Os
descaminhos do ouro tinham como rota de passagem no final do século XVIII e início
do século XIX a área que corresponde hoje à cidade de Guarará-MG.
Naqueles
tempos remotos, todo esse território era cercado por densas áreas de matas com
seus ribeirões e córregos envoltos entre montanhas e vales que dificultavam a
locomoção de pessoas e cargas, entre as províncias do Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Mais difícil e complicado para a Coroa Portuguesa era estabelecer uma
logística para definir pontos de fiscalização nesta extensa região, quase
inabitada pelo homem branco.
A
presença de índios nativos hostis ao homem branco e animais ferozes era outro
fator inibidor para a povoação desta vasta região denominada de área proibida
dos sertões do leste. Foi neste misto de dificuldades e barreiras, aliado a
falta de pessoal para promover a fiscalização e até mesmo quem pudesse conhecer
o território desse espaço geográfico fechado por parte da Coroa Portuguesa, é
que se criou um ambiente propício para as rotas de contrabando do outro
produzido nas regiões em torno de Vila Rica e Mariana principalmente.
As
rotas do descaminho do ouro se popularizaram nas décadas finais do século XVIII,
trazendo evasão de divisas para a Capitania de Minas Gerais e constantes
cobranças por fiscalização por parte da Coroa Portuguesa que via sua
arrecadação cair drasticamente. Com essas rotas, iniciou-se aos poucos o
povoamento da região.
Alguns
dos contrabandistas, com o tempo, fixaram pequenas moradas provisórias em certos
pontos para uma melhor logística de suas viagens, visando fugir da fiscalização
do quinto. Foi assim que, aos poucos, essa região acabou sendo desbravada,
mesmo que lentamente. Diante de tal fato, o Governo de Minas Gerais viu-se
obrigado a dar fim a tal situação e não teve alternativa se não permitir a
colonização desta enorme área, já que a própria extração do outro estava em
esgotamento.
A
forma encontrada para oficializar a povoação da área proibida dos sertões do
leste, onde estavam as rotas do descaminho do ouro, de forma ordeira e
controlada pelas autoridades, foi através da concessão de cartas de sesmarias
aos interessados que faziam a solicitação à Capitania de Minas Gerais. O
procedimento poderia levar bastante tempo ou não, dependendo da influência
política e social do solicitante. Mesmo quem já estava morando na região de
forma irregular poderia solicitar sua sesmaria e assim regularizar sua situação
perante o governo. A concessão funcionou de forma limitada e frágil, atendendo
a interesses em muitas ocasiões até 1822, quando foram interrompidas.
Baseado
neste contexto histórico, a região do descaminho do ouro, que hoje compreende a
cidade de Guarará e seus distritos, Bicas até 1923 e Maripá até 1962, começou a
ser povoada a partir da década de 1780, mesmo que de forma ilegal e esparsa. A
primeira moradora de que se tem notícia foi Maria Luiza do Carmo, a “Velha
Araújo”, uma senhora que faleceu na Vila do Guarará, em 1892, aos 110 anos, e que
dizia ter visto o desbravamento dessas terras, antes cobertas de matas. Fonte:
Jornal O Guarará, 28/08/1892.
As
estradas, na verdade, eram trilhos abertos de forma rudimentar em regiões mais
favoráveis no interior das densas florestas úmidas, onde se derrubavam árvores
e as aproveitavam para a construção de pontes improvisadas a fim de fazer a
passagem de um trecho para o outro em trechos de encostas, córregos e brejos. E
esses trilhos conhecidos como picadas, aos poucos foi dando espaço às rotas do
descaminho e depois a passagem dos tropeiros entre a região dos Três Rios,
sentido a Mar de Espanha, deslocando pelas terras que seriam o curato do
Espírito Santo (Guarará) seguindo através do Desengano para a Saracura, hoje
Bicas (passando abaixo da Serra das Bicas) até se conectar com o caminho que
levaria a São João Nepomuceno, após o fim do ciclo de ouro.
Com
o fim da produção aurífera, as rotas do descaminho cessaram a sua finalidade,
mas continuaram a ser usadas para o comércio e a povoação desta imensa região.
E, assim, foram surgindo os arraiais, curatos e distritos que posteriormente
levaram a formação das cidades que conhecemos hoje em dia.
Parte
dos vestígios desse descaminho do ouro passa por Guarará, assim como outras
cidades na região. Em nosso município, a Ciclo Rota está inserida no Caminho para
o Louriçal, que passa na área urbana e segue pelas Comunidades Rurais de São
Joaquim e Volta Grande, sentido ao Distrito de Engenho Novo (Mar de Espanha). A
rota entre o centro de Guarará e a área central do Distrito de Engenho Novo gira
em torno de 16 km. O trecho apresenta paisagens exuberantes entre morros e
vales cortados por ribeirões e pontes.
Numa
ação inovadora voltada ao passado histórico, foi pensada a implantação da Ciclo
Rota dos Descaminhos do Ouro. Esta parceria entre o Circuito Turístico Caminhos
Verdes de Minas, Governo de Minas e Prefeituras de 15 cidades visa incentivar o
Turismo, através da contemplação da arquitetura antiga, da culinária e das
tradições, aliada à exuberante natureza cercada por matas, riachos, morros e
vales, com seus contornos. Assim, levamos uma parte preciosa de nossa História desconhecida
ao conhecimento público.
Foto 01: Acima a esquerda, caminho da Ciclo Rota para a Comunidade São Joaquim, sentido Engenho Novo (Mar de Espanha).
Foto 02: A direita da estrada quem vai da Comunidade São Joaquim com destino a localidade de Volta Grande, temos o contorno do Ribeirão Espírito Santo, ladeado por montanhas e vales verdes.
Foto 03: Comunidade da Volta Grande, já nas proximidades do limite com o Distrito de Engenho Novo. Podemos ver belas paisagens cercadas por morros no caminho da Ciclo Rota.
Foto 07: Mapa dos Descaminhos do Ouro e todo percurso da Ciclo Rota partindo de Rio Pomba até chegar em Chiador. Fonte: Circuito Caminhos Verdes de Minas.