Desde os primórdios da ocupação de nosso território
após 1828, o ensino público era escasso e restrito a poucas pessoas no Distrito
do Espírito Santo. Normalmente, os cidadãos mais afortunados e com prestígio
social saiam na frente na hora de educar seus filhos (as).
As numerosas famílias compostas por
pessoas simples que na grande maioria viviam no campo no decorrer de muitas
décadas seguintes permaneceriam as margens do ensino público básico para seus
filhos. Em algumas ocasiões, o máximo que conseguiam era alfabetizar seus
filhos para saberem assinar o próprio nome e nada mais. As desigualdades nesse ponto
eram chocantes.
Habitualmente algumas pessoas
mais velhas da comunidade ou professores que já não exerciam o ofício se
encarregavam de auxiliar os filhos dos vizinhos menos favorecidos no contato
com as primeiras letras. Essa era uma forma de mascarar o analfabetismo total
existente em nossa terra entre os séculos XIX até as primeiras décadas do
século XX.
A barreira do acesso ao ensino público
entre os mais e os menos favorecidos prejudicou bastante o desenvolvimento da
região por décadas. Quando o ensino público começou a se tornar mais acessível
na virada do século XX em Guarará e seus distritos de Maripá e Bicas, as
oportunidades de acesso a educação passaram a contribuir para o desenvolvimento
desses locais. O território de Guarará chegou a possuir 08 escolas no total,
entre as décadas de 1890, até início da década de 1920.
No passado havia distinção com as
escolas possuindo cadeiras masculinas em maior número e as femininas em menor
escala, tanto na área urbana, quanto no meio rural. A maioria das escolas
estava situada na zona rural pelo fato de grande parte da população habitar o
meio rural até a década de 1940, quando começou a ocorrer a urbanização
acelerada em nossas paragens.
Conciliar o trabalho pesado desde o
raiar do dia no campo com os períodos de aula nas escolas rurais em especial,
era algo nada fácil para os filhos dos camponeses de nossas terras. A
necessidade do cultivo da terra para a sobrevivência das numerosas famílias
pobres envolvia todos os membros do grupo familiar desde muito cedo. Sobrava
pouco tempo para direcionar os filhos (as) para uma educação básica.
Para piorar o cenário as escolas
rurais não ficavam perto do domicilio. Esse tipo de situação levou a
alfabetização em grande parte dos casos dos meninos que tinham mais facilidade
para os deslocamentos. As meninas ficavam em casa e segundo os pais não
precisavam saber ler e escrever, pois essa era uma tarefa para os homens da
casa. Infelizmente era um pensamento arcaico que vigorou com solidas raízes em
nossa sociedade por longas décadas. Do século XX e que causou enormes prejuízos
pelo interior de nossos cantos.
Após a década de 1960 as escolas rurais
começaram a perder espaço devido ao início do êxodo rural do campo para a
cidade. A maioria esmagadora fechou as portas posteriormente devido a falta de
alunos na zona rural. As pessoas se dirigiam para as cidades em busca de uma
vida melhor para si e principalmente visando obter uma educação descente nas
escolas urbanas para seus filhos (as). A evolução da educação mesmo com a
superação de enormes entraves em nossas localidades sempre esbarrou na falta de
estrutura e boa vontade por parte das elites e do governo para atender aos mais
necessitados.
Abaixo temos exemplos
de diários de alunos da escola do sexo feminino em 1903 e masculino em 1908.
Ambos os recintos estavam localizados na área urbana do Distrito Sede da Vila
do Espírito Santo de Guarará.