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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Tradicionais Moinhos de Milho

 

Desde um passado bastante longínquo, que os moinhos coloniais de milho são locais importantes para produção de farinhas de milho, fubá e inclusive a quebra de grãos voltados para alimentação humana e de animais. Os primeiros moinhos foram instalados no Brasil por colonizadores europeus, possivelmente entre 1614-16 em São Paulo, e posteriormente se expandiram para todas as regiões do país.

Em Minas Gerais as casas de farinhas ou popularmente moinhos ganharam grande importância na vida das pequenas comunidades conforme a colonização do solo mineiro ia se expandindo. Das grandes, passando pelas medias até chegar às pequenas Fazendas, todas elas tiravam sua alimentação e parte da renda a partir do uso dos moinhos ali existentes.

Desde o inicio formal da colonização das terras do Distrito do Espírito Santo (atual cidade de Guarará) a partir de 1828, a maioria das pequenas, médias e grandes propriedades, possuíam um moinho dedicado à produção de derivados de milho, de acordo com os relatos verbais passados de geração em geração. A importância destes locais era imensa na alimentação dos escravos, dos brancos, além de fornecer sobras para alimentar pequenos animais domésticos e o rebanho bovino. O excedente da produção era comercializado entre vizinhos e núcleos urbanos nas proximidades.

Conforme o tempo ia passando e a modernidade vinha trazendo novas formas de aperfeiçoar e acelerar a produção de alimentos, os velhos e tradicionais moinhos de nossa cidade foram perdendo espaço para as máquinas de moagem elétricas existentes na área urbana a partir das décadas de 1950 e 1960.

Com o forte avanço da mecanização tecnológica na indústria alimentícia que beneficia gêneros cada vez mais acessíveis, com qualidade e rapidez, o espaço destinado aos velhos moinhos foi ficando somente na memória histórica e nos relatos das pessoas mais velhas em nossa cidade. A maioria deles foi abandonada aos poucos e virou ruínas até desaparecer lentamente do espaço físico e imaginário das pessoas.

Em certas propriedades ainda se encontram alguns poucos moinhos de porte pequeno remanescentes do período áureo da 1ª metade do século XX funcionando. A maioria localizada próxima a cursos d´água. Estes escassos lugares preservam esta importante manifestação cultural de nossa terra e região, que propicia excelentes pratos na tradicional culinária mineira, como a famosa broa de fubá, o clássico angu mineiro e a farinha torrada de fubá usada no preparo de farofa, bolo e consumida junto ao café com leite da tarde dos antigos.

Esperamos que num futuro próximo estas velhas tradições de nossa terra, hoje quase esquecidas, como o moinho de milho e seus produtos derivados, amplamente usados na culinária da população antiga, venha a ser valorizada e quem sabe, volte aos poucos a fazer parte da vida pacata de nossos sítios e fazendas através das gerações vindouras. Assim, estaremos contribuindo para a preservação de uma importante prática cultural ligada a culinária mineira e brasileira num todo que vem de vários séculos atrás.    

 

Texto editado pelo Setor de Patrimônio Histórico e Cultural de Guarará para o Ano da Mineiridade.

 



 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Livro de Protocolos 1891-1903

 

Apresentamos um dos primeiros livros administrativos abertos pelos gestores da recém-criada Vila do Guarará. Trata-se do livro de Protocolos da Intendência Municipal presidida pelo s.r. Antônio José Gomes Bastos, o 2º Barão de Catas Altas, que administrou a cidade até as eleições de 1892.

Esse livro de capa rígida, páginas amarelas, corroído por traças e pelos diferentes usos ao longo de mais de 130 anos, sobrevive ao tempo para contar um pouco das ações administrativas da década de 1890 até o ano de 1903 quando parou de receber registros. Sua abertura ocorreu em fevereiro de 1891 e o primeiro registro é de 21/03/1891.

Um fato curioso e sem explicação é que os últimos registros de protocolos são do mês de dezembro de 1894 sendo que o livro ainda permanecia com a grande maioria de suas páginas em branco. Em 1900 o livro volta a ser usado para registros de auto de praça. Um destes registros contempla o edital de venda dos bens da Estrada de Ferro Guararense para arremate público.

