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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Descaminhos do Ouro e Ciclo Rota

 

Os descaminhos do ouro tinham como rota de passagem no final do século XVIII e início do século XIX a área que corresponde hoje à cidade de Guarará-MG.

Naqueles tempos remotos, todo esse território era cercado por densas áreas de matas com seus ribeirões e córregos envoltos entre montanhas e vales que dificultavam a locomoção de pessoas e cargas, entre as províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Mais difícil e complicado para a Coroa Portuguesa era estabelecer uma logística para definir pontos de fiscalização nesta extensa região, quase inabitada pelo homem branco.

A presença de índios nativos hostis ao homem branco e animais ferozes era outro fator inibidor para a povoação desta vasta região denominada de área proibida dos sertões do leste. Foi neste misto de dificuldades e barreiras, aliado a falta de pessoal para promover a fiscalização e até mesmo quem pudesse conhecer o território desse espaço geográfico fechado por parte da Coroa Portuguesa, é que se criou um ambiente propício para as rotas de contrabando do outro produzido nas regiões em torno de Vila Rica e Mariana principalmente.

As rotas do descaminho do ouro se popularizaram nas décadas finais do século XVIII, trazendo evasão de divisas para a Capitania de Minas Gerais e constantes cobranças por fiscalização por parte da Coroa Portuguesa que via sua arrecadação cair drasticamente. Com essas rotas, iniciou-se aos poucos o povoamento da região.

Alguns dos contrabandistas, com o tempo, fixaram pequenas moradas provisórias em certos pontos para uma melhor logística de suas viagens, visando fugir da fiscalização do quinto. Foi assim que, aos poucos, essa região acabou sendo desbravada, mesmo que lentamente. Diante de tal fato, o Governo de Minas Gerais viu-se obrigado a dar fim a tal situação e não teve alternativa se não permitir a colonização desta enorme área, já que a própria extração do outro estava em esgotamento.

A forma encontrada para oficializar a povoação da área proibida dos sertões do leste, onde estavam as rotas do descaminho do ouro, de forma ordeira e controlada pelas autoridades, foi através da concessão de cartas de sesmarias aos interessados que faziam a solicitação à Capitania de Minas Gerais. O procedimento poderia levar bastante tempo ou não, dependendo da influência política e social do solicitante. Mesmo quem já estava morando na região de forma irregular poderia solicitar sua sesmaria e assim regularizar sua situação perante o governo. A concessão funcionou de forma limitada e frágil, atendendo a interesses em muitas ocasiões até 1822, quando foram interrompidas.

Baseado neste contexto histórico, a região do descaminho do ouro, que hoje compreende a cidade de Guarará e seus distritos, Bicas até 1923 e Maripá até 1962, começou a ser povoada a partir da década de 1780, mesmo que de forma ilegal e esparsa. A primeira moradora de que se tem notícia foi Maria Luiza do Carmo, a “Velha Araújo”, uma senhora que faleceu na Vila do Guarará, em 1892, aos 110 anos, e que dizia ter visto o desbravamento dessas terras, antes cobertas de matas. Fonte: Jornal O Guarará, 28/08/1892.

As estradas, na verdade, eram trilhos abertos de forma rudimentar em regiões mais favoráveis no interior das densas florestas úmidas, onde se derrubavam árvores e as aproveitavam para a construção de pontes improvisadas a fim de fazer a passagem de um trecho para o outro em trechos de encostas, córregos e brejos. E esses trilhos conhecidos como picadas, aos poucos foi dando espaço às rotas do descaminho e depois a passagem dos tropeiros entre a região dos Três Rios, sentido a Mar de Espanha, deslocando pelas terras que seriam o curato do Espírito Santo (Guarará) seguindo através do Desengano para a Saracura, hoje Bicas (passando abaixo da Serra das Bicas) até se conectar com o caminho que levaria a São João Nepomuceno, após o fim do ciclo de ouro.

Com o fim da produção aurífera, as rotas do descaminho cessaram a sua finalidade, mas continuaram a ser usadas para o comércio e a povoação desta imensa região. E, assim, foram surgindo os arraiais, curatos e distritos que posteriormente levaram a formação das cidades que conhecemos hoje em dia.  

Parte dos vestígios desse descaminho do ouro passa por Guarará, assim como outras cidades na região. Em nosso município, a Ciclo Rota está inserida no Caminho para o Louriçal, que passa na área urbana e segue pelas Comunidades Rurais de São Joaquim e Volta Grande, sentido ao Distrito de Engenho Novo (Mar de Espanha). A rota entre o centro de Guarará e a área central do Distrito de Engenho Novo gira em torno de 16 km. O trecho apresenta paisagens exuberantes entre morros e vales cortados por ribeirões e pontes.

Numa ação inovadora voltada ao passado histórico, foi pensada a implantação da Ciclo Rota dos Descaminhos do Ouro. Esta parceria entre o Circuito Turístico Caminhos Verdes de Minas, Governo de Minas e Prefeituras de 15 cidades visa incentivar o Turismo, através da contemplação da arquitetura antiga, da culinária e das tradições, aliada à exuberante natureza cercada por matas, riachos, morros e vales, com seus contornos. Assim, levamos uma parte preciosa de nossa História desconhecida ao conhecimento público.


Foto 01: Acima a esquerda, caminho da Ciclo Rota para a Comunidade São Joaquim, sentido Engenho Novo (Mar de Espanha).


Foto 02: A direita da estrada quem vai da Comunidade São Joaquim com destino a localidade de Volta Grande, temos o contorno do Ribeirão Espírito Santo, ladeado por montanhas e vales verdes.

Foto 03: Comunidade da Volta Grande, já nas proximidades do limite com o Distrito de Engenho Novo. Podemos ver belas paisagens cercadas por morros no caminho da Ciclo Rota.


Foto 04: Totén dos Descaminhos do Ouro e da Ciclo Rota instalado na entrada da Praça do Divino, em Guarará.


Foto 05: Descrição da Rota Estrada para Louriçal, o qual Guarará faz parte junto com outras cidades como Bicas e Mar de Espanha.


Foto 06: Sinalização da Ciclo Rota em Guarará na Rua Bias Fortes, nas proximidades da saída para Engenho Novo.


Foto 07: Mapa dos Descaminhos do Ouro e todo percurso da Ciclo Rota partindo de Rio Pomba até chegar em Chiador. Fonte: Circuito Caminhos Verdes de Minas.

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