta esposa vivendo no Curato do Espírito Santo e adjacências. O
acompanhamento médico nos momentos finais ficou a cargo do Dr. Romualdo César
Monteiro de Miranda Ribeiro, que residia em Paraybuna (Juiz de Fora).
Tanto o testamento quanto o inventário não mencionam onde foi o sepultamento do Padre Manoel Bonifácio de Souza Guerra. O testamento faz menção somente aos ritos fúnebres e missas por sua alma. O inventário não complementa nada a respeito do assunto. A assistência espiritual no decorrer de sua enfermidade ficou a cargo do vigário de Mar de Espanha, Joaquim dos Reis Menezes. Após o fim do inventário em 1867, o destino de seus filhos torna-se desconhecido daí em diante, mas a lembrança do Padre Guerra na memória popular permanece até os dias atuais em nossa cidade.
Imagem 01: Assinatura do Cura Guerra numa procuração no Curato do Espírito Santo em 1858.
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