Os protocolos vem redigidos na maioria das ocasiões pelo sr. Luiz Pinto que era o secretário da Intendência Municipal da Vila do Guarará. Em alguns momentos observamos a redação do Barão de Catas Altas no livro e do Procurador Municipal José da Rocha Pinto.

Os assuntos registrados são dos mais variados e às vezes estranhos para nossa interpretação no tempo atual. Com o passar de um século houve muitas mudanças e evoluções quanto ao modo de vida, costumes e atividades administrativas municipais. Este livro possui um valor cultural e histórico importante na vida da cidade pelo fato de nos aproximar de um passado remoto da década de 1890 e ao mesmo instante despertar nosso interesse pela história de nossa terra ao longo do passar dos séculos.

A preservação deste valioso expoente histórico é fundamental para várias compreensões do recorte histórico em que estamos situados. Numa análise atenta podemos observar um pouco da escrita antiga com um português arcaico, que era bem diferente do que encontramos hoje. A escrita era através de caneta tinteiro na cor preta. As palavras tinham contorno e acabamento que pareciam obras de artes, principalmente nas assinaturas e elaboração de documentos importantes.

As observações relatadas são uma pequena amostra do valor histórico do livro para a memória e história de Guarará e região conforme os anos avançam. Outras pessoas ao olharem o livro de protocolos podem encontrar novos valores culturais e recortes ainda não observados em suas linhas amareladas.

Abaixo apresentamos todo o teor do Livro de Protocolos entre 1891-1903.










segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Publicações Históricas

 

No passado não era hábito das pessoas em escrever pequenos livros e textos contando a história de um lugar. Se isso veio a ocorrer, infelizmente não chegou ao conhecimento nosso até o momento. Tal situação vem a mudar a partir da década de 1980 quando começam a se destacar publicações importantes mencionando Guarará e região. O conteúdo dos livros ocupavam-se de narrativas de aventura, romance, poesia e outros temas que atraíam atenção do público naquela época.

Devido esta peculiaridade de nossa cidade e região, muito de nossos fatos históricos foram sendo perdidos ao longo do tempo sem a devida anotação para as próximas gerações. Conforme as décadas iam passando ficou cada vez mais difícil peneirar os registros escritos lá do início de nossa história de nossa povoação.

Os pouquíssimos livros existentes dão uma noção de como funcionava a cidade entre o final do século XIX e as primeiras três décadas do século XX. A obra mais antiga impressa que temos conhecimento é o pequeno almanaque do Município de Guarará editado em 1899. Ele foi produzido pelas oficinas da Tipografia da Gazeta de Guarará no final de 1898 para circular em 1899. Seu autor foi o jornalista espanhol Francisco Sequeiros Teixeira, que residia em Guarará e na ocasião editava o jornal Gazeta de Guarará.

Esse pequeno impresso de 166 páginas traz um pouco das funcionalidades da Vila do Espírito Santo do Guarará e seus distritos de Maripá e Bicas. Nele há relação das autoridades municipais, distritais, religiosas, negociantes, proprietários rurais, indústrias e profissões, contos, poesias, publicidade variada, além de outros assuntos. O português peculiar da ocasião chama bastante atenção dos leitores mais atentos.

O outro exemplar de tamanha importância veio a surgir em 1916 e era intitulado o Município de Guarará. Era um livro editado pelo jornalista de origem italiana Roberto Capri e impresso em São Paulo. Foi produzido com autorização da Câmara Municipal que na ocasião pagou um bom valor pelo direito a 300 exemplares. Infelizmente poucos livros sobreviveram ao tempo. Pelas nossas contas são conhecidos apenas 04 exemplares atualmente.

Neste livro de poucas páginas temos belas fotos de Guarará, Maripá e Bicas, além de publicidade, informações históricas relevantes, atividades comerciais, agricultura e relação de pequenos lavradores. O autor chegou a produzir livros semelhantes em diversas cidades mineiras, que foram reunidos e lançados posteriormente em uma grande publicação contemplando boa parte do estado de Minas Gerais.

Tempos depois temos a ultima publicação conhecida a respeito de relatos sobre o Guarará antigo. Trata-se do livro Reportagens Históricas sobre o Município de Guarará, editado pelo saudoso Sebastião Gomes Baião, filho do 2º Barão de Catas Altas em 1932.

