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terça-feira, 18 de outubro de 2022

Impostos X Emancipação

 

Desde os tempos mais remotos da existência humana a cobrança de impostos, taxas e tributos fazem parte da vida de quase todo cidadão. Com o passar de décadas e séculos algumas cobranças evoluíram, outras se fundiram ou se criaram novas formas de taxar as pessoas.

Os motivos para as cobranças ao longo da história quase não mudavam. O ponto mais comum era que boa parte do valor arrecadado seria revertido para o bem estar das pessoas em suas cidades e vilas, algo que nem sempre se concretizava e assim gerava revoltas e descontentamentos.

Seguindo este parâmetro de comportamento no caso do Brasil no século XIX, em especial, muitas revoltas e conflitos ocorreram de norte a sul deste vasto território continental. Os constantes e às vezes vultuosos pagamentos aos governos locais e a não reversão de parte dos valores em serviços básicos geravam muitos conflitos e até mesmo era o motivo para que distritos buscassem sua emancipação da cidade sede.

O surgimento de parte de cidades a partir da segunda metade do século XIX em Minas Gerais e algumas regiões do Brasil pode ser explicado por este fator comportamental ligado a cobrança de impostos que não eram revertidos na forma esperada pela comunidade pagadora. Há controvérsias sobre o assunto e defensores deste ponto de vista. Alguns apontam que este era apenas o estopim para justificar a emancipação de um lugar. Outros defendem que a busca por uma melhor condição de vida para a população e desenvolvimento para o local requerente era o verdadeiro motivo para engajar uma campanha em prol da emancipação de um distrito em relação a sua sede.

Neste caminho podemos citar a situação vivida pelo então Distrito do Espírito Santo, que pertencia a Vila de Mar de Espanha. Alguns moradores se apoiando na questão da falta de reversão de parte dos impostos, taxas e tributos pagos começaram a se organizar em prol da emancipação do local a partir de 1889. Este cenário foi ganhando forças e adeptos até conseguir seu objetivo que era a emancipação em 05/12/1890.

Instalada a nova vila em 01/02/1891 o cenário de cobranças de impostos, taxas, licenças e afins mantinham-se como carro chefe junto a Intendência Municipal para a manutenção das despesas e investimentos por parte do poder público nas necessidades diárias do povo. Conforme a Vila se consolidava, os interesses de grupos políticos iam surgindo aos poucos e este fator acabava prejudicando a distribuição correta e uniforme da aplicação dos recursos arrecadados nos distritos existentes. Assim, voltamos no velho ponto que norteou a emancipação nossa lá atrás e que com o passar de décadas foi uma das causas para que os Distritos de Bicas e Maripá viessem a buscar seu caminho de vida autônoma através da emancipação.

De certo a lição que podemos extrair neste pequeno texto ao olhar os livros de cobranças de impostos e taxas da Vila do Espírito Santo do Guarará, na primeira década de vida autônoma, é que o jogo de interesses sempre vai estar à frente do bem estar da comunidade. Em alguns momentos novas formas de cobranças poderão ser instituídas a qualquer instante com ou sem apoio popular.


Bloco de anotações de Impostos, Licenças e taxas de 1891, 1893 e 1896

Recibo de 1891 em nome de Manoel João Giestal do Distrito de Maripá.


Recibo de 1891 em nome de Joaquim Coelho de Faria do Distrito de Bicas.


Recibo de 1891 em nome de Fidelino Félix Pereira no Distrito Sede de Guarará.


Recibo do ano de 1893 de José Fernandes de Santana na Sede em Guarará.


Recibo do ano de 1893 de Manoel Portes Carneiro em Bicas.


Recibo do ano de 1893 de Ambrósio Bianco em Maripá.

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