O livro conta um pouco das histórias cotidianas do passado desconhecido das terras do Espírito Santo no século XIX, além de fatos relevantes vivenciados pelo 2º Barão de Catas Altas, que foi o grande responsável pela criação da Vila do Guarará em 05/12/1890. Um dos motivos para edição do livro foi uma possível divergência entre o Redator do Jornal O Guarará em 1930 quanto a assuntos relacionados ao criador da Vila do Guarará em 1890, que no entendimento do redator abrangia outros nomes.

Estes 03 exemplares fecham a coletânea histórica sobre Guarará até a primeira metade do século XX. A partir do ano 2000 novas publicações podem ser encontradas na região e oferecem ao leitor assuntos interessantes sobre nossas cidades e antes não discutidos. 

Publicações locais produzidas com teor histórico voltam a ocorrer em 2019 onde é editado o livreto, Se Essa Rua Fosse Minha – As Ruas de Guarará, produzido pela Professora Eloíza T. Ferreira da Fonseca. No ano seguinte ocorre a publicação do livreto sobre os 111 anos da Escola Municipal Ferreira Marques e a história do Paço Municipal de Guarará.

Esperamos que estas publicações existentes até o momento possam incentivar outras pessoas a pesquisarem e escreverem sobre Guarará e a região em si, que ainda carece de muita informação histórica para melhor compreender seu povoamento e desenvolvimento, desde o século XIX até o período atual.

As publicações recentes podem ser acessadas através do seguinte endereço eletrônico:   

https://www.guarara.mg.gov.br/wp/publicacoes-historicas-e-culturais-cultura/ 








terça-feira, 18 de outubro de 2022

Impostos X Emancipação

 

Desde os tempos mais remotos da existência humana a cobrança de impostos, taxas e tributos fazem parte da vida de quase todo cidadão. Com o passar de décadas e séculos algumas cobranças evoluíram, outras se fundiram ou se criaram novas formas de taxar as pessoas.

Os motivos para as cobranças ao longo da história quase não mudavam. O ponto mais comum era que boa parte do valor arrecadado seria revertido para o bem estar das pessoas em suas cidades e vilas, algo que nem sempre se concretizava e assim gerava revoltas e descontentamentos.

Seguindo este parâmetro de comportamento no caso do Brasil no século XIX, em especial, muitas revoltas e conflitos ocorreram de norte a sul deste vasto território continental. Os constantes e às vezes vultuosos pagamentos aos governos locais e a não reversão de parte dos valores em serviços básicos geravam muitos conflitos e até mesmo era o motivo para que distritos buscassem sua emancipação da cidade sede.

O surgimento de parte de cidades a partir da segunda metade do século XIX em Minas Gerais e algumas regiões do Brasil pode ser explicado por este fator comportamental ligado a cobrança de impostos que não eram revertidos na forma esperada pela comunidade pagadora. Há controvérsias sobre o assunto e defensores deste ponto de vista. Alguns apontam que este era apenas o estopim para justificar a emancipação de um lugar. Outros defendem que a busca por uma melhor condição de vida para a população e desenvolvimento para o local requerente era o verdadeiro motivo para engajar uma campanha em prol da emancipação de um distrito em relação a sua sede.

Neste caminho podemos citar a situação vivida pelo então Distrito do Espírito Santo, que pertencia a Vila de Mar de Espanha. Alguns moradores se apoiando na questão da falta de reversão de parte dos impostos, taxas e tributos pagos começaram a se organizar em prol da emancipação do local a partir de 1889. Este cenário foi ganhando forças e adeptos até conseguir seu objetivo que era a emancipação em 05/12/1890.

Instalada a nova vila em 01/02/1891 o cenário de cobranças de impostos, taxas, licenças e afins mantinham-se como carro chefe junto a Intendência Municipal para a manutenção das despesas e investimentos por parte do poder público nas necessidades diárias do povo. Conforme a Vila se consolidava, os interesses de grupos políticos iam surgindo aos poucos e este fator acabava prejudicando a distribuição correta e uniforme da aplicação dos recursos arrecadados nos distritos existentes. Assim, voltamos no velho ponto que norteou a emancipação nossa lá atrás e que com o passar de décadas foi uma das causas para que os Distritos de Bicas e Maripá viessem a buscar seu caminho de vida autônoma através da emancipação.

De certo a lição que podemos extrair neste pequeno texto ao olhar os livros de cobranças de impostos e taxas da Vila do Espírito Santo do Guarará, na primeira década de vida autônoma, é que o jogo de interesses sempre vai estar à frente do bem estar da comunidade. Em alguns momentos novas formas de cobranças poderão ser instituídas a qualquer instante com ou sem apoio popular.


Bloco de anotações de Impostos, Licenças e taxas de 1891, 1893 e 1896

Recibo de 1891 em nome de Manoel João Giestal do Distrito de Maripá.


Recibo de 1891 em nome de Joaquim Coelho de Faria do Distrito de Bicas.


Recibo de 1891 em nome de Fidelino Félix Pereira no Distrito Sede de Guarará.


Recibo do ano de 1893 de José Fernandes de Santana na Sede em Guarará.


Recibo do ano de 1893 de Manoel Portes Carneiro em Bicas.


Recibo do ano de 1893 de Ambrósio Bianco em Maripá.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Reflexão Histórica

 

Fugindo um pouco ao estilo de nossas matérias, apresentamos uma sequência de fotos produzidas a partir da Torre da Igreja Matriz do Divino Espírito Santo em 26/09/22. As imagens de uma manhã nublada possibilitam ver as construções da área central de Guarará de outro ângulo.

O destaque fica por conta dos imóveis que possuem cobertura com telha francesa e outra parte que adota telhas cerâmicas em modelos mais recentes como a romana e portuguesa, além da galvanizada. Esta comparação permite observar que as famosas telhas curvas produzidas até parte da segunda metade do século XIX perderam seu espaço por completo nas construções mais antigas de Guarará.

Até o final da década de 1970 alguns imóveis antigos urbanos ainda possuíam as famosas telhas curvas em seus telhados. Com o avanço de novos modelos mais acessíveis e seguros, a mudança foi sendo feita sem que se notasse. Um dos motivos pode ter sido a falta das telhas curvas mesmo que usadas para reposição quando necessário. Atualmente, alguns poucos imóveis na área rural ainda possui as telhas curvas. Ranchos, paióis e moinhos são os grandes detentores deste tipo de telha na zona rural de Guarará.

Aos poucos sem percebermos uma parte do passado foi sendo perdida para sempre sem notarmos. A maioria das pessoas não se lembra de olhar para o telhado dos imóveis. A contemplação fica restrita na maior parte das vezes a parte estética das paredes, portas, janelas e varandas. Desta forma, o telhado passa despercebido por longos tempos e quando as mudanças são feitas, estas são poucos observadas pelas pessoas.

Boa parte dos acontecimentos de nossa cidade e região foram conversados e decididos embaixo dos telhados coloniais de telhas curvas e num tempo mais recente já embaixo das telhas francesas, que também começam a dar seu adeus em muitos lugares sem alarde.

E assim, uma cidade vai sofrendo transformações, às vezes lenta ou rápida, sem que boa parte de seus habitantes possam perceber, a tempo de registrar. No mesmo parâmetro caminha a história nas pequenas cidades. Sem ser notada ela vai passando junto com o tempo e os fatos que não vão sendo registrados. Eles vão ficando perdidos nos caminhos encobertos pela poeira e preocupações da vida moderna, até se apagarem das mentes frias em definitivo.  Daí a necessidade de serem feitos os anotações históricas do momento atual pensando nas gerações futuras de nossa cidade e região.

O comparativo entre telhas foi uma forma de chamar atenção para o ponto crítico e o descaso com que a história documentada em Guarará e boa parte de nossa região imediata é vista em nível geral. Precisamos evoluir na questão de preservação e na realização de registros visando informações acessíveis sobre diversos assuntos para o futuro próximo.






segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Escadaria do Cemitério

Sua construção ocorreu no mandato do Prefeito Mário Ferreira da Fonseca em 1957, sendo inaugurado oficialmente em janeiro de 1958, juntamente com a remodelação da Praça Raul Soares que, recebeu a construção de um mirante e calçamento de paralelepípedos no entorno para facilitar o acesso ao Cemitério Municipal. Na época das fortes chuvas formavam-se enormes valas em toda extensão da atual escadaria que era de terra batida e assim, inviabilizava o trânsito de pessoas e animais.

O pedreiro contratado pela Prefeitura Municipal para a construção da escadaria e do mirante em frente à Capela de São Sebastião foi o Sr. Antônio Massucato. Mesmo se tratando de uma obra mais recente não foram encontradas fotografias e outros registros visuais que contemplassem o andamento e a inauguração da obra.

De acordo com os Sr Alpheu José Machado, que foi prefeito de Guarará entre 1993-1996, a planta da escadaria foi projetada pelo engenheiro Gumercindo Barroso Machado. Possui 127 (cento e vinte e sete) degraus e 07 (sete) pavimentos (vãos sem degraus) totalizando 87,50 metros de extensão.

Quase no meio da escadaria, temos o imóvel sede da Banda de Música Guarará. Acima temos um vão aberto por onde passa uma rua que dá acesso ao Instituto Dona Selva e a uma das entradas do Estádio Municipal Prefeito Antero Rocha. O entorno é caracterizado por poucas edificações, sendo uma região de morros.

No final da escadaria temos um mirante onde se pode avistar toda área central da cidade e as montanhas que recortam a paisagem geográfica do centro de Guarará. Neste local temos a imponente capela em honra a São Sebastião cuja obra foi concluída em 1889 e aos fundos e na lateral dessa está localizado o Cemitério Municipal de Guarará que recebe sepultamentos desde os primórdios do surgimento de nossa cidade a partir de 1828.


A Escadaria retratada na obra do artista guararense Fernando Cazarim.

A Escadaria ao fundo a partir da Rua Capitão Gervásio em 1983.







segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Capela Nª Sª do Rosário

  

Assim como a Capela de São Sebastião, o templo dedicado a Nª Sª do Rosário foi construído no final da década de 1880 no alto de um morro quase inacessível naqueles tempos. No entorno só havia uma vegetação rasteira e algumas árvores. O local era desprovido de moradias. As poucas casas existentes estavam localizadas ao pé da colina e na margem da rua que se estendia a partir da Praça do Divino sentido ao arraial de São José de Bicas, aonde veio a passar os trilhos da Estrada de Ferro Guararense e depois a linha de bondes.

Uma semelhança muito rara que chama atenção é que parte das obras da Capela de Nª Sª do Rosário, assim como a de São Sebastião, ter sido beneficiada com recursos públicos vindos do governo provincial de Minas Gerais através da Lei n° 3490 de 04/12/1887. Na ocasião ainda não havia a separação entre Igreja e Estado no Brasil, algo que veio a ocorrer a partir de 07/01/1890 através do Decreto n° 119-A.

Num passado remoto chegou a ser conhecida como Capela de Nª Sª do Rosário dos Pretos. Segundo a tradição na sua construção atuaram negros libertos, seus descendentes e escravos que viviam no Distrito do Espírito Santo e arredor. Relatos não confirmados apontam que eles forram liderados no decorrer da obra pelo Padre Manoel José Corrêa, que possuía um sítio na área rural do arraial. Na ocasião ele ainda não era o pároco, função que veio assumir somente em 1892.

A área abaixo onde a capela foi erguida era constituída por poucas moradias e um comércio bem simples. O entorno só começou a ser povoado com mais intensidade a partir da segunda metade da década de 1890. De acordo com o Livro de Posses Concedidas (1895-1923) pertencente ao Acervo Histórico da Câmara Municipal de Guarará, o Padre Manoel José Corrêa vigário da Paróquia do Divino Espírito Santo fez o requerimento para a concessão de uma área de pasto em volta da Capela do Rosário em 15/01/1897. Ele foi atendido pelo Agente Executivo Cel. José Ribeiro de Oliveira e Silva através da chancela de seu secretario interino, o sr. Rodolpho Padilha.

Com o falecimento do Padre Manoel José Correa ocorrido em 1898, pode ser que este local cedido tenha ficado para seus herdeiros, e daí com o passar do tempo possa ter começado lentamente o povoamento do entorno da Capela do Rosário, embora a documentação a respeito do tema ainda seja escassa.

Inicialmente a Capela possuía uma imagem em madeira policromada proveniente da fazenda do Padre Manoel José Corrêa. Segundo seus descendentes a imagem de cedro foi roubada ainda no inicio do século XX. Pouco depois foi adquirida a atual que veio de Portugal e foi alocada no templo em 08 de dezembro de 1923.

Em 1895 o periódico Católico O Apóstolo nº 105 editado na cidade do Rio de Janeiro numa reportagem intitulada “Terra a Dentro” esteve na Vila do Guarará para cobrir os festejos em honra a Nª Sª do Rosário ocorrida em 15/09. A seguir transcrevemos o pequeno texto editado após a visita dos redatores do jornal O Apostolo.

“No alto de uma elegante colina alveja, solitária e poética, a elegante capelinha de Nossa Senhora do Rosário, cuja festividade teve lugar ali no último domingo dia 15 de setembro, com o maior brilho possível. O dia estava esplendido, e tudo concorreu para abrilhantar aquela festa, um dos muitos atos do culto que nunca sofre a mínima quebra no religioso espirito dos mineiros. O elemento da humilde classe dos trabalhadores do campo, os numerosíssimos cidadãos libertos, tomam nessa festa parte vivíssima, juntando aos festejos externos do templo, aqueles tradicionais divertimentos mistos de religião e simples poesia dos antigos costumes do povo de origem. A Congada é uma espécie de melodrama acompanhada de danças, e instrumentos das danças africanas, das quais ainda se acham esses vestígios vivos e talvez imorredouros nos trabalhadores de cor, descendentes daquele gênero da primitiva colonização. Foi assim, em plena república três majestades genuinamente brasileiras compareceram á festa: o imperador e a imperatriz do Divino, e um respeitável rei do Congo, com seus ministros, generais e corte, que deram audiência e receberam embaixadas na frente do templo, depois de finda a cerimônia religiosa. Ao cair da tarde teve lugar a procissão, lindo e elegante espetáculo de uma fila de fiéis que seguiam os andores, ocupando em seu desfilar nada menos de meio quilômetro literalmente cheio de povo. Ao recolher da procissão teve lugar o Te-Deum, havendo sermões ao evangelho e a noite”.  

No decorrer do século XX a capela de Nª Sª do Rosário recebeu várias alterações internas. Sua fachada permaneceu sem grandes mudanças até o momento atual. Entre 2013 sofreu transformações profundas que a descaracterizaram na parte interior devido ao fato de suas paredes laterais estarem em vias de desabar, assim como todo o telhado que estava totalmente condenado a ruir. As novas paredes laterais que foram erguidas desfiguraram a feição interna do altar do templo religioso.

As obras iniciadas em 2013 mantiveram um ritmo lento e ficaram paralisadas nos anos seguintes devido à falta de recursos financeiros. No ano de 2017 a reforma foi retomada por um grupo de voluntários que finalizou a restauração na ocasião da festa de Nª Sª do Rosário, em outubro daquele ano. Infelizmente no decorrer da primeira intervenção emergencial alguns cuidados com as partes removidas do altar não foram tomados e este fator veio a comprometer seriamente a reconstrução dos detalhes anteriores a 2012.


Imagem da década de 1930.

Imagem de 1933.

Reforma na parte externa em 2013. Foto de Antero Souza Rocha.

Detalhes da fachada no início das obras de 2017.

Obras no interior da Capela em 2017.

Pintura externa em 2017.

Detalhes do interior do Templo em 2017.

Pintura da parte frontal em 2017.

Conclusão da pintura frontal em 2017.

Interior da Capela de Nª Sª do Rosário e São Benedito após a reforma de 2017.

Uma bela imagem da Capela de Nª Sª do Rosário e São Benedito com o Cruzeiro a frente em 2020.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Capela de São Sebastião

 

Localizada numa colina tendo de um lado o Cemitério Municipal, do outro as instalações do Instituto Dona Selva e de frente um mirante, onde é possível contemplar parte da área central antiga de Guarará. Possui uma paisagem deslumbrante onde as montanhas recortam um cenário perfeito para reflexão nos fins de tarde ensolarados de verão.

A Capela de São Sebastião começou a ser construída na década de 1880, tendo sido concluída em 1889, conforme inscrição gravada abaixo da sigla SS. A data exata e a documentação do início até o final da construção permanecem desconhecidas.

Uma questão que chama atenção é o fato de parte das obras da Capela de São Sebastião ter sido custeada com recursos públicos do governo provincial de Minas Gerais através da Lei n° 3490 de 04/12/1887. Na ocasião ainda não havia a separação entre Igreja Católica e o Governo Imperial no Brasil, algo que veio a ocorrer somente em 07/01/1890 através do Decreto n° 119-A.

Anteriormente no mesmo local existiu outra capela em proporção muito menor, sob a mesma invocação, na ocasião um pouco recuada para a parte mais alta do cemitério. Na sua frente existiam algumas sepulturas, que foram conservadas com a edificação da nova capela. O número preciso de sepulturas que estão abaixo da atual Capela de São Sebastião é desconhecido visto que, só os túmulos de pessoas mais agraciadas perante a sociedade local daquela época é que foram preservados através da colocação de mármore em suas lápides.  

Um fato curioso é que quando olhamos atentamente a Capela de São Sebastião, ela está com sua face voltada para a área onde se encontra a Matriz do Divino Espírito Santo num vale pouco abaixo. Foi justamente no entorno deste pequeno vale abaixo que teve inicio o povoamento do arraial do Espírito Santo a partir de 1828. Segundo relatos orais, a pequena capela anterior, cujas características são desconhecidas conservava a mesma disposição.

A leitura de um testamento em 25/02/1880 pertencente à Dona Joana Maria da Conceição, proprietária da Fazenda Bom Sucesso, na divisa com a do Desengano, menciona que ela após sua morte desejaria ser sepultada na Capela de São Sebastião. Se tal fato ocorreu ou não, ainda carece de outras pesquisas históricas.

Seu estilo possui traços ecléticos, e o seu interior, apesar do tamanho reduzido, é semelhante ao altar-mor e aos altares laterais presentes na Matriz do Divino Espírito Santo. A grande diferença em relação à Matriz está no arqueamento presente nas laterais que circundam a parte interior. Os arcos são sustentados por uma laje em concreto que é acessada via escada pelo lado direito do altar-mor, proporcionando acesso a todas laterais e a torre onde está o sino.

Atualmente é o templo católico mais bem preservado quanto às feições originais, se comparado com a Matriz e outras Capelas de Guarará, que sofreram fortes alterações estilísticas ao longo de mais de um século de fé e devoção por parte de seu povo. Talvez seu menor desgaste em relação a outros imóveis de uso religioso possa se dar em razão de estar um pouco mais recuada da área central e num ambiente com menor número de residências e pessoas ao redor.

Uma das alterações mais significativas foi à remoção do piso de tábuas por ladrilho hidráulico em 1962. Outra mudança foi à substituição da escada de acesso ao coro em madeira e no momento em concreto armado. Na lateral esquerda próxima a porta há uma inscrição na parede em massa datada de 1934. Ao efetuar uma análise mais detalhada em volta desta marcação não foi possível identificar seu significado.

Em 2004 a Capela passou por uma restauração quanto à pintura interna, externa e dos altares. Os altares receberam ajustes nas partes de madeira. Uma nova rede elétrica foi implantada. Houve grandes retoques no embolso da parte inferior das paredes internas e externas. O forro em madeira foi recuperado e peças do telhado,juntamente com algumas telhas foram substituídas na ocasião.

Pelo seu legado histórico e cultural para a comunidade guararense ao longo de toda sua existência, a Capela de São Sebastião foi inventariada em 2009 como um marco da devoção religiosa de nossa gente valorizando desde os primórdios onde era uma pequena capela de cemitério até chegar ao período recente.

 A seguir apresentamos algumas fotos da Capela de São Sebastião:














Registro muito antigo, mas sem data da parte frontal da Capela de São Sebastião.


Capela de São Sebastião no início da década de 1930.

Imagem de 1902 com a Capela de São Sebastião ao fundo. Esta foto é a mais antiga que temos no acervo.

Década de 1940. No alto do morro observamos a Capela de São Sebastião.